Bolsonaro chama de leviana pergunta da Jovem Pan sobre 'rachadinha', fantasmas e dinheiro vivo

Presidente diz temer que seja realizada operação de busca e apreensão na casa de seus familiares

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) classificou nesta terça-feira (6) de "leviana" uma pergunta feita pela rádio Jovem Pan sobre a suspeita de "rachadinha" no gabinete de um de seus filhos e sobre o fato de ter mantido uma funcionária fantasma quando era deputado federal.

Da mesma forma, o mandatário criticou reportagem do UOL segundo a qual, desde 1990, ele, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, 51 dos quais adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo. "Covardia que fazem com familiares meus", queixou-se ele em entrevista à emissora aliada.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse do ministro Luis Felipe Salomão, no CNJ
O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse do ministro Luis Felipe Salomão, no CNJ - Gabriela Biló - 30.ago.22/Folhapress

O presidente também atacou a jornalista Amanda Klein, que fez a pergunta sobre suspeitas que pairam contra a família presidencial, como no caso das "rachadinhas" e da compra de imóveis em dinheiro vivo.

No questionamento, ela citou compras de imóveis pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o pedido de investigação da Polícia Federal sobre compra de imóvel por uma ex-mulher do mandatário e o fato de ele ter mantido uma funcionária fantasma em seu gabinete quando era deputado, caso revelado pela Folha.

Na mesma entrevista, a jornalista também esclareceu que o voto impresso foi rejeitado pelo Congresso, não pelo Judiciário, e que o delegado do inquérito sobre invasão hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já afirmou que não há indícios de que o resultado de alguma eleição tenha sido fraudado.

"Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como está teu convívio na tua casa com ele. Mas não tenho nada a ver com isso", disse Bolsonaro a Klein, que respondeu que a vida particular dela não estava em pauta, mas sim a de Bolsonaro, por se tratar do presidente da República.

O mandatário, então, rebateu: "Amanda, respeitosamente, essa acusação tua é leviana, tá?". Depois, voltou a criticar o questionamento. "Que fantasma meu, Amanda? Que acusação leviana é essa?", repetiu.

Visivelmente irritado com os questionamentos, Bolsonaro respondeu que não tem mais contato com suas ex-mulheres e que a investigação contra Flávio Bolsonaro foi arquivada. "Flávio comprou 12 imóveis na planta, você paga aquela mixaria por mês, alguns meses depois ele vendeu. A vida dele foi revirada completamente pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, e não chegaram a conclusão nenhuma."

Apesar de dizer que se mantém distante das ex-mulheres, as duas ainda seguem os passos políticos do presidente. Rogéria Bolsonaro, que é mãe dos três filhos mais velhos do mandatário —os três que têm mandato, o vereador Carlos (Republicanos), o deputado federal Eduardo (PL-SP) e o senador Flávio (PL-RJ)—, por exemplo, ainda usa o sobrenome do ex-marido e se filiou ao PL neste ano dentro do prazo que a permitiria disputar a eleição.

Ela chegou a ser cogitada para ser suplente de Romário (PL-RJ), que tenta mais um mandato de senador, mas o plano acabou não indo para frente. Em 2000, ela foi candidata a vereadora do Rio de Janeiro contra o próprio filho Carlos, mas não se elegeu.

Já Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan, o filho homem mais novo do mandatário, é candidata a deputada distrital pelo Distrito Federal e também leva o nome do chefe do Executivo. Foi justamente na declaração de bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para disputar o pleito que surgiu a suspeita de irregularidade na mansão em que mora no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.

Quando foi revelado que ela havia se mudado para a nova residência, ela havia dito que o espaço era alugado. Ao TSE, porém, declarou ser dona do imóvel.

O presidente disse ainda que o termo "em moeda corrente nacional", presente nos contratos dos imóveis de sua família, não quer dizer que envolveu dinheiro em espécie. Ele voltou a falar do marido da jornalista ao afirmar que ele pode ter registrado em seu nome compra de imóveis com a mesma expressão.

Também à Jovem Pan o presidente disse ter medo de que uma operação de busca e apreensão seja determinada na casa de familiares para colar nele a pecha de corrupto. "Fica por isso mesmo? ‘Ah, o cara é corrupto?’ O que posso fazer a 30 dias da eleição? Só falta fazer busca e apreensão em casa de parente meu no Vale do Ribeira. E tenho quase certeza de que vão fazer para ficar aquilo ‘ó, família de corrupto'."

O chefe do Executivo também criticou reportagem da Folha de 2018 que revelou a existência de uma funcionária fantasma em seu gabinete quando era deputado federal.

"Fizeram comigo por ocasião das eleições no passado também, a tal da Wal do Açaí, ‘ah, uma funcionária fantasma em Angra dos Reis’. No dia em que foi flagrada pela Folha numa meia água de açaí, ela estava de férias, segundo boletim administrativo da Câmara dos Deputados, e fica por isso mesmo. O tempo todo ‘a Wal, a Wal, a Wal’, que ganhava um salário mínimo mais auxílio alimentação", disse.

Como mostrou a Folha, a servidora trabalhava em um comércio de açaí na mesma rua onde fica a casa de veraneio do deputado, na pequena Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ).

Segundo moradores da região, o marido dela, Edenilson, e Wal, como é conhecida, também prestavam serviços particulares na casa de Bolsonaro, mas têm como principal atividade um comércio, o "Wal Açaí".

Walderice Santos da Conceição, 49, figurava desde 2003 como um dos 14 funcionários do gabinete parlamentar de Bolsonaro, em Brasília, recebendo salário bruto de R$ 1.351,46.

Os registros oficiais da Câmara dos Deputados mostram que Wal, nomeada secretária parlamentar de Bolsonaro, passou nesses 15 anos por uma intensa mudança de cargos no gabinete —foram mais de 30.

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