Bolsonaro cobra eleição limpa e fala em passar faixa e se recolher em caso de derrota

Presidente diz que se arrepende de fala sobre não ser coveiro na pandemia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira (12) que se arrepende de afirmações ofensivas feitas em relação às mulheres e à pandemia da Covid-19.

Ele também falou em "passar a faixa" caso perca o pleito deste ano, apesar de, em outros momentos da entrevista, ter voltado a defender "eleições limpas" sem explicar qual indício existe de que isso não ocorrerá.

"Se essa for a vontade de Deus, eu continuo. Se não for, a gente passa aí a faixa e vou me recolher, porque, com a minha idade, não tenho mais nada a fazer aqui na terra se acabar essa minha passagem pela política aqui em 31 de dezembro do corrente ano."

A declaração de Bolsonaro foi em tom diferente do de momentos anteriores, quando já adotou falas golpistas, com questionamentos à confiabilidade do sistema eleitoral e ameaça de não respeitar os resultados das eleições.

Na noite de terça-feira (13), Bolsonaro participou de entrevista no SBT, e foi questionado pelo apresentador Ratinho se entregaria o governo, caso perdesse. Bolsonaro voltou a impor uma condicional de "eleições limpas", também sem entrar em detalhes.

"Eleições limpas você não tem o que discutir", disse. "O que não consigo entender é que qualquer lugar que eu vou no Brasil a gente é recebido com muito carinho", prosseguiu, enumerando momentos em que esteve cercado de apoiadores em sua campanha.

O presidente Bolsonaro - Gabriela Biló-30.ago.22/Folhapress

O mandatário também admitiu, no podcast, que "aloprou" ao ter afirmado que não era "coveiro" após ser questionado sobre as mortes pelo coronavírus.

"Dei uma aloprada. Aloprei. Perdi a linha. Aí eu me arrependo", afirmou após pergunta em que também foi mencionada declaração dada em 2021 sobre compra de vacinas "na casa da tua mãe".

"A questão do coveiro eu retiraria. O jacaré foi uma figura de linguagem", disse.

As afirmações foram feitas em entrevista a seis podcasts que têm jovens evangélicos como maior parte do público, segundo os próprios apresentadores.

Bolsonaro também disse que retiraria a afirmação de que teve quatro filhos homens e que o nascimento da filha mulher foi uma "fraquejada".

"Pisei na bola. Pisei na bola. É igual... é comum nós homens falarmos, ‘vai nascer criança, vai ser consumidor ou fornecedor?’. Brincadeira entre homens. Não falo mais isso para ninguém. Para mim pega".

A afirmação é feita em um momento em que Bolsonaro tenta reduzir a rejeição entre mulheres, uma das fatias do eleitorado em que enfrenta maior rejeição.

A declaração sobre ser coveiro foi dada após ser questionado sobre 300 mortes decorrentes da Covid-19 que haviam sido registradas naquele dia. "Quem fala de... Eu não sou coveiro, tá?", respondeu.

Apesar de se dizer arrependido, na entrevista desta segunda-feira, Bolsonaro voltou a defender o chamado tratamento precoce, que é composto por remédios como hidroxicloroquina e foi defendido pelo presidente como a cura para a Covid-19, embora não haja comprovação científica nesse sentido.

Da mesma forma, Bolsonaro defendeu a posição do governo em relação à compra de vacinas, apesar de o Executivo ter deixado de responder ofertas de imunizantes antes de começar a comprá-los.

Em relação às falas ofensivas como a do coveiro, ele disse que tem tentado mudar de postura. "Sou chefe da nação. Eu sei disso. Eu lamento. Não falaria de novo, não falaria de novo. Você pode ver que de um ano para cá meu comportamento mudou. A minha cadeira é um aprendizado", disse.

Bolsonaro disse que parou de dar entrevista à imprensa na porta do Palácio da Alvorada porque era provocado. "Eu parei de falar com a mídia, porque é o seguinte, os caras batiam na tecla o tempo todo, eu não percebia que queriam me tirar do sério", afirmou.

Na entrevista desta segunda, o presidente também voltou a defender o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que foi afastado do cargo após suspeitas de desvios de recursos na pasta.

Em conversa gravada obtida pela Folha, Ribeiro chega a afirmar que o governo federal priorizava prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados por dois pastores que não têm cargo e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro admitiu que indicou um dos pastores para o então ministro e disse que não há indício de que Ribeiro cometeu alguma ilicitude.

"A verdade. Esses dois pastores me procuraram certo dia, muita gente fala comigo, e queriam ter acesso ao ministro Milton que é pastor também. Aí indiquei para o Milton. Aí o Milton resolveu empregar um deles. Tá ok? Como poderia empregar qualquer um de vocês, um parente, um amigo", afirmou.

Bolsonaro também relembrou a carta que escreveu em uma sinalização de paz ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), após tê-lo chamado de "canalha" em manifestações no feriado de 7 de Setembro do ano passado.

O presidente disse que o ex-presidente Michel Temer (MDB), que fez a ponte entre ele e Moraes em 2021, voltou a procurá-lo após o julgamento do deputado bolsonarista Daniel Silveira.

Ele afirmou que nessa segunda oportunidade, negou-se a atender ao apelo do emedebista para apaziguar a relação com o Supremo.

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