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Kim recebe doação de assessores de aliados e agora diz que dinheiro será devolvido

Após questionamentos da Folha, deputado diz que dinheiro foi estornado de sua campanha à reeleição para deputado

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São Paulo

Crítico do uso de verba pública nas campanhas e membro de movimento contrário ao loteamento de cargos, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) recebeu por volta de R$ 200 mil em doações de servidores que, em sua maioria, estão em cargos políticos na máquina pública de São Paulo.

Várias das pessoas que fizeram as doações têm proximidade ou são indicados pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite, manda-chuva da União Brasil no estado.

Entre os doadores a reportagem localizou funcionários que atuam em gabinetes da Câmara de São Paulo, Assembleia Legislativa, subprefeituras, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) da capital e a Dersa, do estado. Teve doação que ultrapassou 60% do salário bruto do funcionário.

O deputado afirmou que os valores já estavam separados para estorno e, após contato da Folha, o processo teria sido acelerado e concluído.

O deputado Kim Kataguiri durante reunião na Câmara dos Deputados
O deputado Kim Kataguiri durante reunião na Câmara dos Deputados - Billy Boss/Câmara dos Deputados

Kim se diz contrário ao uso de dinheiro público nas campanhas e foi um grande opositor da criação do fundo eleitoral. O MBL (Movimento Brasil Livre), do qual o deputado faz parte, tem um discurso contra o loteamento de cargos.

Parte importante das doações privadas que seu mais importante membro recebeu, porém, são repasses privados, mas de pessoas em cargos de comissão.

As doações estão creditadas à direção municipal/comissão provisória do partido. O principal dirigente do partido no estado é Milton Leite, patriarca de uma dinastia política, que tem forte influência nas máquinas estadual e da capital.

Na lista de doadores, por exemplo, estão o chefe de gabinete da Presidência da Câmara, Alessandro de Oliveira Braz; Priscilla Leonora Trinci, assessora do deputado estadual Milton Leite Filho (União); e Fernando Alves de Araújo da Costa, secretário parlamentar do deputado federal Alexandre Leite (União).

Enquanto a União envia verba do fundo especial para as campanhas dos dois filhos de Leite, a candidatura de Kim, outra aposta da sigla, recebeu verba do partido que veio dos servidores próximos à família.

Também há funcionários da prefeitura, como Marco Antonio Furchi, subprefeito de Parelheiros, bairro no extremo sul da capital que é reduto eleitoral da família Leite.

Também estão entre os doadores Amanda Novelli Barros, que já foi secretária parlamentar de Alexandre Leite e consta hoje na lista de funcionários da Dersa, empresa responsável por rodovias no governo estadual.

Em vários casos, as doações tomam parte considerável dos salários. Por exemplo, o gerente na CET Julio Cesar Lopes Fuda tem salário bruno de cerca de R$ 23 mil. Segundo o site da Justiça Eleitoral, ele doou R$ 15 mil, 63% da renda.

A Folha procurou Fuda para saber por que doou parte tão significativa da renda e questionou se há algum pedido do partido. "Fiz a doação para o partido porque acredito na União", disse o gerente da CET, que em suas redes demonstra apoio à família Leite.

Mariana Robles Fernandes, que consta como assessora da liderança da União na Assembleia, teve remuneração bruta de R$ 25 mil em julho. Segundo a Justiça Eleitoral, fez doação de R$ 10,2 mil, o que representa 40% do salário.

A reportagem questionou a assessoria de Kim se as doações dos servidores não contrastam com o discurso que mantém. A equipe do parlamentar, em nota, afirmou que não sabe quem são os doadores ou pediu as doações, mas que estava ciente dos recursos e que estavam separados para estorno.

"Apesar de não ser ilegal receber doação de funcionário público, isso não passa na análise que fazemos dos doadores. Estávamos no aguardo do partido para dar o destino correto e após o contato de vocês, aceleramos o processo e o dinheiro já foi para o destino correto", afirmou Kim, por meio da assessoria.

Posteriormente, o parlamentar divulgou um vídeo criticando a reportagem e afirmou que houve um erro.

"Essa doação não era para mim. Isso foi um erro do partido. Nós já sabíamos que essa doação não era para a gente. Já estávamos provisionando esse recurso, a gente não gastou esse recurso porque não sabia não era nosso. E nós já devolvemos esse recurso para o partido. É uma coisa normal ter uma confusão", disse.

Na plataforma Divulgacand, da Justiça Eleitoral, ainda não havia atualização sobre a devolução do dinheiro até esta quinta-feira (15).

A reportagem também procurou a assessoria de Milton Leite e questionou se há alguma espécie de obrigatoriedade para se doar.

"Não é obrigatório e nunca houve obrigatoriedade alguma nas contribuições dos filiados ao partido, que o fazem por vontade própria e como pessoa física como previsto pela legislação eleitoral vigente", afirmou, em nota.

No comunicado, ele ainda negou que haja obrigatoriedade de doação. "Por serem filiadas ao União Brasil, as pessoas físicas contribuíram financeiramente para o partido, que, também como o previsto pela legislação eleitoral, repassou os recursos ao candidato."

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