Lula sempre foi fascistoide, diz Ciro em meio a pressão por voto útil

Pedetista concedeu entrevista ao podcaster Monark, desligado do Flow após defender que nazistas deveriam ter o direito de ter um partido

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Brasília

Em meio à ofensiva petista pelo voto útil, o candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta quarta-feira (21) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "sempre foi fascistoide".

Ciro deu as declarações durante participação no programa do podcaster e youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, desligado do Flow após defender o direito de existência de um partido nazista.

Candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes
Candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, em evento em Brasília - Xinhua/Lucio Tavora

O pedetista explicava sua proposta de taxar grandes fortunas quando atacou o adversário nas eleições. "Qual é meu problema? Os super-ricos sabem quem eu defendo isso e estão matando a pau porque eu não tenho nem direito de ser candidato. Se depender do fascismo de esquerda aí, nem direito de ser candidato, para o povo ter uma opção e eu poder falar, nem mais isso eu devo ter."

"Fascismo puro, isso que o PT e o Lula estão administrando contra o fascismo do [presidente Jair] Bolsonaro. É o fascismo na veia que sempre foi. O Lula sempre foi fascistoide."

Ciro também rebateu críticas que costumam ser feitas sobre o fato de ter viajado a Paris (França) depois de ficar em terceiro lugar no primeiro turno das eleições em 2018. O pedetista voltou ao Brasil para votar no segundo turno.

"Eu estava aqui e votei, fui filmado", disse. "Eu viajei para não fazer campanha porque eu tava doente. É meu direito de cidadão", continuou.

A seguir, o pedetista falou sobre o inquérito que investigava o empresário Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, por supostos repasses ilegais da Oi às empresas do grupo Gamecorp. Em janeiro deste ano, a Justiça Federal da 3ª Região arquivou o caso.

"Ele fala do Bolsonaro, mas seu filho também enriqueceu na política", disse Ciro, citando a Gamecorp. Como um cara que era zelador de um zoológico de São Paulo faz negócio com a Telemar [incorporada pela Oi] de R$ 5 milhões há 20 anos?", questionou.

Ao longo das duas horas de entrevista, Ciro direcionou o grosso de suas críticas a Lula, a quem acusou de ter R$ 20 milhões em sua conta através do Instituto Lula. "Ele é o dono de 99,9% das cotas e um pau mandado dele é o dono de 0,1%", afirmou. "Ele que usa o dinheiro para o que ele bem quiser. Vai ver do que foi: 100% empreiteira."

Na sequência, Monark afirmou que o melhor cenário para o segundo turno seria uma disputa entre Ciro e Bolsonaro. "Eu sei que Bolsonaro é um m..., mas o Lula...para mim parece muito absurdo uma sociedade que aceita ter um presidente que estava envolvido no maior esquema de corrupção da história do planeta, talvez", disse o podcaster.

"Se o Brasil elege um cara desse [Lula] sem nem sequer obrigá-lo a se explicar, nós não teremos a menor moral nessa geração para ensinar para a juventude, para os nossos filhos, para os nossos netos que o crime não compensa", disse.

Na entrevista, Ciro foi questionado sobre o "que faria para o STF (Supremo Tribunal Federal) obedecer a Constituição" —crítica que costuma ser feita por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O pedetista falou sobre a mistura entre chefe de Estado e chefe de governo que ocorre no presidencialismo.

"Quando o presidente da República, enquanto chefe de Estado, jura, para tomar posse, a Constituição, ele promete cumprir e fazer cumprir a Constituição", disse.

"Eu, certamente, se fosse uma intrusão do Supremo na minha tarefa de chefe de Estado, eu imediatamente diria: 'não, isso aqui não será obedecido porque eu não só jurei cumprir a Constituição, como jurei fazer cumprir a Constituição. Portanto, essa ordem é inconstitucional e eu, exercitando o controle da constitucionalidade dos atos, rogo à vossa excelência que revogue esse ato, porque ele não será cumprido porque violenta a Constituição."

A retórica agressiva adotada por Ciro contra Lula nas últimas semanas tem levado a dissidências de apoiadores famosos. O petista lidera as pesquisas de intenção de voto e, neste momento, aparece com chances de obter mais de 50% dos votos válidos, o que lhe daria a vitória já no primeiro turno.

Mais cedo, em sabatina realizada pela FAAP e pelo jornal O Estado de S. Paulo, Ciro criticou o "fascismo de esquerda liderado pelo PT" e antigos aliados como Caetano Veloso e Tico Santa Cruz, que, recentemente, declararam apoio a Lula.

O podcast de Monark tem audiência cativa na plataforma de compartilhamento de vídeos Rumble. Com a participação, Ciro tenta atingir principalmente o público jovem e de centro-direita.

Em suas redes sociais, Monark costuma criticar Lula e defender a liberdade de expressão. Em 18 de setembro, fez uma postagem na qual afirmou que se Lula ganhar as eleições, "vamos ter um Brasil onde o presidente estava provavelmente envolvido no maior esquema de corrupção da história brasileira, foi condenado em três instâncias por isso", escreveu.

Dois dias antes, ele também criticou o ex-presidente. "Se você acha o Bolsonaro um mito, você é cego, agora se você acha ele pior que o Lula você também é cego. Desculpa aos que se ofenderam, mas Lula não dá. Lula é um mafioso do mais alto calibre, servo da oligarquia."

No dia 10 de setembro, escreveu: "Melhor segundo turno seria Bolsonaro vs Ciro Gomes, Lula não merece sequer ir para o segundo turno na minha opinião, de fato ele nem deveria está disputando, foi solto por uma manobra política do judiciário."

Ciro foi o único presidenciável a participar do podcast. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e a senadora Simone Tebet (MDB) deram entrevista ao podcast Flow. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ao PodPah.

Monark foi demitido do Flow em fevereiro deste ano após defender o direito de existência de um partido nazista. "A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei", disse em programa que teve a participação dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP).

Diante da repercussão da declaração, o podcast emitiu comunicado oficial sobre o desligamento do YouTuber. O episódio foi tirado do ar. Monark se pronunciou em seguida e afirmou que a frase foi tirada de contexto. Em fevereiro, logo após o episódio, Tebet apresentou no Senado um projeto para criminalizar a apologia ao nazismo.

Em junho deste ano, o podcaster disse ter se arrependido de ter pedido desculpas no caso do nazismo. Ainda irritado com a repercussão do episódio, Monark também afirmou em uma rede social que votaria em Bolsonaro e faria campanha para o presidente se a mídia continuasse falando mal dele.

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