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Lula vê intolerância e ódio em assassinato de apoiador por bolsonarista em MT

Bolsonarista foi preso após matar apoiador do ex-presidente em discussão política

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Rio de Janeiro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou termos como intolerância, ódio e selvageria ao se referir nesta sexta (9) ao assassinato de um apoiador por um bolsonarista um dia antes em Mato Grosso.

"É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na zona rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e aos amigos de Benedito", escreveu o petista em uma rede social.

Em seguida, no Rio, disse que "o país caminha para uma selvageria que até então desconhecíamos". "É uma demonstração do clima de ódio estabelecido no processo eleitoral. Uma coisa totalmente anormal."

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O ex-presidente Lula (PT) ao lado de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do deputado Marcelo Freixo (PSB) durante encontro com evangélicos em São Gonçalo (RJ) - Marlene Bergamo/Folhapress

O petista ainda afirmou esperar que a polícia esteja atenta, assim como a Justiça Eleitoral, à possibilidade de que o crime tenha sido feito a mando de alguém, "por orientação, ou se é uma estratégia de política".

Questionado se aceitaria discutir uma trégua com Jair Bolsonaro (PL) para reduzir o acirramento do clima político, Lula disse: "O problema é que ele não vai reconhecer que é da parte dele. Como se pode fazer uma trégua? Se tiver trégua, peço para o [candidato a vice na chapa petista Geraldo] Alckmin negociar".

Nesta quinta, em Confresa, a 1.160 km de Cuiabá, um homem que defendia o ex-presidente Lula foi morto por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão.

O autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele confessou, de acordo com a polícia, ter matado com facadas no rosto o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política.

Ainda segundo a polícia, o agressor também tentou decapitar a vítima e, após o crime, filmou o cadáver.

Além de Lula, outros candidatos à Presidência comentaram o crime. O pedetista Ciro Gomes atribuiu o assassinato ao que chamou de "guerra fratricida e polarização odienta". "Mais uma vítima da guerra fratricida, semeada por uma polarização irracional e odienta que pode inundar de sangue o nosso solo", escreveu o presidenciável em seu perfil no Twitter. "Abaixo a violência política. O Brasil quer paz."

A senadora Simone Tebet (MDB) responsabilizou Bolsonaro pelos casos de violência política, dizendo que ele "estimula o ódio", e pediu ao chefe do Executivo que "dê um basta nisso". "Ele estimula o ódio, instiga por meio de fake news, das redes sociais. É preciso que ele dê um basta. Nenhum filho pode dormir sem o pai por uma briga fratricida por questões políticas", disse a candidata durante agenda no interior paulista.

A assessoria da senadora também divulgou áudio no qual ela expressa temor em relação ao futuro do ciclo eleitoral. Tebet afirma que a campanha "está só começando" e ainda há mais 15 dias antes do pleito.

No Twitter, a também senadora Soraya Thronicke (União Brasil) também condenou o crime. Escreveu que o país está "regredindo de mãos dadas com a barbárie" e que "tem gente morrendo no Brasil por causa de adversidade política e partidária". "Enquanto eles brigam, quem apanha é o povo brasileiro. Envergonham o país com corrupção, nos distraem com a polarização e, além disso, derramam sangue alheio."

O assassinato do apoiador de Lula ocorreu na madrugada de quinta, numa fábrica de cerâmica localizada na zona rural do município de 32 mil habitantes. A decisão da prisão preventiva foi assinada pelo juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes e divulgada em audiência de custódia na tarde desta quinta.

Na decisão, o magistrado afirma haver, com base nos depoimentos dos policiais que realizaram a prisão e na confissão de Oliveira, "prova da materialidade e indícios suficientes" da autoria do crime.

O juiz ainda classificou o ocorrido de "reprovável" e citou que a intolerância poderá regredir a sociedade aos tempos da barbárie. "Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável", afirmou.

A deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), atribuiu a morte a um suposto "comando de violência" dado por Bolsonaro. "A um dia de completar dois meses do assassinato do Marcelo Arruda, do PT, por um bolsonarista, outro bolsonarista assassinou com facadas um apoiador de Lula. O comando de violência que Bolsonaro dá para extirpar Lula e os petistas leva a isso. O assassino é você, Bolsonaro."

Episódios ligados a ameaças e ataques relacionados à disputa eleitoral têm se acumulado no Brasil desde a pré-campanha. Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).

Depois, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.

A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para a campanha deste ano.

Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça que tratava genericamente da necessidade de proteger os postulantes ao Palácio do Planalto.

Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e por ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos na disputa.

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