Na cidade de Lula, opinião sobre auxílios de Bolsonaro é guiada por voto

Lulistas acusam governo de compra de apoio, enquanto bolsonaristas veem pertinência nos benefícios

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Garanhuns (PE)

"Compra de voto. Mais nada. Se Lula ganhar, no outro dia a gasolina já estará mais cara. É coronelismo."

Enquanto espera para abastecer o carro em Garanhuns (PE), terra natal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a professora Jaciara Alves, eleitora do petista, destila críticas à gestão Jair Bolsonaro (PL) pelas políticas na área. Para ela, a queda no preço dos combustíveis desde julho é uma medida eleitoreira.

Posto de combustíveis em Garanhuns (PE), onde Lula nasceu - Luara Olívia/Folhapress

Já a avaliação de Elias Peixoto, 45, colide com a de Alves, reproduzindo a polarização nos discursos sobre as medidas tomadas pelo governo às portas do pleito. Sem poupar elogios ao presidente, o advogado vê Bolsonaro como o responsável pela queda no preço da gasolina, cujo litro oscila de R$ 4,95 a R$ 5,33 ali.

"Atribuo ao nosso mito, Bolsonaro. Chegou na hora certa a unificação dos impostos dos combustíveis. Estava um absurdo, chegou a quase R$ 9 aqui. O preço estava alto antes graças aos absurdos que existem nos estados. E vai baixar mais", afirma Peixoto, em alusão ao teto para o ICMS dos estados.

A Folha ouviu em Garanhuns parcelas afetadas por ações na área econômica, como caminhoneiros, taxistas e condutores de carros e motos. Uma série de reportagens acompanha desdobramentos da corrida presidencial na cidade pernambucana e em Eldorado (SP), onde Bolsonaro tem raízes.

De maneira geral, quem apoia Lula classifica o expediente do governo como tentativa de compra de votos, enquanto eleitores do rival pregam que o atual chefe do Executivo fez o que era possível em meio à pandemia e à Guerra da Ucrânia —ainda que alguns bolsonaristas tenham ressalvas sobre os auxílios.

Entre os caminhoneiros, categoria favorecida por parcelas mensais de R$ 1.000 até dezembro, o benefício é visto de forma positiva. No entanto, há controvérsia sobre o momento escolhido pelo governo.

Apoiador de Lula, o caminhoneiro Álvaro Putu, 62, dirige nas estradas brasileiras há cerca de 30 anos. A admiração pelo ex-presidente vem, segundo ele, por um crédito de governos do petista à categoria. Foi por meio do benefício que Putu diz ter conseguido comprar um caminhão melhor para trabalhar.

O caminhoneiro reclama que foram mais de três anos de aperto no preço do diesel e que apenas na reta final o atual governo prestou assistência. O litro desse combustível custa na casa de R$ 6,60 em Garanhuns. "Isso foi para que o pessoal vote nele, para depois seguir na miséria que está. [Após a eleição] aumenta, ele fala por ele mesmo. É até o dia 31 de dezembro", diz Putu sobre Bolsonaro.

Do lado bolsonarista, Jaedson Lima, 31, que também é caminhoneiro, tem ressalvas à queda dos preços. Mesmo apoiando a reeleição, o transportador entende que a diminuição se deu em razão da disputa.

"Os preços estão voltando ao normal, mas ainda não está [tudo] normal. Eu creio que, quando passar a eleição, o preço vai dobrar. Pode ter certeza, [é] só por causa das eleições, para não prejudicar", afirma.

Lima diz que ainda apoia Bolsonaro, mesmo em meio às dificuldades econômicas, porque, para ele, o presidente é boicotado pela estrutura de poder. "Ele tenta botar no acerto, mas todo mundo quer tirá-lo. Ele foi uma das pessoas que mais descobriram lavagem de dinheiro, essas coisas, aí ninguém quer."

Reproduzindo a sensação de bolhas no entorno dos dois lados da polarização, os caminhoneiros ouvidos pela reportagem dizem ver maioria a favor do seu candidato entre colegas de profissão. Tanto do lado lulista quanto no espectro bolsonarista há a sensação de adesão majoritária ao seu postulante.

O taxista Antônio de Barros Araújo, 77, recebeu em agosto a primeira das cinco parcelas mensais do auxílio de R$ 1.000 para a categoria. Ele, contudo, tem ponderações: "Para que R$ 1.000 nas mãos de taxista? Não era melhor investir na saúde e na educação?"

Outro taxista, que não quis se identificar, celebra o benefício, mas diz que o auxílio veio tarde, já que a fase mais difícil foi o auge da pandemia. Ambos são eleitores do PT. "A vida toda votei em Lula", diz Araújo.

Na mesma praça, o representante comercial Paulo Ricardo Lima, 25, eleitor de Bolsonaro, diverge do entendimento de que os auxílios têm cunho eleitoreiro. "Seja na política municipal, estadual ou nacional, quando chega perto da eleição tem coisas que [políticos] fazem para ter a base de votos ampliada. Se foi [eleitoreiro], não sei. Mas não só por isso, tem uma questão de necessidade", afirma.

A aprendiz Istherfany Pereira, 18, replica o discurso presidencial de que a pandemia foi um dos fatores que atrapalharam o governo. "Foi muito conturbado, infelizmente, em razão da Covid", diz ela, que é evangélica. A família de Pereira é uma das 25.953 em Garanhuns contempladas com o Auxílio Brasil.

Em Eldorado, no interior de São Paulo, os indícios são de que os benefícios não interferem na decisão de voto. Igualmente, as respostas sobre o tema se moldam conforme a preferência eleitoral.

O taxista Augusto Vieira Soares, 61, usou os R$ 2.000 que recebeu —uma parcela nova e uma retroativa— na reforma que estava fazendo em sua casa. Fiel da Assembleia de Deus Ministério do Belém, ele já votaria em Bolsonaro devido à bandeira da defesa da família e não vincula os benefícios à eleição.

"[A liberação] é por causa da crise, da alta dos combustíveis e da situação, né? Todo mundo passando por dificuldades", diz. Ele vê na pecha de compra de votos um desejo de criticar Bolsonaro, mas contemporiza: "Não é só ele. Todo governo na época política dá um jeitinho de querer ajudar mais o povo, né?".

O município tem 27 taxistas aptos a sacar o auxílio e 1.390 famílias atendidas pelo Auxílio Brasil.

Beneficiária do programa, a desempregada Carina Moreira de Lima Camargo, 27, nunca votou no PT nem cogita escolher Lula desta vez. Ela, que faz bicos de faxineira, não descarta Bolsonaro, mas ainda estuda as candidaturas. Com uma filha de 7 anos, diz que pode haver interesse eleitoral por trás do reajuste, mas que esse não será o ponto determinante para definir se apoiará ou não o atual ocupante do Planalto.

Ela, que afirma ser pouco ligada em política, admite a chance de anular ou votar em branco. Sua vida "continuou igual" com Bolsonaro na Presidência. "Não acrescentou nada, como se diz."

Colaborou Joelmir Tavares, de Eldorado (SP)

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