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Abstenção e fake news preocupam campanha de Lula na reta final

Aliados programam atuação vigilante nas redes sociais e corpo a corpo para garantir presença nas urnas

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Brasília e São Paulo

O comitê eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entra na última semana de campanha com a expectativa de que haja uma enxurrada de ataques por parte do adversário Jair Bolsonaro (PL) e com a missão de evitar o aumento do índice de abstenção nas urnas.

A orientação —traçada em reuniões da campanha— é manter vigilância constante nas redes sociais para rebater a disseminação de notícias falsas; e atuar nas ruas, até mesmo de porta em porta, e em locais próximos a igrejas, para ressaltar a importância do comparecimento dos eleitores no dia 30 de outubro.

Um dos panfletos que serão distribuídos tem uma passagem bíblica e termina com a seguinte frase: "Minha fé é em Cristo. Meu voto é em Lula."

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em caminhada por Teófilo Otoni (MG), acompanhado de Marina Silva (Rede) e Simone Tebet (MDB) - Marlene Bergamo -21.out.22/Folhapress

Nesta última semana, a campanha continuará com o foco nos estados do Sudeste e não está descartada uma nova ida de Lula a Minas Gerais. Recém-incorporada à campanha, a senadora Simone Tebet (MDB) deverá assumir agenda no estado.

Lula terminou o primeiro turno com 48,43% dos votos válidos, ante 43,20% de Bolsonaro.

Faltou 1,8 milhões de votos para que o petista conseguisse liquidar a fatura no último dia 2 de outubro.

No primeiro turno, 20,9% dos eleitores faltaram à votação, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Aliados de Lula dizem que tradicionalmente o número de faltantes aumenta no segundo turno, o que gera preocupação.

A ideia é investir em regiões onde Lula tem grande potencial de crescimento, mas houve alto nível de abstenção no primeiro turno. Isso inclui o interior de Minas, além de Norte e Nordeste do Brasil.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), diz que haverá atuação para estancar as abstenções.

"[Vamos evitar abstenção] Chamando as pessoas para ir votar, isso é muito importante, principalmente nos lugares onde a abstenção foi maior", diz.

O ex-governador Flávio Dino (PSB-MA), eleito senador, conta que há mais de 100 atos programados para a semana só no Maranhão, onde Lula teve alto índice de votos.

"A diferença está boa e vamos ganhar. Não é uma lavada, mas essas eleições com a extrema-direita no mundo não têm sido lavadas", avalia Dino.

O ex-governador do Piauí e senador eleito Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula, concorda que a atenção com a abstenção é um dos pontos principais da reta final.

"Em tese temos bem acima dos 50% mais um voto para vencer. Precisamos do esforço para que eleitores e eleitoras possam comparecer e votar", afirma.

A proposta do ministro Paulo Guedes (Economia) de mudança no critério de reajuste do salário-mínimo e aposentadorias merecerá destaque na última semana. Como antecipou a Folha, o governo Bolsonaro estuda propor a desvinculação da correção do mínimo com a inflação —abrindo espaço para reajustes abaixo da inflação.

Com a abordagem do tema, a intenção é levar a economia para o centro do debate. Gleisi afirma que a campanha vai insistir nessa pauta "que é a vida do povo".

Segundo ela, é "muito preocupante" que a equipe econômica esteja preparando uma proposta que visa mudar a correção do salário mínimo. "Não vai mais ser pela inflação que se realizar, mas pela meta da inflação do ano que vem. Ou seja, essa gente mostra que não tem nenhum compromisso com o povo. E o que fizeram agora foi exatamente a questão do pacote eleitoral", disse.

Na noite de sexta-feira (21), Lula participou de uma live promovida pelo deputado André Janones (Avante-MG) para criticar a proposta. O plano é ampliar esse debate durante a última semana da corrida presidencial.

A atenção com a mobilização nas redes sociais continuará forte nesta última semana —principalmente nas 48 horas que antecedem o dia da votação.

A campanha reconhece que esses dois últimos dias foram decisivos e impactaram no resultado do primeiro turno, principalmente por um aumento na disseminação de notícias falsas contra Lula.

Mesmo que o TSE tenha tomado medidas para tentar arrefecer os disparos neste período, a apreensão segue alta.

Agora para o segundo turno, a campanha estuda fazer uma espécie de maratona contra fake news que mobilize a classe artística, políticos e figuras públicas que apoiam Lula.

Como a Folha mostrou, o comitê eleitoral do ex-presidente ainda tenta desatar nós para a reta final do segundo turno, e a dificuldade de reagir aos ataques nas redes, especialmente à proliferação de fake news, é apontada como uma das principais deficiências da campanha.

"Essa gente está trabalhando nisso desde 2013, né? É na cartilha de Steve Bannon [ex-assessor de Donald Trump]. Então eles têm uma estrutura muito grande", disse Gleisi.

Um aliado de Lula defende que a campanha não pode cair nas provocações de seu adversário e que ela deve continuar pautando a eleição a partir de temas "da vida do povo", como fome e desemprego.

Ele diz que é preciso se defender dos ataques e fake news, mas que isso não pode tomar muito tempo das peças que são exibidas no rádio e na TV. Na avaliação desse aliado, é preciso ampliar ainda mais o escopo do eleitorado a ser atingido nas peças da propaganda eleitoral.

Na manhã deste domingo (23), o petista deverá fazer um segundo encontro com comunicadores na tentativa de mobilizar a militância e traçar estratégias de atuação. Em vídeo disparado, o ex-presidente convoca influenciadores para a reunião e diz que eles sabem que "podem fazer a diferença".

"Espero vocês para a nossa conversa que será a conversa que vai definir a nossa vitória na campanha", finaliza Lula no filme.

O debate presidencial da TV Globo, que será realizado na sexta-feira anterior ao dia da votação, também é considerado de grande importância para a campanha de Lula. Para se preparar, o petista deverá trancar sua agenda na quinta e na sexta.

Em um cenário apertado, Lula tentará atrair o eleitor indeciso. Em reunião com comunicadores na terça-feira (18), a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) pregou o diálogo com aqueles que têm dúvidas sobre o voto no ex-presidente.

"Agora é a hora de conquistar o voto de quem não pensa exatamente igual a gente, de quem tem dúvidas sinceras sobre o que fizemos ou sobre o que podemos fazer. Agora é menos hora de lacrar. E mais hora de conversar", afirmou.

Na mesma reunião, o senador Randolfe Rodrigues (Rede) recomendou que militantes exaltem as qualidades de Lula nas redes, enfatizando os pontos fracos de Bolsonaro.

"A nossa militância não pode ter medo. Então, evitem compartilhar mensagens que amedrontem a militância a ir às ruas. Tudo o que fascismo bolsonarista quer é nos intimidar", aconselhou.

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