Bolsonaro apela a ex-presidenciável classificado por Carlos como 'coach malandrão'

Pablo Marçal fez live ao lado do presidente e instruiu apoiadores a deixar reputação de lado nessa reta final de campanha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados promoveram nesta quinta-feira (13) uma live ao lado do ex-presidenciável Pablo Marçal, que prometeu um treinamento para que influenciadores digitais do bolsonarismo consigam votos de indecisos nessa reta final da eleição.

Na live, Marçal passa missões para os apoiadores, pede a eles para "deixar a reputação de lado", fala em necessidade da reeleição do presidente para que não seja preciso "pegar em armas" e convoca um "arrastão digital" tendo como alvo os principais veículos de comunicação do país.

Bolsonaro e Marçal sentados
Jair Bolsonaro (PL) participa de live ao lado do ex-presidenciável Pablo Marçal, que obteve votos para ser eleito deputado federal pelo Pros de São Paulo - Canal O Grito da Liberdade no YouTube

O evento, realizado no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi anunciado previamente por Marçal e pelo próprio Bolsonaro como sendo fechado, mas foi transmitido pelo canal oficial do presidente no Facebook. Depois, o vídeo foi apagado.

Também nesta quinta, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e responsável pela estratégia digital da campanha do pai, foi às redes sociais dizer, sem citar o nome do ex-presidenciável, que Marçal está na verdade atrás de dinheiro.

"Se tem gente pra somar é sempre muito bom, entretanto tem malandro de última hora se colocando como o tal do digital, mentindo para ganhar outras coi$a$", escreveu o filho do presidente no Twitter.

"Quem tem boca fala o que quer, você acreditar é outra coisa! Estava quieto, mas não há limites para a malandragem destes! Pode mentir em entrevista, se promover, dar uma de Coach malandrão, só que aqui não!"

Pablo Marçal se notabilizou anteriormente por ter liderado uma expedição de 32 pessoas por uma área montanhosa em São Paulo como parte de seu programa de coaching motivacional.

Tendo ignorado regras de segurança e advertências de guias especializados, ele acabou colocando em risco a vida das pessoas, que enfrentaram péssimas condições climáticas e acabaram tendo que ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros.

Neste ano, ele se lançou candidato à Presidência da República pelo Pros, bancado pela antiga direção do partido que, como mostrou a Folha em reportagens, é suspeita de ter tentando comprar decisões judiciais favoráveis.

Em um dos áudios obtidos pela Folha, o então presidente do Pros, Marcus Holanda, diz que Pablo lhe havia prometido R$ 200 milhões vindos de uma "vacona" de R$ 100 ou R$ 200 que iria realizar com alunos de cursos motivacionais e com seus mais de 2 milhões de seguidores no Instagram. Pablo nega ter feito a proposta.

A direção do partido acabou sendo afastada e o Pros, sob novo comando, aderiu formalmente à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pablo viu inviabilizada a candidatura à Presidência e se lançou a deputado federal, tendo obtido 243 mil votos. Ele teve a candidatura deferida somente depois do pleito e deve assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Na live ao lado de Bolsonaro, o coach afirma que está havendo um "jogo sujo" e diz que ele dará o treinamento e as orientações sobre como os influenciadores, micro, pequenos e médios, devem agir.

"Nós vamos treinar o batalhão. Por mais que o presidente, ele é um militar, ele não gosta que se fale dessa forma, mas eu quero te falar: vocês estão sendo convocados por mim. Ele vai falar 'convidados'. Mas eu vou falar: é convocação! Para a gente um dia não precisar pegar em armas, para um dia a gente não ficar louco querendo o país de volta", afirma o coach.

Pablo Marçal diz ainda que os apoiadores devem "colocar a sua reputação um pouquinho de lado". "Deixa eu te explicar por que. Esse homem aqui [aponta para Bolsonaro], ele tem colocado há muitos anos a a reputação dele [de lado] para a gente viver livre desse esquerdismo, desse socialismo enrustido, desse comunismo que tem atrapalhado o avanço desse país", diz.

Ao longo do vídeo, que teve a participação também de vários apoiadores, entre eles a deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), são passadas missões, entre elas a de que os apoiadores participem de um "arrastão digital" nos 20 principais meios de comunicação —não cita nomes— que ficam "denegrindo a imagem do capitão Bolsonaro com mentiras".

A missão, prossegue o texto, é defender o presidente nesses canais, incluindo a tarefa de curtir comentários de outros influenciadores nessas plataformas.

Em nota enviada por meio da assessoria, Pablo Marçal afirmou que a ideia da live foi sua e que a recomendação de deixar a reputação de lado tem a ver com os relacionamentos sociais dos apoiadores.

"Quando você vive em função da sua reputação, vive na condição de ter que agradar os outros e não tem coragem de dizer a verdade. Você entra num sistema corrompido de querer agradar as pessoas de forma falsa para não sofrer nenhum tipo de ataque. Caso contrário, você acaba perdendo para o sistema que controla tudo, pois 80% da mídia é esquerdista, tem narrativas ideológicas e ela vai atacar todo mundo que quiser defender o presidente."

Ele não respondeu se está sendo remunerado para trabalhar na campanha e disse que as críticas de Carlos Bolsonaro são legítimas de um filho que defende e protege o pai.

Na quinta, Marçal já havia divulgado nota elogiosa a Carlos, afirmando que ele é "o escudeiro número 1 do presidente" e que esse é o método dos Bolsonaro para "validar as pessoas que chegam perto do presidente" e de "colocar para correr pessoas que não são de verdade".

Só o tempo prova as relações, acrescentou, dizendo que as declarações do filho do presidente o deixam mais animado a participar da campanha.

A campanha de Bolsonaro e o Palácio do Planalto não quiseram se manifestar.

A nova direção do Pros, que apoia Lula, disse que não tem relação política com Pablo e que espera que ele deixe o partido o mais brevemente possível.

"Pablo está perdido politicamente. Tentou a todo custo se aproximar da campanha do Lula quando ainda se colocava candidato a presidente pelo grupo que deu o golpe no Pros. Como não conseguiu, agora busca holofote no palanque bolsonarista. Desespero define", afirmou Felipe Espirito Santo, presidente da fundação do Pros e membro da coordenação da campanha Lula.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.