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Bolsonaro chora na TV e diz, sem provas, que Lula quer mudar lei do aborto

Presidente enfatiza pautas de costume e da família para atacar adversário petista

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São Paulo

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) enfatizou pautas de costume e da família, temas caros à base de apoio do presidente, para atacar o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na propaganda eleitoral da televisão desta sexta-feira (14).

A peça afirmou, sem provas, que o petista quer mudar a lei do aborto para "incentivar a mãe a matar o próprio filho".

O programa de Bolsonaro resgatou falas antigas de Lula para tentar convencer o eleitor de que o ex-presidente quer expandir os casos em que a prática do aborto é permitida no Brasil. Em uma das declarações, o petista diz que "todo mundo tem que ter direito e não ter vergonha", o que sugere ao telespectador que ele é favorável à mudança na lei.

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante entrevista no Palácio da Alvorada, em Brasília - Gabriela Biló - 10.out.22/Folhapress

Não estão claros na peça, porém, o contexto e a data em que as declarações foram feitas. Lula tem dito durante a campanha que é contra o aborto e que o tema não é da alçada de um presidente, mas do Legislativo.

A peça transmitida nesta sexta lembra que a lei do aborto no Brasil deixa livre para as mulheres decidirem se continuam ou não com a gravidez em três situações: quando há risco de morte da mãe, quando há má-formação no cérebro da criança ou em casos de estupro.

"Mas Lula quer mudar a lei e incentivar a mãe a matar o próprio filho no seu próprio ventre", diz a apresentadora.

O programa intercala falas de Lula com imagens de ultrassom que mostram um feto e de procedimentos cirúrgicos. Também traz o som de uma máquina que monitora o batimento cardíaco com perda de sinal e morte.

A peça usada pela campanha de Bolsonaro dá continuidade à estratégia de levar à TV ataques que viralizaram antes nas redes sociais. No início do ano, uma declaração de Lula durante debate da Fundação Perseu Abramo foi usada por adversários para dizer que ele era favorável ao aborto. O petista afirmou que o procedimento é um problema de saúde pública.

Apesar de ainda evitar pautas de costumes no horário eleitoral, na semana passada Lula gravou vídeo para ser transmitido na internet em que se diz "a favor da vida" e contra o aborto.

"Não só eu sou contra o aborto, como todas as mulheres que eu casei são contra o aborto", disse petista. A declaração também deverá aparecer na propaganda eleitoral da televisão.

Em outra declaração resgatada pela campanha de Bolsonaro, Lula diz que a pauta "da família e dos valores é uma coisa muito atrasada". A fala é rebatida por eleitores. Um deles diz que as famílias cristãs não podem votar num candidato que é a favor do aborto.

"O Brasil com Bolsonaro valoriza a família e respeita a fé. O brasileiro é, acima de tudo, um povo de fé", diz o narrador da peça.

Bolsonaro também explora o emocional e até chora ao se lembrar de quando foi esfaqueado, durante a campanha presidencial de 2018, e ao comentar seu relacionamento com Laura, sua única filha com a primeira-dama, Michelle.

"A grande passagem com ela foi por ocasião da facada. Eu sei o valor de um pai e de uma mãe e eu pedi a Deus que ela não ficasse órfã de seu pai", diz Bolsonaro com a voz trêmula e os olhos marejados. "Se eu iria conseguir a eleição ou não, não interessava".

O presidente também é pai do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de Jair Renan, frutos de relacionamentos anteriores.

Ao pedir votos, Bolsonaro pediu desculpas pela maneira como se comunica com as pessoas. "Posso nem sempre usar as palavras certas, mas o que eu desejo é o mesmo que você", disse o presidente. "Se as minhas palavras estão te impedindo de fazer a escolha certa, eu, humildemente, te peço perdão".

Mais cedo, também em estratégia de explorar conteúdos compartilhados nas redes sociais, a campanha de Lula levou ao horário eleitoral no rádio e na TV propaganda em que mostra o ator Guilherme de Pádua, o goleiro Bruno e outros condenados e acusados por crimes que declararam apoio a Bolsonaro.

Na segunda (10), a campanha de Lula levou para o horário eleitoral uma entrevista de 2000 em que Bolsonaro afirma que discutiu a possibilidade de aborto com a ex-mulher. Na peça, um apresentador diz que o presidente é "mentiroso", para depois mostrar uma declaração dele dizendo que é contra o procedimento.

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