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Bolsonaro usa denúncia sobre rádios para atacar TSE e insinuar interferência nas eleições

Tribunal já é alvo do presidente em suas mentiras e afirmações sem provas acerca das urnas eletrônicas

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Leonardo Augusto Luciano Catarino Cindhi Belafonte
Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Uberlândia (MG)

O presidente Jair Bolsonaro voltou nesta quarta-feira (26) a insinuar que poderá não aceitar o resultado da eleição no próximo domingo (30), desta vez se referindo a um suposto esquema de fraude na transmissão de sua propaganda eleitoral em rádios do país.

Bolsonaro, que aparece atrás do ex-presidente Lula (PT) nas pesquisas eleitorais, responsabilizou diretamente o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já alvo do presidente em suas mentiras e afirmações sem provas e indícios acerca das urnas eletrônicas e de todo o sistema de votação.

"Mais uma do TSE. Vocês estão acompanhando. As inserções do nosso partido que não foram passadas em dezenas de milhares de rádios pelo Brasil. Sou vítima, mais uma vez. Onde poderiam chegar as nossas propostas, nada chegou", afirmou durante discurso em Teófilo Otoni, no interior de Minas Gerais.

No início desta semana, o presidente afirmou que as inserções não haviam sido divulgadas em rádios do país. O presidente do TSE, Alexandre Moraes, pediu, então, que fossem apresentadas provas. Nesta terça, a campanha entregou ao TSE o que chamou de relatório parcial sobre a suposta fraude.

"O que foi feito, comprovado por nós, pela nossa equipe técnica, é interferência, é manipulação de resultados. Eleições têm que ser respeitadas, mas, lamentavelmente, PT e TSE têm muito o que explicar nesse caso", disse.

Bolsonaro gesticulando com o microfone e cercado por apoiadores
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro durante campanha em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo - Carla Carniel- 22.out.22/Reuters

Já nesta quarta um assessor do TSE foi exonerado após o gabinete de Moraes interpretar que ele estava tomando atitudes com falta de isenção e com aparência de atuação política em sua função, além de atrapalhar os trabalhos na corte.

De acordo com as informações colhidas pela reportagem, esse assessor teria atrapalhado o trabalho que estava sendo feito pela corte para responder à ação apresentada pela campanha de Bolsonaro sobre o suposto boicote de rádios às inserções do presidente.

Durante o comício em Minas, o presidente comentou a exoneração desse assessor. Disse ainda que o alegado esquema das rádios teria "o dedo" do PT e que o partido, juntamente com o TSE, tem "muito o que explicar nesse caso".

Segundo Bolsonaro, a não transmissão foi confirmada pela sua equipe de campanha. "E não será demitindo um servidor do TSE que o TSE vai botar uma pedra nessa situação. Aí tem dedo do PT. Não tem coisa errada no Brasil que não tenha dedo do PT", disse.

O agora ex-assessor trabalhava em um setor relacionado com o tema e por isso foi acionado. Ao detectar a suposta atuação política, o gabinete de Moraes decidiu exonerá-lo.

Em Uberlândia, onde esteve em seguida, voltou ao assunto, dizendo que o TSE quer dar por encerrado o assunto com a demissão do funcionário.

"Como se o responsável fosse esse funcionário. Muito pelo contrário, ele, esse funcionário, disse, há muito tempo que vinha falando, sobre as inserções nossas que não iam ao ar. Não está encerrando esse assunto ainda", afirmou, em entrevista a redes de TV locais.

Bolsonaro voltou a criticar o presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes. "Estou aguardando dele, do presidente do TSE, que é muito rápido para punir, investigar empresários, prender gente. Agora, o problema está lá dentro do TSE e também, com toda a certeza, com o mínimo de boa vontade por parte do presidente do TSE, pode chegar no PT", disse.

À PF esse ex-assessor disse acreditar que a razão de sua exoneração "seja pelo fato de que desde o ano de 2018 ele tenha reiteradamente informado ao TSE que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propaganda eleitoral".

Afirmou ainda que atuava na coordenação do "pool" de emissoras de TSE, ou seja, no serviço de distribuição das propagandas eleitorais obrigatórias de rádio e TV. O ex-assessor disse à PF que foi conduzido por seguranças para fora do TSE após a exoneração.

Bolsonaro desembarcou em Teófilo Otoni na manhã desta quarta, cinco dias depois de seu rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fazer campanha na cidade.

Na última sexta (21), Lula fez comício em Teófilo Otoni ao lado da senadora Simone Tebet (MDB-MS), da deputada federal eleita Marina Silva (Rede), e do vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant (PSDB), que rompeu com o governador Romeu Zema (Novo).

No ato, Lula pediu empenho de aliados contra a abstenção no segundo turno da eleição, Tebet lembrou a declaração "pintou um clima" dada por Bolsonaro, sobre as meninas venezuelanas do entorno de Brasília, e Marina disse que com o atual governo há confusão até nas igrejas.

Já Paulo Brant afirmou que os mineiros não vão se guiar pelo voto dos coronéis. Lula prometeu concluir as obras do hospital universitário da cidade, paralisadas há seis anos. Depois da passagem do ex-presidente e de seu vice-governador por Teófilo Otoni, Zema, em cerimônia na cidade nesta terça (25), assinou ordem para retomada da obra.

Segundo o governador, a interrupção do projeto ocorreu por culpa do ex-governador Fernando Pimentel (PT), que governou o estado de 2015 a 2018. Zema, que anunciou apoio a Bolsonaro no segundo turno, passou a noite na cidade e participou do comício do presidente na cidade.

"Ontem resolvemos definitivamente um problema que o PT criou. Teófilo Otoni terá o seu hospital regional. Aquilo que o PT destrói nós vamos atrás para construir", discursou. Zema já havia anunciado a obra em 11 de junho de 2021.

fBolsonaro e Lula deram prioridade para a campanha em Minas Gerais neste segundo turno. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do país e, depois da democratização, quem ganhou nele venceu a eleição para o Palácio do Planalto.

Lula venceu o rival em Minas por 48,29% a 43,53% dos votos válidos. Depois de Teófilo Otoni, na sexta (21), o ex-presidente esteve ainda em Juiz de Fora.

Na manhã de sábado (22) fez caminhada entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves, na região metropolitana. Antes de Teófilo Otoni, nesta quarta (26), Bolsonaro fez rápida passagem por Governador Valadares, a 140 quilômetros, onde cumprimentou eleitores no aeroporto e fez pequeno pronunciamento.

"Esse é um comício não programado", afirmou. "Eu também sou mineiro, uai"!, gritava, de cima de um carro de som em carreata pela cidade.

O presidente repete que renasceu em Juiz de Fora, na zona da mata, onde levou uma facada durante a campanha de 2018. Bolsonaro vai ainda hoje a Uberlândia, no Triângulo Mineiro. O município é o segundo maior colégio eleitoral do estado. O presidente venceu Lula na cidade por 46,37% a 44,69% dos votos válidos.

Em comício na cidade Bolsonaro repetiu que é contra o aborto e chamou Lula novamente de "ladrão de nove dedos".

O candidato a vice na chapa, general Braga Netto, cometeu em seu discurso na cidade uma gafe que todo político em campanha tenta evitar em campanhas pelo Triângulo Mineiro. O parceiro do presidente na chapa chamou Uberlândia de Uberaba ao citar obras no aeroporto do município.

As duas cidades são as maiores do Triângulo e estão entre as principais de Minas Gerais.

Braga Netto lembra sempre nas passagens pelo estado que nasceu em Belo Horizonte e estudou em um colégio militar da capital, apesar de ter deixado a cidade há várias décadas.

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