Bolsonaro perdoa desafetos e pede desculpas, mas depois oscila e retoma grosserias

Tentativa de evitar imagem agressiva no 2º turno segue dica da campanha; presidente volta a gritar ao atacar Moraes e Lula

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Brasília

Depois de ficar em segundo lugar no primeiro turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou perdão a desafetos, intensificou o contato com a imprensa e iniciou uma tentativa de vender uma imagem mais serena.

Poucos dias após se manter calmo em momentos de exposição pública e de dar declarações em tom moderado, porém, o mandatário voltou a se exaltar e retomou a postura agressiva que marcou seu mandato à frente do país.

A estratégia de evitar embates com opositores e jornalistas é defendida por interlocutores que tocam a campanha e visa reduzir índices de rejeição, reverter o cenário e conseguir vencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Imagem mostra o presidente Jair Bolsonaro e o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado, durante encontro no Palácio do Alvorada. Bolsonaro aparece em primeiro plano, levemente desfocado. É um homem branco, que veste um terno escuro e uma camisa branca. Atrás está Caiado, que sorri. Ele também veste um terno escuro e camisa branca
Presidente Jair Bolsonaro recebe apoio no 2º turno do antigo desafeto Ronaldo Caiado - Adriano Machado/ Reuters

A tentativa de suavizar a imagem, porém, não durou muito. Depois de ter falado 13 vezes na semana com a imprensa após a derrota no primeiro turno, entre entrevistas e declarações a veículos de comunicação, na sexta-feira (7) ele voltou a adotar um tom mais belicoso e, aos gritos, atacou Lula e o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

O presidente iniciou de maneira calma uma entrevista ao lado do apresentador de TV José Luiz Datena (que evitou declarar voto em Bolsonaro), mas em seguida adotou tom agressivo ao fazer comparações de seu governo com o PT e começou a gritar e disparar ataques a opositores.

Chamou Lula de "pinguço", disse que Moraes cometeu um "crime" por ter quebrado o sigilo de seu ajudante de ordens e reforçou o discurso ideológico contra o "comunismo" e o que ele acredita ser um risco às liberdades individuais caso Lula vença a eleição.

A postura preocupou aliados, que têm defendido que ele mantenha um ar mais sereno porque pesquisas qualitativas indicam que o mandatário afasta eleitoras indecisas quando adota um tom mais agressivo.

Até então, o chefe do Executivo vinha seguindo à risca no segundo turno a estratégia traçada pela campanha.

Em vários momentos, fez um mea culpa pelo comportamento que teve em momentos de seu mandato, disse que falou "demais muitas vezes" e se desculpou por ter ofendido "algumas pessoas de forma não intencional".

Ele também ouviu a orientação de correligionários de intensificar o contato com a imprensa tradicional e passou a convocar jornalistas para o Palácio da Alvorada, o que havia feito poucas vezes até então.

Na residência oficial, deu demonstrações de força ao receber governadores, deputados e senadores. Ao lado deles, em tom sereno, agradeceu pelos apoios e disse que há questões maiores em jogo que exigem que políticos deixem diferenças de lado para "proteger o Brasil" de ameaças comunistas.

Até a primeira-dama Michelle Bolsonaro entrou em campo para ajudar a transmitir uma ideia mais apaziguadora e chegou ir a público "pedir desculpas pelos palavrões" usados por seu marido.

Lula e Jair Bolsonaro vão disputar o segundo turno das eleições presidenciais. O primeiro terminou com vantagem do petista, com 48,4% dos votos válidos, contra 43,2% do atual presidente. A diferença que os separou foi de cerca de cerca de 6 milhões de votos.

A semana após o primeiro turno também marcou a reaproximação com alguns desafetos, como o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil-PR), eleito para uma vaga no Senado. Moro deixou o governo em 2020 acusando Bolsonaro de interferência na Polícia Federal.

Bolsonaro depois o chamou de "traíra" e "mentiroso".

Moro, no entanto, focou seus ataques durante o período eleitoral contra o PT e, após o primeiro turno, publicou um vídeo declarando apoio a Bolsonaro. O mandatário disse, na terça (7), que teve uma "conversa amistosa" com seu ex-ministro e que "está tudo superado".

"Apaga-se o passado e qualquer divergência porventura ocorrida. Sergio Moro foi uma pessoa que mostrou realmente o que era corrupção no Brasil, levando dezenas de pessoas a condenações, e deu uma nova dinâmica, muita esperança ao Brasil naquele momento", afirmou.

Bolsonaro também elogiou o antigo chefe da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, outro que criticou duramente o presidente e que depois anunciou apoio nas eleições.

"Todos nós evoluímos. Eu mesmo errei no passado em alguns pontos. A gente evolui, para o bem do nosso Brasil", disse. E prosseguiu: "Erramos. Pedimos desculpas. Não temos compromisso com o erro. E nós vamos evoluindo. Tenho certeza que o Sergio Moro será um grande senador aqui em Brasília", afirmou.

Outra reaproximação se deu com o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). O primeiro rompimento entre eles se deu durante a pandemia da Covid-19, quando Caiado criticou e contrariou as falas de Bolsonaro em oposição às medidas sanitárias para evitar a propagação da Covid-19.

Além disso, o governador cedeu o palácio estadual para o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, conceder a entrevista que resultou em sua demissão.

Bolsonaro e Caiado depois se reaproximaram, mas o governador de Goiás se sentiu afrontado quando o presidente apoiou na eleição estadual o seu ex-líder do governo na Câmara Major Vitor Hugo (PL).

Durante esses encontros, também estiveram presentes no Alvorada políticos ressentidos por terem sido esnobados por Bolsonaro durante o período eleitoral.

Um deles foi Romário (PL), correligionário do mandatário e que foi reeleito para o Senado. Em uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, o chefe do Executivo citou seus candidatos preferidos em cada estado brasileiro, mas evitou se posicionar na disputa para senador no Rio de Janeiro.

No dia da eleição, o bolsonarista Daniel Silveira (PTB) divulgou vídeo no qual Bolsonaro aparece dizendo para ele: "animal, votei em você". Silveira teve sua candidatura indeferida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O presidente também evitou os ataques às urnas eletrônicas e, na primeira entrevista após divulgação do resultado, afirmou apenas que aguardaria um parecer das Forças Armadas sobre o pleito antes de comentar o assunto.

Nas entrevistas ao lado de parlamentares e governadores, todos eleitos com votos apurados no sistema eletrônico de votação criticado pelo mandatário, deixou o assunto de lado. Em live na última quarta-feira (5), entretanto, questionou sem provas a apuração do primeiro turno e reciclou teoria já desmentida sobre o assunto.

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