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Haddad admite plano comedido e reclama de cobrança por metas não entregues na prefeitura

Em debate, Tarcísio lista promessas não cumpridas do petista, tema que desgastou sua campanha ao Governo de SP

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São Paulo

Alvo de ataques do adversário Tarcísio de Freitas (Republicanos) por não ter cumprido suas promessas como prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) afirmou que fez um plano de governo mais comedido para a eleição ao Governo de São Paulo e reclamou da cobrança da imprensa em relação às entregas de sua gestão.

"A gente fez uma coisa mais pé no chão, porque tem uma coisa de cobrança. Você faz um plano ousado, você entrega 50% de um plano ousado, o cara fala ‘não cumpriu metade’. Porra, cumpri metade de um plano ousado", disse Haddad ao podcast Flow, na quarta-feira (26).

Quando Haddad deixou a prefeitura, em dezembro de 2016, a Folha mostrou que ele tinha cumprido 54,5% das metas de sua gestão, que incluíam 150 km de corredores de ônibus, 20 CEUs (centros de educação unificada), 43 UBSs (unidades básicas de saúde), 3 hospitais e 55 mil moradias.

De 123 metas, 67 foram cumpridas.

Fernando Haddad (PT) é entrevistado no Flow Podcast, na quarta-feira (26) - Reprodução/@Flow Podcast no Youtube

"A imprensa tem uma coisa meio estranha hoje. Ela prefere que você cumpra 100% de um plano medíocre do que 80% de um puta plano", continuou Haddad no Flow.

Segundo Haddad, ele agora é "muito mais cauteloso" ao desenhar suas promessas. "Hoje você tem que ser muito comedido e está todo mundo assim."

"Eu não funcionava assim, eu achava que a gente tinha que subir o sarrafo. E mesmo que entregasse 60% ou 70% do que planejou, era uma forma de dar um impulso para o estado fazer mais. Mas isso não funcionou no meu caso. A própria dinâmica política está jogando as pretensões para baixo", concluiu.

O legado de Haddad na prefeitura tornou-se uma vidraça para o candidato nesta campanha. O tema voltou a ser explorado por Tarcísio no debate da TV Globo, na quinta-feira (27).

"Você promete, promete, e você não entregou nada. Olha só os resultados quando foi prefeito. Por isso que você ganhou o rótulo de pior prefeito da história. Não conseguiu entregar. Prometeu 20 CEUs, entregou um; prometeu o hospital da Brasilândia, não entregou. O hospital foi entregue em 2019. Prometeu uma série de obras, entregou 31 obras inacabadas", enumerou Tarcísio, citando ainda outras metas não batidas.

"Então, é muita promessa, mas quando você teve com a mão na massa mesmo, não fez. Por que você não fez? Faltou o quê? Criatividade? Vontade?", questionou.

No primeiro debate do primeiro turno, Tarcísio pediu que os telespectadores digitassem no Google "pior prefeito de São Paulo", em referência a Haddad. O petista chegou a comprar um anúncio no Google para dizer que foi o melhor prefeito da cidade.

O balanço da Folha mostra que Haddad prometeu três novos hospitais, entregou um e deixou dois em obras. Dos 20 CEUs anunciados, um foi entregue e 14 ficaram em construção. Em relação aos 150 km de corredores de ônibus, 42 km foram entregues e 15 km ficaram inconclusos. De 43 novas UBSs, 12 foram terminadas e 15, não. As unidades habitacionais entregues foram quase 15 mil, longe das 55 mil prometidas.

O plano ousado se ancorava na promessa de verba do governo federal, com Dilma Rousseff (PT) à frente, mas o financiamento não veio.

Na sua tentativa de reeleição em 2016, Haddad perdeu no primeiro turno para João Doria (PSDB). Ele terminou a disputa com 16,7% dos votos.

No primeiro turno da eleição estadual, no entanto, Haddad venceu Tarcísio na capital, com 44,2% a 32,67%.

Agora, Haddad promete em seu plano retomar investimentos em infraestrutura "com a construção e a modernização de creches e escolas, hospitais e postos de saúde, moradias, metrôs, estradas vicinais, rodovias, ferrovias e portos".

Em sua gestão na cidade, porém, as obras paradas atingiram várias áreas. Segundo balanço da prefeitura, o petista deixou ao menos 35 delas suspensas, entre as quais um hospital, corredores de ônibus e um terminal de transporte.

A Folha mostrou que, no plano de governo para o estado de São Paulo, Haddad reciclou metas da sua gestão como prefeito que tiveram falhas de execução.

O petista pretende, por exemplo, criar institutos de educação estaduais inspirados nos federais. Fisicamente, a promessa é que tenham estruturas análogas aos CEUs –cuja entrega de unidades não foi cumprida.

Outra medida resgatada pelo ex-prefeito é o programa Braços Abertos, baseado na filosofia de redução de danos, com previsão de emprego, moradia e tratamento de saúde para os dependentes químicos da cracolândia, no centro de São Paulo. A medida foi chamada por Tarcísio de "bolsa crack".

Quem aderia ao programa prestava serviços de zeladoria pública, pelos quais recebia R$ 15 por dia e abrigo nos hotéis da região. Um estudo divulgado em 2016 e citado por Haddad no debate mostrou que duas de cada três pessoas que passaram pelo programa diminuíram o uso da droga.

Apesar disso, houve problemas na moradia, uma vez que parte dos hotéis eram apontados como insalubres e houve denúncias de que o tráfico se infiltrou nos locais. Só no fim da gestão, a prefeitura passou a mover a moradia para bairros mais afastados da cracolândia.

Para se defender ao longo da campanha, Haddad afirmou ter sido o prefeito que mais investiu na cidade –R$ 26 bilhões em valores corrigidos, algo que repetiu no debate.

"Todas as obras que eu comecei, eu deixei dinheiro para terminar. Todas. […] Todas as obras estão entregues por causa do caixa que eu deixei", disse Haddad ao rival na TV Globo.

Ao responder sobre seu legado na prefeitura, Haddad destaca a criação da controladoria municipal, que desbaratou esquemas como a máfia do ISS, e a renegociação da dívida com a União –episódio em que ele entrou na Justiça contra o governo Dilma.

No debate, Haddad ressaltou que conseguiu abater R$ 50 milhões da dívida da cidade e que obteve o grau de investimento de uma agência de risco, o que atesta a boa gestão das contas públicas.

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