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Lula esgotou seus votos no RJ e povo não aguenta mais ataques, diz Cláudio Castro

Governador reeleito do Rio de Janeiro aposta em campanha mais propositiva no segundo turno

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Rio de Janeiro

O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), aposta, contra todas as previsões, num segundo turno da eleição presidencial mais propositivo e com menos ataques entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem apoia, e o ex-presidente Lula (PT), de quem não quer falar mal.

"O povo não aguenta mais isso. O povo quer saber quem vai cuidar dele", disse ele na quarta (5) à Folha.

O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL),  em entrevista à Folha
O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), em entrevista à Folha - Eduardo Anizelli - 23.set.22/Folhapress

Castro escolheu três regiões pobres da região metropolitana do Rio para os comícios ao lado do presidente. O mote de seu apoio será a defesa do alinhamento entre o governo estadual, já escolhido, e do federal —tática que remonta à do ex-governador Sérgio Cabral com Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff.

"Um [Bolsonaro] é um aliado. O outro [Lula] ainda vai ter que se conhecer. Então há uma dúvida sobre a relação. O outro é uma relação consolidada. [...] Sempre que a gente precisou ele esteve do nosso lado."

Castro avalia que o petista já esgotou os eleitores que poderia obter no Rio de Janeiro com a estratégia de voto útil. "Bolsonaro tem um bom campo para crescer." Eleito para uma cadeira na qual cinco antecessores foram presos, ele tem resposta pronta para não ter o mesmo destino. "Trabalhar direito."

Como foi a reunião com o presidente? Falei que a gente tinha que ir mais no povo, que tinha que fazer eventos em locais em que tenha muita gente e que a população tenha essa necessidade do poder público. Propusemos três grandes eventos em São Gonçalo, um na Baixada Fluminense e um na zona oeste.

A gente propôs que ele vá mais para rua, para o povo. O senador Flávio [Bolsonaro] já está vendo as agendas. Ficou de chamar os prefeitos e os [deputados] eleitos na nossa coligação para pedir que continuem ajudando, pedindo voto para ganhar a eleição. Não tem muita tese.

Qual é o cenário para Bolsonaro no Rio? Ele já fez quase um milhão de votos a mais [do que Lula]. Acho que ganha de novo e amplia. A gente fez uma pesquisa, e 90% das pessoas queria matar [a eleição] já no primeiro turno. O voto útil foi para onde achou que acabaria, Lula. Se ele [Lula] já não esgotou os votos no Rio, está bem perto [de esgotar]. Bolsonaro tem um bom campo para crescer, até pela bancada feita.

Qual o principal argumento para a população do Rio votar nele? Toda vez que a gente precisou dele, ele esteve do nosso lado. Quando eu assumi, ele ajudou o estado financeiramente. Depois, a gente precisava fazer uma negociação com a Petrobras, e foi a maior recuperação de ativo da história do Rio de Janeiro. Depois, o auxílio emergencial, na concessão da Cedae o BNDES foi importantíssimo. Depois teve a questão do regime de recuperação fiscal. Toda a questão de infraestrutura que está vindo para o Rio: a [ferrovia] EF-118, a concessão da [rodovia Presidente] Dutra que colocou a Rio-Santos junto.

No discurso da vitória, o sr. falou que ia fazer campanha para o Bolsonaro, mas que não gostaria de falar mal dos outros. É possível numa campanha polarizada como essa? Se eu fiz a minha [assim]... Não ataquei o [Marcelo] Freixo. Só expus contradições.

Por que o sr. acha que não se deve falar mal do adversário? O povo não aguenta mais isso. Quando a gente olha os grupos focais com os quais a gente trabalhou, toda vez que tinha uma peça minha agressiva era muito rechaçado. O povo quer saber quem vai cuidar dele. O povo quer ser abraçado de novo.

O presidente talvez adote essa linha também no segundo turno? Quem viu a entrevista coletiva de ontem [terça-feira, 4], viu ele muito tranquilo. Até falou do [ex-ministro da Justiça e hoje senador eleito] Sergio Moro bem. Até na hora que a jornalista passou um pouco do ponto ele respondeu tranquilo.

Ele disse que o resultado do primeiro turno indicava um sentimento de mudança. O sr. também viu esse recado? Não. O povo votou diferente de governador para presidente. Foram eleições bem diferentes. No Espírito Santo, por exemplo, o Bolsonaro ganhou, e o [governador] Renato Casagrande [PSB] ficou na frente. O povo quer entender quem vai cuidar dele. Independentemente de quem seja. Não houve onda para nenhum dos lados. Será um confronto de quem tem mais capacidade para tocar o país. Primeiro turno foi muita gente zoneando, muita gente brigando. Agora é um plebiscito, é um contra o outro.

A expectativa para o segundo turno não é de um clima muito amistoso. Será duro, mas não o nível de espetáculo que foi, porque agora é um contra o outro. Eles vão ter que debater e falar proposta. Então será um segundo turno com um pouco mais de proposta do que foi o primeiro.

Sua aliança era bem heterogênea. O sr. vai conseguir mobilizar toda essa bancada para ajudar o presidente? Acho que uma parte. Tem gente que estava comigo e que não estava com ele, como tem gente que estava com ele e não estava comigo. A questão de verticalizar o governador com o presidente é algo que dá muita vantagem para o Bolsonaro. Há um sentimento de que o alinhamento agora é muito importante. Como eu acabei eleito com uma votação expressiva, isso vai favorecer o Bolsonaro.

Para o futuro Rio de Janeiro, há diferença entre um e outro? Um é o do partido do presidente, um aliado. O outro [Lula] ainda vai ter que se conhecer. Tive com o ex-presidente Lula só na posse do ministro Alexandre de Moraes [no TSE]. Nem sequer o conheço. Então há uma incógnita, uma dúvida sobre a relação. O outro é uma relação consolidada.

Quais são os principais pleitos do Rio para o próximo presidente? Tem a rota 4B do gás, a concretização da [ferrovia] EF-118, do polo Gaslub, a licitação dos aeroportos. Assim como Minas Gerais tem o metrô, a linha 3 deveria ser custeada pelo governo federal. Fora questão das fronteiras, que o governo federal vai ter que chegar junto, porque segurança pública não é só o estado.

Os investimentos da União estão quase dominados pelas emendas de relator [recursos distribuídos por critérios políticos e que permitem aos congressistas mais influentes bancarem projetos e obras em seus redutos eleitorais]? De que forma isso atrapalha a obtenção de recursos do governo? É uma realidade imposta pelo Parlamento, né? Tanto que o presidente vetou e depois o Parlamento derrubou o veto dele. É um fortalecimento do Parlamento. Eu, como Poder Executivo, óbvio que acho ruim. Quebra muito do planejamento que um ente tem de poder fazer o investimento olhando o país para frente. Acredito que, com essa bancada grande que foi feita pelo presidente, ele aumenta a capacidade de fazer as mudanças mais profundas. Essa questão vai ter que ser revista.

Nós entregaremos para todos os eleitos um caderno de investimentos do governo do estado para que eles tenham a liberdade de colocar emendas em projetos do governo do estado.

Seu antecessor ficou marcado por ter assumido o Palácio Guanabara já pensando no Planalto. Que lições o sr. tira? Sou uma pessoa muito isenta de vaidade, uma pessoa muito simples, mantive meus hábitos. Entendi a contingência pela qual entrei. Apesar de saber o meu tamanho hoje, não vou negar o tamanho que a urna me deu, estou muito consciente do que a população do RJ quis com esse resultado.

A população quis alguém forte para poder trabalhar com mais intensidade para ela. A população não aguenta mais políticos que só pensam no seu projeto pessoal. Não fui fazer política para fora. Não comentei assuntos externos. Não entrei na campanha nacional. Falei sobre cuidar do Rio de Janeiro.

Isso explica o comportamento que o sr. pretende ter nesse segundo turno, de não atacar outro candidato? Totalmente. 60% do eleitorado mostrou que quer alguém 'low profile', alguém trabalhador.

Bolsonaro consegue fazer um pouco esse perfil também? A eleição nacional e a estadual são bem diferentes. Acabei virando um governador muito próximo. Em junho, visitei 70 municípios. Virei quase um prefeitão, um cara próximo, que atende todo mundo. As pessoas sabem que essa não é a realidade do presidente. Até acho que na nacional as pessoas gostam um pouquinho mais de sangue. Mas Bolsonaro tem tudo para virar e vencer a eleição.

A cadeira de governador do Rio já teve cinco presos e um sexto respondendo por corrupção. O que o sr. pretende fazer para ter um destino diferente? Trabalhar sério.


RAIO-X

Cláudio Castro, 43
Nascido em Santos (SP), foi vereador (2017-2018) e vice-governador do Rio de Janeiro até agosto de 2020, quando assumiu o Palácio Guanabara após o afastamento de Wilson Witzel. Tornou-se governador em definitivo em 1º de maio de 2021, após o impeachment do antecessor. Membro da Renovação Carismática da Igreja Católica, construiu carreira como cantor gospel. É formado em direito pela UniverCidade.

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