Descrição de chapéu Eleições 2022

No 2º turno em PE, Marília Arraes e Raquel Lyra são ex-PSB e têm histórico de afagos

Candidatas disputam o segundo turno para o Governo de Pernambuco no dia 30

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Recife

Com as passagens de Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) para o segundo turno, Pernambuco terá uma mulher à frente do governo pela primeira vez.

As duas adversárias acumulam pontos em comum nas trajetórias pessoais e políticas, além de uma boa relação. Ambas deixaram o PSB alegando falta de espaço. Agora, fizeram a sigla perder a primeira eleição no estado desde 2006.

Quando estava no PSB, a neta do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005) foi impedida pelo então governador Eduardo Campos (1965-2014) de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2014.

Marília também se queixou do movimento do partido em acenos à direita para viabilizar a candidatura de Eduardo Campos à Presidente da República. A então vereadora do Recife decidiu apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT) contra a candidatura do PSB.

Raquel Lyra durante visita ao gabinete de Marília Arraes, em fevereiro de 2022 - Divulgação

Marília deixou o PSB e se filiou ao PT em 2016, dois anos depois após o rompimento público. Como petista, foi líder da oposição à gestão do ex-prefeito Geraldo Julio (PSB) no Recife, em 2017.

Filha do ex-governador João Lyra Neto (PSDB), a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra saiu do PSB em 2016, após o partido não aceitar sua pretensão de se lançar à Prefeitura de Caruaru.

A cidade de 365 mil habitantes, a maior do interior de Pernambuco, é o berço político dos Lyra. O pai de Raquel foi prefeito de Caruaru duas vezes.

Diante da negativa do PSB, Raquel se filiou ao PSDB. À época, como deputada estadual, ela disse: "eu não saí do PSB, me tiraram de lá". Nas urnas, a tucana foi eleita no segundo turno em 2016 e reeleita quatro anos depois com expressiva votação no primeiro turno.

Além de um passado partidário em comum, Marília e Raquel têm boa relação pessoal e se classificam como amigas. Candidata a vice da chapa de Raquel, Priscila Krause (Cidadania) também se dá bem com Marília e disse, em entrevista, que não mistura as divergências políticas com o lado pessoal.

Como prefeita, Raquel recebeu Marília em diversas ocasiões no camarote oficial do São João de Caruaru.

As famílias Lyra e Arraes também têm em comum o enfrentamento à ditadura militar (1964-1985). Avô de Marília, Miguel Arraes foi deposto do cargo de governador em razão do golpe militar e ficou no exílio na Argélia durante parte do regime.

O pai de Raquel, João Lyra Neto, era filiado ao MDB durante a ditadura e já teve passagens por PSB, PT e PDT. Foi vice de Eduardo Campos por mais de sete anos e assumiu o governo como tampão de abril e dezembro de 2014.

Em 2013, João Lyra Neto se filiou ao PSB, nutrindo a esperança de que pudesse ser escolhido candidato a governador para a sucessão de Eduardo Campos, mas acabou preterido pelo aliado, que optou pelo então secretário Paulo Câmara como postulante. Lyra Neto, inclusive, apoiou Miguel Arraes em várias eleições para o governo estadual.

A congruência entre os grupos políticos no passado levou Marília Arraes a propor uma homenagem na Câmara dos Deputados a Fernando Lyra (1938-2013), tio de Raquel e candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola (1922-2004), do PDT, em 1989.

Marília Arraes com Raquel Lyra e o ex-governador João Lyra Neto na Câmara, em novembro de 2021 - Marília Arraes no Facebook

Em fevereiro de 2022, a então prefeita Raquel Lyra foi a Brasília e visitou o gabinete de Marília Arraes, que estava prestes a deixar o PT. A visita levantou a possibilidade de uma chapa englobando as duas para a eleição de Pernambuco, o que não se efetivou.

Para o segundo turno, Marília Arraes seguirá fazendo campanha para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Pernambuco. A candidata a governadora espera contar, dessa vez, com o apoio oficial do petista, que esteve ao lado de Danilo Cabral (PSB) no primeiro turno.

Em pronunciamento no domingo (2), Marília iniciou um discurso de nacionalização da eleição para o segundo turno. "O estado vai decidir entre um projeto alinhado ao presidente Lula e um bolsonarismo pintado com outras cores", afirmou.

O PT de Pernambuco, porém, não descarta que haja um apoio a Raquel Lyra, caso haja uma articulação nacional entre o partido e o PSDB envolvendo os palanques de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

A tucana Raquel Lyra é uma das principais apostas do PSDB no segundo turno nos estados, assim como o gaúcho Eduardo Leite. O presidente nacional do PSDB, o pernambucano Bruno Araújo, é um dos principais fiadores da candidatura de Raquel no estado.

Aliados avaliam que Raquel Lyra é inclinada a votar em Lula no segundo turno presidencial, após apoiar Simone Tebet (MDB) no primeiro. No entanto, ainda não há posicionamento oficial se haverá declaração de voto pública ou opção pela neutralidade publicamente.

A candidata está reclusa desde o domingo, depois da morte do marido, o empresário Fernando Lucena, no dia do primeiro turno das eleições, em Caruaru, após um mal súbito. Não há previsão de retomada às atividades políticas. A coordenação da campanha foi assumida pela candidata a vice, a deputada estadual Priscila Krause.

Um fator que deverá ser levado em conta internamente por Raquel Lyra, ao avaliar um posicionamento sobre o segundo turno presidencial, é se o movimento afetaria a migração iminente de votos bolsonaristas para ela.

A expectativa na campanha do PSDB é que eleitores de Anderson Ferreira (PL) migrem para a ex-prefeita, assim como os votos dados para Miguel Coelho (União Brasil), que já declarou apoio a Raquel.

Derrotado no primeiro turno, o PSB ainda não definiu se optará pela neutralidade no estado ou se apoiará alguma das suas duas ex-filiadas. A tendência é incentivar os prefeitos, deputados e vereadores aliados a votarem em Raquel contra Marília, classificada pelo PSB nos bastidores como sua principal opositora.

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