Partidos que mais elegeram deputados federais negros são de direita

Crescimento das autodeclarações ocorre após instituição do peso dobrado na distribuição dos fundos partidário e eleitoral

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São Paulo

Em 2022, os partidos que mais elegeram candidatos autodeclarados negros —que se identificam como pardos ou pretos— para a Câmara dos Deputados são de direita.

Parte dos eleitos teve sua declaração de cor contestada por adversários e eleitores após alterá-la de branca para parda ou preta.

Dos 135 deputados eleitos desse grupo, 25 fazem parte do PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro, que disputará o segundo turno presidencial com o ex-presidente Lula (PT) em 30 de outubro. A legenda é a que mais elegeu parlamentares para a próxima legislatura, com ao todo 99.

Republicanos e União Brasil, também posicionados à direita, aparecem em sequência na lista. O primeiro elegeu 20 deputados registrados como negros, e o outro, 17.

mulher negra com blusa azul
A deputada federal Silvia Cristina (PL-RO) - Gabriela Biló/Folhapress

Os representantes do PT, partido posicionado à esquerda, surgem em quarto lugar, com 16 cadeiras negras conquistadas. Em seguida está o PP, à direita, com 15.

O centrão também entra na conta. O MDB elegeu oito deputados autodeclarados negros, seguido de PSD, com seis, e Podemos, com cinco. Avante e Pros garantiram dois parlamentares cada, e Solidariedade, um.

No campo mais à esquerda, o PDT conseguiu seis cadeiras, seguido de PC do B, com quatro, PSB e PV, com dois cada, e Rede, com um representante.

Cidadania, Novo, Patriota, PSC, PSDB e PTB não elegeram nenhum deputado pardo ou preto.

Proporcionalmente, entre as maiores bancadas, o Republicanos é o partido com maior presença de pessoas declaradas negras em sua lista de eleitos (49%), seguido de PP (32%), União (29%) e PL (25%).

Maior representante da esquerda na próxima legislatura, o PT terá menos de um quarto de parlamentares pretos ou pardos entre seus novos parlamentares (23%).

O aumento da diversidade nas autodeclarações ocorre após a instituição da regra que determina peso dobrado para os votos em candidaturas negras e femininas à Câmara. A medida prevê maior distribuição do fundo partidário às siglas que conseguissem mais votos para representantes desses grupos.

Além disso, em 2022, os partidos foram obrigados a destinar recursos do fundo eleitoral e tempo de propaganda na televisão e no rádio de maneira proporcional à quantidade de negros e mulheres entre seus inscritos. As medidas são uma tentativa de aumentar a participação e a competitividade na disputa.

Pela primeira vez, o pleito geral teve mais candidatos negros (49,6%) do que brancos (48,8%). A proporção entre os vitoriosos, porém, foi bem diferente.

Dos 513 parlamentares eleitos para a Câmara, 135 se autodeclaram negros (108 pardos e 27 pretos), o equivalente a 26%. Os brancos são 369, ou 72%.

Em 2018, deputados federais declarados negros eram 123 (102 pardos e 21 pretos) e corresponderam a 24% na formação da Casa, enquanto brancos foram 387, totalizando 75% dos representantes.

Ou seja, houve um aumento de 8,9% da representatividade, segundo o critério da autodeclaração. O crescimento foi mais expressivo entre pretos: 28,5% na comparação entre as duas eleições.

Os dados sobre a cor dos candidatos começaram a ser coletados em 2014. Naquele ano, a composição da Câmara após a votação ficou em 20% de negros e 80% de brancos.

A Folha revelou em reportagem no mês de junho que registros irregulares na identificação racial de políticos inflaram de maneira artificial a quantidade de negros da Câmara.

À época, a reportagem procurou 38 parlamentares que se declararam negros, mas que teriam dificuldade de passar por uma banca de heteroidentificação, como as que avaliam se uma pessoa pode se inscrever como cotista num vestibular.

Um novo levantamento feito pelo jornal antes das eleições mostrou que, dos deputados federais em exercício, 42 eleitos como brancos em 2018 alteraram o registro de cor para pardo ou preto em 2022.

Destes, 19 conseguiram se reeleger. A lista tem 5 parlamentares do União Brasil, outros 5 do Republicanos, 4 do PP e 2 do PL, algumas das siglas com mais vencedores autodeclarados negros neste ano. Pros, PDT e PC do B completam a conta, com um cada (veja na galeria abaixo).

O Ministério Público Eleitoral enviou recomendação aos partidos antes da eleição para que eles orientassem seus candidatos a terem atenção especial ao preenchimento adequado da declaração de cor. Segundo especialistas, a legislação prevê medidas contra desonestidade na classificação racial, caso ela seja comprovada.

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