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Receio de virar alvo de Moraes leva Fábio Faria a recuar em caso de rádios, dizem aliados

Ministro de Bolsonaro ouviu críticas de magistrados por ofensiva sem provas e ficou apreensivo com investigação

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Brasília

Aliados do ministro Fábio Faria (Comunicações) avaliam que o receio de se tornar alvo de investigação foi um dos principais fatores que o levaram a recuar da ofensiva que havia encabeçado para alegar suposta fraude na veiculação de inserções de Jair Bolsonaro (PL) em rádios do Nordeste.

Faria convocou jornalistas na noite de segunda-feira (24) para "acompanhar a exposição de um fato muito grave", no Palácio da Alvorada. A entrevista coletiva foi feita ao lado do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten, que trabalha na campanha bolsonarista.

Segundo relatos feitos à Folha, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) procuraram Faria e teceram duras críticas às alegações que haviam sido feitas e que poderiam ser vistas como falsas acusações de fraude eleitoral. Eles disseram ainda que o relatório com a tese do suposto boicote era uma forma de tentar constranger o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O ministro ouviu de integrantes do STF também a avaliação de que o pedido soava abusivo e que anunciar a medida na televisão, em tom alarmista, não parecia uma forma eficaz de conseguir solucionar qualquer eventual problema.

Aliados do ministro no Judiciário alertaram-no que ele poderia ser investigado caso não conseguisse comprovar as acusações que havia feito.

O ministro Fábio Faria (Comunicações) e integrante da campanha de Jair Bolsonaro, em coletiva de imprensa no Palácio da Alvorada. - Gabriela Biló -24.out.2022/Folhapress

O ministro Alexandre de Moraes, além de presidir o TSE, é relator de inquéritos no Supremo que têm Bolsonaro e seus aliados como alvos. Enquanto alas do bolsonarismo se digladiam com o magistrado, ministros vinculados ao mundo político sempre tentaram evitar essa disputa.

Em conversas de bastidores, Faria disse que ficou aliviado quando se afastou do caso, e que não teria motivo para ele ser investigado após tomar distância. O problema, segundo ele, foi o fato de apoiadores de Bolsonaro passarem a defender adiamento do segundo turno com base nas acusações, o que atrapalhou qualquer tentativa de acordo com o TSE sobre as inserções.

À coluna de Mônica Bergamo, da Folha, Faria disse ter se arrependido profundamente de ter participado da entrevista coletiva. "Se eu soubesse que [a crise] iria escalar, eu não teria entrado no assunto", afirmou.

Agora, o ministro busca se distanciar do que chamou de "fato muito grave" quatro dias antes, e atribui responsabilidade à legenda do presidente.

"A falha era do partido [PL], que percebeu o problema tardiamente, e não do tribunal. Como havia pouco tempo para o TSE fazer uma investigação mais aprofundada, eu iniciei um diálogo com o tribunal em torno do assunto", afirmou.

Na segunda, Faria surpreendeu a todos, inclusive aliados, quando convocou a imprensa nas suas redes sociais.

Ele e Wajngarten, adversários até recentemente, contaram, sem apresentar provas, que a campanha havia constatado que rádios no Nordeste, em especial na Bahia, não estariam veiculando inserções de Bolsonaro. O presidente tem desvantagem eleitoral na região.

O TSE pediu documentos que embasassem as supostas denúncias. O material fornecido pela campanha, no entanto, tinha uma série de fragilidades. Na quarta-feira (26), Moraes rejeitou a ação, disse que não há provas e que ela se baseava em levantamento de empresa "não especializada em auditoria".

Moraes apontou ainda possível "cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana" e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das milícias digitais, que é relatado por ele mesmo no STF.

Nesse intervalo entre a coletiva de imprensa e a decisão de Moraes, Faria submergiu. Apesar de ter falado sobre "fato muito grave", parou de abordar o tema publicamente ou em redes sociais.

A Folha mostrou que ao menos 6 das 8 rádios citadas pela campanha negam as acusações e dizem ter provas de que veicularam as inserções. Também revelou que uma das rádios que integrava a relação das emissoras que supostamente teriam privilegiado Lula é do próprio pai de Faria.

Após Moraes ter arquivado o caso, aliados de Bolsonaro passaram a divergir sobre a origem da empreitada, surgindo até mesmo o nome de Carlos Bolsonaro. Mas Faria disse as pessoas próximas que a campanha recebeu denúncias e a ideia de entrar com a ação foi coletiva.

Wajngarten, que esteve ao lado de Faria na coletiva, disse para interlocutores que estava em São Paulo quando foi chamado às pressas para uma reunião em Brasília, na segunda-feira (24), na qual advogados e outros membros da equipe de Bolsonaro já discutiam convocar jornalistas para falar do tema.

Antes de dar a declaração, o ministro teria sondado integrantes do TSE e ouviu que a suspeita teria pouco fundamento.

A campanha do presidente se dividiu desde o princípio sobre o caso das inserções de rádios do Nordeste. Uma parte dos integrantes do governo e do núcleo duro da equipe de reeleição de Bolsonaro avaliou que ele era frágil e só seria uma tentativa de criar um fato novo às vésperas do segundo turno.

Aliados contrários à tese foram além: queixaram-se de que a coletiva à imprensa foi feita de forma improvisada, e que passou a imagem ao eleitor de que Bolsonaro busca uma justificativa para um eventual insucesso nas urnas.

Depois da decisão do TSE de rejeitar a ação, Bolsonaro mudou sua agenda de campanha em cima da hora, na noite de quarta (26), para fazer um pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada e realizar uma reunião depois, com ministros e comandantes das Forças Armadas.

Apesar de expectativas de radicalização ou temor de que Bolsonaro pedisse, por exemplo, adiamento das eleições, o presidente apenas criticou Moraes, disse que foi prejudicado eleitoralmente e que recorreria até o fim.

Na tarde desta sexta, Wajngarten, que participou da coletiva ao lado de Faria, disse que a "campanha do presidente Bolsonaro jamais cogitou pedir adiamento da eleição".

O ex-Secom disse ainda não ter arrependimento em relação ao caso apresentado e que eles apenas denunciaram "um gravíssimo prejuízo" à campanha e solicitaram "reposição das inserções que nos foram tiradas injustamente, como o ministro Faria disse".

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