É mentira que Bolsonaro pediu que diplomação de Lula seja anulada

Não há previsão legal deste tipo de pedido pelo presidente nem publicação do requerimento no Diário Oficial

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São Paulo

Conteúdo que circula no Twitter afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu o cancelamento da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é falso. Não há registros de nenhuma publicação de Bolsonaro no Diário Oficial a respeito da diplomação de Lula em cerimônia realizada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Além disso, como verificado pelo Projeto Comprova, não existe previsão em nenhum regramento legal que permita esse tipo de ação, de acordo com o TSE.

A diplomação é uma formalidade realizada com todos os candidatos eleitos, inclusive com presidente e vice-presidente da República. Neste ano, a cerimônia ocorreu no dia 12 de dezembro. Os documentos entregues pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, habilitam a posse no dia 1° de janeiro de 2023.

Alexandre de Moraes, à esq., e Lula, homens brancos, estão de pé, segurando diploma e posando para foto
Lula, ao lado de Alexandre de Moraes, na solenidade de diplomação - Pedro Ladeira - 12.dez.2022/Folhapress

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até as 14 horas do dia 13 de dezembro, a publicação tinha 29 mil visualizações e acumulava 3,6 mil curtidas, 1,3 mil retuítes e 205 comentários na rede social.

O que diz o responsável pela publicação

A reportagem tentou contato com o responsável pela conta no Twitter, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos

Iniciamos a checagem com uma consulta ao TSE sobre a legalidade de um pedido para a anulação da cerimônia de diplomação que oficializa a eleição de 2022. Por e-mail, recebemos a resposta do órgão.

Procuramos pela suposta publicação assinada pelo presidente Bolsonaro no site do Diário Oficial da União no mês de dezembro.

Também entramos em contato com o perfil responsável pela publicação do conteúdo checado para saber a origem das alegações feitas por ele.

Em buscas no Google pelos termos "anulação", "diplomação" e "Lula", localizamos uma checagem sobre o mesmo conteúdo de desinformação do Boatos.org.

Eleitos

A diplomação é um ato formal organizado pela Justiça Eleitoral prevista no Código Eleitoral, que certifica o resultado das urnas e atesta que os candidatos da chapa eleita estão aptos para assumirem os cargos na posse. A aprovação das contas da campanha é também uma das condições para a realização do rito.

Na cerimônia, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), receberam seus diplomas assinados pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O documento atesta que eles estão habilitados para exercerem os mandatos. A posse ocorre no dia 1º de janeiro.

O rito existe desde 1951, mas foi suspenso durante o regime militar, de 1964 a 1985. A diplomação foi retomada no ano de 1989, com a redemocratização e a primeira eleição direta, com candidatos eleitos pelo povo, após a ditadura. No caso das eleições presidenciais, a formalidade é feita pelo TSE. Para os demais cargos federais, estaduais e distritais, a cerimônia é feita pelos tribunais regionais.

O Diário Oficial não publicou um pedido de anulação da formalidade que diplomou a chapa Lula-Alckmin. Em relação à legalidade de uma solicitação feita pelo presidente, o TSE informou que "não existe tal previsão em qualquer regramento legal" e explicou que a lei nº 4.737/195 determina as regras para recurso contra a expedição de diplomas. O pedido cabe apenas em casos de "inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de elegibilidade", como determina o art. 262.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e peças que questionam o resultado das eleições presidenciais. Publicações como esta verificada são prejudiciais à democracia pois tentam desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e não reconhecer o resultado das eleições.

O Boatos.org checou o mesmo conteúdo e, como o Comprova, concluiu ser falso.

Em verificações recentes envolvendo o presidente eleito e o resultado do pleito, o Comprova mostrou que é falso que Lula não pode ser diplomado por ter sido processado e preso em 2018. Também explicou que o resultado das eleições não está sob análise da Justiça após relatório das Forças Armadas e que certidão de tribunal publicada no Twitter não atesta a inelegibilidade do petista.

A investigação desse conteúdo foi feita por Estadão e publicada em 13 de dezembro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, UOL e Grupo Sinos.

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