Planalto sob Lula deve ter petistas de 1ª hora e pouca diversidade

Presidente vai anunciar novas pastas na quinta-feira, mas indicações partidárias estavam travadas até a véspera

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Brasília

O Palácio do Planalto do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será composto, em sua maioria, por petistas de primeira hora, que gozam da confiança do novo mandatário, e com pouca diversidade.

Os principais postos devem ser ocupados por homens brancos e aliados de longa data de Lula.

O presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Danilo Verpa-15.dez.22/Folhapress

O presidente eleito convocou uma coletiva sobre novos ministérios na manhã de quinta-feira (22). A expectativa era de que a grande maioria dos 37 fossem indicados, mas dificuldade nas indicações partidárias podem travar algumas nomeações.

No novo desenho palaciano, que já pode ser anunciado nesta quinta-feira (22), a Secretaria de Governo deve passar a se chamar Secretaria de Relações Institucionais (SRI), como já foi no passado.

Hoje sob o comando de Célio Faria Jr, o ministério deve manter as atribuições de articulação política e vai para as mãos do deputado Alexandre Padilha (PT), como mostrou a coluna Mônica Bergamo.

De perfil conciliador e bom trânsito no Congresso, Padilha já esteve à frente da pasta há 14 anos. Ele deve recriar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, conhecido como Conselhão. Lançado no primeiro governo Lula, o grupo reunia diferentes setores, como empresários e sindicalistas, para discutir e sugerir medidas para o desenvolvimento do país.

O atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano (PT), deve assumir a secretaria de Assuntos Federativos, subordinada a Padilha. Advogado no partido, Vitor Quarenta também deve integrar a equipe.

A Secretaria de Assuntos Estratégicos também mudará de estrutura. Hoje ocupada por militares e comandada pelo almirante Flávio Rocha, um dos principais conselheiros de Bolsonaro, a SAE deve se tornar uma assessora internacional, vinculada diretamente à Presidência.

O ex-chanceler Celso Amorim é dado como certo no cargo por petistas e aliados. Ele foi ministro de Relações Exteriores nos dois governos de Lula, e conseguiu emplacar o embaixador Mauro Vieira no cargo na próxima gestão.

Já o ministro da Secretaria-Geral da Presidência será o deputado federal Márcio Macedo (PT-SE), tesoureiro da campanha petista. No momento, ele é vice-presidente do PT.

A pasta tem a função de publicar atos oficiais, como uma espécie de "prefeitura" do Planalto. Está sob o comando de Luiz Eduardo Ramos, general da reserva e amigo de Bolsonaro.

Macedo se encontrou com um representante de movimento social na manhã desta quarta-feira (21). Disse que, se nomeado, precisa contar com apoios de movimentos sociais, que pretende fazer ministério com participação popular potente. A relação com os movimentos será prioridade do governo.

Minutos antes, o vice eleito, Geraldo Alckmin (PSB), se referiu a Macedo como ministro: "Já posso te chamar de ministro?", perguntou Alckmin

Assim como Lula privilegiou aliados e petistas no seu primeiro escalão, Bolsonaro se cercou de militares. Ramos entrou em 2019, na Secretaria de Governo, e continuou até o final da gestão. Outro auxiliar de primeira hora, o general Augusto Heleno, também seguiu até o fim.

Ele comanda o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que hoje abriga a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e se ocupa da segurança pessoal do chefe do Executivo e de seus familiares.

Ainda na transição, o governo eleito passou a discutir retirar essas duas atribuições do ministério, que há não muito tempo ainda se chamava Casa Militar.

A medida enfrenta resistência de uma ala da equipe do presidente eleito, mas conta com o apoio de importantes petistas e de parte da equipe de segurança de Lula, chefiada pelo delegado Andrei Passos Rodrigues, futuro diretor-geral da PF.

Hoje o principal cotado para o GSI de Lula é o general Gonçalves Dias, mais conhecido como GDias.

Próximo a Lula, ele foi o responsável pela segurança do petista em seus dois mandatos na Presidência e chefiou a Coordenadoria de Segurança Institucional no início do governo Dilma Rousseff.

GDias foi para a reserva do Exército em 2012, mas mantém uma boa relação com militares que hoje estão na cúpula da Força Terrestre.

A Secretaria de Comunicação da Presidência, um dos principais focos de crise do governo atual, hoje é controlada por integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal. Deve passar, segundo petistas, para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), nomeado para a Casa Civil já começou, desde o anúncio, a despachar no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do gabinete de transição. A pasta é uma das principais do governo, por coordenar as ações dos ministérios. Pela centralidade, seu ocupante é considerado braço direito do presidente.

Ele terá como nº2 no ministério a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior, que já chegou a ser cotada para integrar o primeiro escalão do terceiro mandato de Lula.

O governo eleito tem sido alvo de críticas por ter pouca diversidade nos nomes anunciados até o momento. Na coletiva em que informou sua primeira leva de ministros, o petista até reconheceu isso, ao se antecipar a questionamentos de jornalistas sobre o tema e prometer uma Esplanada com "a cara da sociedade".

"Vai ter outros ministérios. E vocês vão ver que a gente vai colocar muita gente pra participar. Vai ter mulher, homem, negros, índios, vamos tentar montar um governo que seja a cara da sociedade brasileira, em sua total plenitude. Não se preocupe com isso", disse a jornalistas no CCBB.

Na ocasião, anunciou Flávio Dino para a Justiça, Rui Costa para a Casa Civil, Fernando Haddad para a Fazenda, José Múcio Monteiro para a Defesa, e Mauro Vieira para o Itamaraty.

A Casa Civil de Rui Costa contará com uma nova estrutura, mais robusta. A expectativa é de que esteja sob a pasta o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), hoje sob a Economia.

Além disso, a Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ) ficará também no ministério. O nome mais cotado hoje para ocupá-la é o de Jean Uema, analista do STF (Supremo Tribunal Federal).

Dentre os nomes mais técnicos para os ministérios, há o de Esther Dweck, que participou do grupo de transição do Planejamento, é a mais cotada para chefiar o Ministério da Gestão, que será criado.

No Planejamento, o economista André Lara Resende chegou a ser convidado, mas resistiu à proposta. Segundo petistas, Haddad e Alckmin foram escalados para tentar convencê-lo.

Petistas têm buscado convencer Geraldo Alckmin a assumir o Ministério da Indústria e Comércio, diante da dificuldade de achar o nome ideal para o cargo.

A Controladoria-Geral da União (CGU) ficará com Vinicius Carvalho, advogado e ex-presidente do Cade. A Advocacia-Geral da União (AGU), com Jorge Messias, que atuou na gestão Dilma.

Além dos ministérios palacianos, o PT deve levar ainda o Ministério de Desenvolvimento Agrário, com o deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS). O PT também sugeriu o nome do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) para o Ministério das Comunicações. Para o Desenvolvimento Social, o mais cotado era o senador eleito Wellington Dias (PT-PI).

A pasta era, até o momento, a que Simone Tebet (MDB) esperava herdar com a distribuição aos partidos aliados. As indicações partidárias estão, inclusive, travando algumas indicações. MDB e o PSD terão pastas, mas ainda é incerto quais.

A Agricultura seria uma possibilidade para ex-candidata ao Planalto.Além de Tebet, o senador eleito Renan Filho (MDB-AL) é outro emedebista que deve compor o governo. Petistas, entre eles o próprio Fernando Haddad, têm tentado convencê-lo a assumir o Planejamento.

Renan Filho, no entanto, rechaça essa possibilidade por avaliar que o Planejamento pode ser um ministério com pouco poder e visibilidade. Nesse contexto, ele também é citado como opção para comandar a pasta de Cidades.

O MDB se reuniu com Lula e reivindicou ministérios fins, como Integração Nacional, Cidades e Transportes.

Entre outras pastas, a presidente do PC do B, Luciana Santos, passou a ser cotada para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Nessa configuração, o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) deve assumir a pasta de Portos e Aeroportos. O partido de Alckmin já tem a pasta da Justiça, com Dino.

No PSD, o senador Carlos Fávaro (MT) é cotado para o Ministério da Agricultura ou de Minas e Energia. O presidente do partido, Gilberto Kassab, teve conversa com Lula na noite de quarta-feira, acompanhado do senador Otto Alencar (PSD-BA).

Há também a possibilidade de o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), próximo ao presidente do Senado e correligionário, Rodrigo Pacheco, assuma o Ministério de Minas e Energia. O PP de Arthur Lira pode comandar o Turismo.

O hotel em que Lula está hospedado passou a receber ministeriáveis no final do dia de quarta-feira. França esteve no local, acompanhado do presidente do PSB, Carlos Siqueira, e de João Campos, prefeito de Recife.

Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada, Marielle Franco, também passou por lá. Ela é cotada para a pasta de Mulheres ou Igualdade Racial.

Ana Moser, ex-jogadora de Vôlei, deve ser confirmada à frente do Ministério do Esporte.

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