Descrição de chapéu Governo Tarcísio

Tarcísio recua e vai a reunião de governadores com Lula em Brasília

Governador de São Paulo, aliado de Bolsonaro, iria ficar no estado para reuniões, mas voltou atrás

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São Paulo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), oscilou ao responder aos atos violentos de golpistas em Brasília, no domingo (8). O chefe do executivo paulista primeiro decidiu não participar de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda (9), mas voltou atrás.

No dia anterior, o governo chegou a pedir que secretários não se manifestassem sobre o caso antes de alinhar um discurso. Segundo o governo, não havia ordem de silêncio, apenas um pedido de alinhamento, comum em situações sensíveis.

A reunião de emergência entre Lula, de quem é ferrenho opositor, e os governadores foi agendada após os atos golpistas e de vandalismo por parte de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como apoiador de Bolsonaro e governador de São Paulo, Tarcísio, que vem adotando uma posição ambígua em relação ao bolsonarismo, precisou calcular seus movimentos na crise.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) em sua posse no Governo de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Em seu discurso na reunião, Tarcísio mencionou Deus, afirmou estar feliz de participar e enalteceu a "capacidade do diálogo". Ele cumprimentou Lula e os demais, e disse que tem que aprender sobre São Paulo com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

"Era muito importante estar presente no dia de hoje, neste ato de solidariedade aos Poderes constituídos, ao Supremo Tribunal Federal, ao Congresso Nacional, à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal, solidariedade no final das contas à nossa democracia", disse ele, sem mencionar especificamente o Executivo ou a Presidência da República.

Já na hora de cobrar gestos de pacificação, Tarcísio citou o Executivo. "Peço a Deus que nos proporcione sabedoria para que a gente promova a pacificação, lembrando que a pacificação demanda gestos, gestos de todos, do Judiciário, do Legislativo, do Executivo, gestos dos estados."

"A gente tem que aprender a construir gestos para que a gente possa ter desenvolvimento, dignidade, que só serão alcançados por meio do diálogo. Parabéns a todos que atenderam esse chamado. Obrigado por essa abertura de espaço e por esse passo tão importante que o Brasil está dando no dia de hoje", completou.

Tarcísio afirmou ainda que o país "construiu a duras penas a sua democracia, que é um valor que tem que ser defendido, exaltado". "Essa reunião de hoje significa que a democracia brasileira vai se tornar, depois dos episódios de ontem, ainda mais forte."

De acordo com aliados de Tarcísio, o governador decidiu ir a Brasília depois de conversar com uma série de autoridades. A presidente do STF, ministra Rosa Weber, por exemplo, ligou para todos os governadores e pregou que a presença de todos era importante para a defesa da democracia.

O ministro das Relações Institucionais de Lula, Alexandre Padilha (PT), também telefonou para Tarcísio.

Outros fatores que pesaram a favor da viagem foram a confirmação de que os demais governadores iriam em peso e a desmobilização tranquila dos golpistas em São Paulo, que não provocaram confusão ao deixarem o acampamento em frente ao quartel do Comando Militar do Sudeste.

O governo informou que, às 19 horas, os 34 pontos de acampamentos do estado haviam sido dispersados.

Interlocutores do governador afirmam que a princípio ele queria ficar no estado para acompanhar se haveria episódios de violência. Desde domingo, houve bloqueios de manifestantes na avenida 23 de Maio e na Marginal Tietê.

Pelo Twitter, no domingo, Tarcísio condenou a violência. Já seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), que também é bolsonarista, disse que iria seguir a ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de desmantelar o acampamento golpista na capital, desde que com diálogo e ação pacífica.

"Para que o Brasil possa caminhar, o debate deve ser o de ideias e a oposição deve ser responsável, apontando direções. Manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso em São Paulo", publicou Tarcísio após a depredação em Brasília.

Sua ausência na reunião com os governadores e Lula, porém, passou a ser criticada entre opositores como um sinal de alinhamento de Tarcísio com os golpistas, algo negado por seus aliados.

"Se Tarcísio de fato não for na reunião com os governadores para tratar sobre o tema das manifestações golpistas, ele dá um sinal de que não aceita cooperar para o desmonte desses atos. Estamos acompanhando. Não admitiremos prevaricação", escreveu a deputada estadual Mônica Seixas (PSOL).

Pela manhã, quando a assessoria de Tarcísio informou que o governador faltaria ao encontro com Lula, um dos motivos alegados foi uma reunião já agendada com prefeitos de cidades paulistas atingidas pelas chuvas.

No entanto, no fim de semana, Tarcísio viajou a Balneário Camboriú (SC) para participar de um evento com empresários. Ao lado dele, estava o deputado estadual bolsonarista Frederico D'Avila (PL).

Enquanto isso, Lula esteve em Araraquara (SP) para prestar solidariedade às vítimas das chuvas. A cidade é administrada pelo petista Edinho Silva, que é próximo do presidente e fez parte da equipe da campanha presidencial.

Em junho de 2013, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) convocou uma reunião de emergência com governadores em meio a uma série de protestos pela redução da tarifa do transporte, os 27 governadores compareceram ao encontro em Brasília.

Deputados e integrantes do governo estadual que apoiam Bolsonaro afirmaram à reportagem que apoiam a decisão de Tarcísio de ir a Brasília, pois o governador tem o papel institucional de dialogar com o governo federal —e isso tem que ser compreendido pela sua base eleitoral.

"O governador está correto. A gente não pode apoiar vandalismo, depredação, atos de violência. Se [o encontro com Lula] vai deixar um ou outro decepcionado é por falta de dircenimento de quem está enxergando. Ele tem que conversar com o presidente e com o governo federal", diz o deputado estadual Major Mecca (PL).

Tarcísio tem alternado momentos de aproximação e afastamento do bolsonarismo. Por um lado cercou-se de secretários não políticos, deu menos espaço a aliados de Bolsonaro no governo do que eles pleiteavam e tem o presidente do PSD, Gilberto Kassab, como padrinho. Em uma entrevista à CNN no mês passado, disse que nunca foi bolsonarista raiz.

Por outro lado, como deve sua eleição ao eleitorado de Bolsonaro, agradeceu o ex-presidente em diversas ocasiões, contemplou alguns bolsonaristas radicais em seu secretariado e evita criticar de maneira incisiva as pautas que mobilizam os conservadores.

Integrantes do governo ouvidos pela Folha negaram que a ausência de Tarcísio na reunião com Lula carregaria uma mensagem de endosso aos bolsonaristas. Eles afirmam que o governador repudiou a violência, montou um gabinete de crise e atuou para que não houvesse ações semelhantes no estado, determinando rigor para a Polícia Militar e monitorando focos golpistas.

"É a certeza de que esse é o caminho. A gente vai cumprir a decisão judicial, mas a maneira como ela será cumprida vai ser o diferencial aqui em São Paulo. É uma orientação do governador para que isso seja feito de maneira pacífica, e entendo que assim será", disse Derrite à imprensa.

Pela manhã, após 72 dias, o acampamento na capital começou a ser desmontando pela PM. Os acampados aceitaram os termos sem ressalvas, mas muitos reclamam e gritam contra Lula e os Poderes da República.

Antes de Tarcísio se manifestar no domingo, havia sido dada pelo governo estadual uma ordem para que ninguém opinasse sobre a invasão em Brasília antes de consultar a chefia da administração, para evitar ruídos.

"Caros, todo e qualquer pedido de imprensa sobre a invasão ao congresso nacional para seus secretários e/ou representantes de empresas ou autarquias devem ser imediatamente enviadas e alinhadas com a Secom [Secretaria de Comunicação]. Nada deverá ser respondido ou publicado em redes sociais sem o devido alinhamento", disse mensagem distribuída a membros do governo.

Ao menos um secretário estadual fez comentário em rede social sobre a ação terrorista. Gilberto Nascimento Jr. (PSC), da pasta de Desenvolvimento Social, postou por volta das 15h45 uma foto tirada pelos manifestantes próximos à rampa do Congresso Nacional. A postagem, no Instagram, incluía uma ilustração com a expressão "se liga".

A secretária da Mulher, Sonaira Fernandes (Republicanos), que é bolsonarista, publicou a frase "a igreja ora, prega, vota e protesta, mas não invade".

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