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Estratégia do governo Lula para ampliar base no varejo desafia histórico dos deputados

Poucos parlamentares de partidos independentes ou de oposição demonstraram afinidade com pautas petistas

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São Paulo

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende ampliar a sua base de aliados na Câmara dos Deputados com uma estratégia que, a julgar pelo histórico dos parlamentares, tem baixa chance de sucesso.

A tática consiste em buscar aliados no varejo dentro de partidos que preferiram manter posição de independência em relação ao governo, como PP, Republicanos, União Brasil e Podemos, ou mesmo entre aqueles de oposição, caso do PL.

Uma análise feita pela Folha, porém, mostra que poucos integrantes dessas legendas demonstraram alguma afinidade com as pautas petistas nas últimas duas décadas.

Plenário da Câmara dos Deputados na 56ª Legislatura (2019-2023).
Plenário da Câmara dos Deputados durante a 56ª Legislatura (2019-2023) - Roque de Sá/Agência Senado

Considerando os 190 deputados que já tiveram outros mandatos e hoje integram siglas independentes ou de oposição, apenas 5 tiveram padrão de votação mais próximo ao do PT do que suas atuais legendas.

Silvia Cristina, atualmente no PL-RO, está entre esses parlamentares. Os votos dela estiveram bastante alinhados aos da bancada petista durante boa parte da legislatura passada.

Só que, em 2018, ela foi eleita pelo PDT, sigla de oposição ao governo Jair Bolsonaro. Em março de 2022, Silvia mudou para o PL, legenda do então presidente —e migrou também para o polo oposto no plenário.

A afinidade com as pautas do PT, portanto, talvez se explicasse muito mais pela orientação do antigo partido.

O caso de Cristina, entre outros, sugere que pode ser difícil atrair deputados no varejo, à revelia do que pensam as respectivas direções partidárias —os parlamentares, em geral, têm padrão de votação próximo ao da própria sigla.

Uma exceção, pelo menos até agora, tem sido Dagoberto Nogueira. No PSDB-MS desde abril passado, ele mantém um padrão de proximidade com os votos dos colegas petistas desde a época em que esteve no PDT.

Outra exceção é o deputado Tiririca (PL-SP), em seu quarto mandato no Legislativo. Filiado a um partido que se declara de oposição a Lula, ele tem divergido das votações da sigla desde o governo de Michel Temer (PMDB).

Em outubro do ano passado, por exemplo, Tiririca foi o único deputado do PL a votar contra o requerimento de urgência do projeto de lei 96/2011, que criminaliza pesquisas eleitorais. O tema mobilizou os bolsonaristas entre o primeiro e o segundo turno do pleito.

Os outros dois deputados da lista identificada pela Folha são Rosana Valle, colega de Tiririca no PL-SP, e Damião Feliciano, da União Brasil-PB. Ambos também eram de partidos mais próximos ao PT e mudaram no ano passado: ela saiu do PSB, e ele, do PDT.

O partido de Damião Feliciano recebeu três ministérios no governo Lula, mas se declara independente. Está em situação parecida com a do PSD, que tampouco apoiou o PT na corrida eleitoral, mas também ganhou três pastas como parte dos esforços do presidente para garantir a governabilidade.

Lula tem necessidade de reforçar sua sustentação na Câmara porque contabiliza apenas 223 deputados nas legendas que compõem formalmente a base. Esse número não chega à metade dos 513 parlamentares.

Para aprovar PECs (propostas de emenda à Constituição), por exemplo, são necessários 308 votos; projetos de lei complementar demandam 257.

A lista de aliados formais chegou a 11 legendas além do PT: PSOL, Rede, PC do B, PSB, PV, PDT, Solidariedade, Avante, PSD, MDB e Cidadania. Nem todas, porém, garantem apoio integral ao governo.

Reportagem da Folha mostrou que a fragilidade da base de Lula pode ser ainda maior do que parece, tendo em vista o histórico das legendas aliadas na Câmara dos Deputados nas últimas duas décadas.

De acordo com a análise, o arco de alianças do novo governo reúne partidos com retrospecto antagônico ao do PT no Legislativo, incluindo alguns da esquerda.

A medida de proximidade entre os parlamentares do PT e dos demais partidos foi calculada pela Folha a partir dos resultados de 3.752 votações realizadas entre 2001 e 2022.

Os votos favoráveis recebem valor 1, e os contrários, 0. A métrica representa a distância entre o posicionamento de cada deputado e a média dos votos dos parlamentares petistas, nesta mesma escala.

Foram desconsideradas as abstenções e as votações unânimes, bem como aquelas que não tiveram a participação de nenhum parlamentar do PT.

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