Descrição de chapéu Governo Lula

Lula minimiza elo de ministra com milicianos ao tratar caso só como uma fotografia

Grupo político de Daniela Carneiro mantém vínculo político com diferentes milicianos do Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro e São Paulo

O presidente Lula (PT) buscou minimizar o elo da ministra Daniela Carneiro (Turismo) com milicianos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Em entrevista à CNN Brasil, o petista tratou o caso apenas como uma "fotografia" e ignorou uma série de vínculos da ministra com a milícia fluminense.

"Ela aparecia num caminhão lá com um cara miliciano. Eu sinceramente se for levar em conta pessoas que estão em fotografia ao lado de outras pessoas, a gente não vai conversar com ninguém, porque eu sou o cara que mais tiro fotografia no mundo", disse o presidente na quinta-feira (16).

"Se for pegar fotografia do Lula com gente que virou meu inimigo, eu estou inteiramente lascado para o resto da vida. Vamos julgar direitinho, não vamos ter pressa", completou.

O ex-PM Juracy Prudêncio (de azul), condenado por chefiar uma milícia, participa de ato de campanha da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (à esquerda), em 2018, acompanhados de Giane Prudêncio, mulher do miliciano, e do deputado estadual Márcio Canella (União Brasil) - deputadadanieladowaguinho no Instagram

Reportagens da Folha em janeiro mostraram que a ministra manteve elo político com o ex-PM Juracy Prudêncio, conhecido como Jura, condenado por comandar uma milícia na Baixada Fluminense, e o ex-vereador Marcio Pagniez, o Marcinho Bombeiro, preso preventivamente sob acusação semelhante.

A ministra tem repetido que o apoio político recebido do ex-PM e do ex-vereador não significa compactuar com eventuais crimes cometidos por eles.

O ex-cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi preso em 2009 sob acusação de chefiar uma milícia, chamada Bonde do Jura, que praticava, segundo a Justiça, ameaças, extorsões e homicídios em bairros de Belford Roxo, Queimados, Nova Iguaçu e São João de Meriti, cidades da Baixada Fluminense.

Ele também é acusado de matar um jovem em Nova Iguaçu em razão de uma briga entre a irmã da vítima e a namorada de um dos integrantes do Bonde do Jura. Ele foi condenado em 2014 pelos dois crimes a penas que, somadas, chegam a 26 anos de prisão.

Jura participou de atos de campanha da ministra em 2018, entregando panfletos, participando de reuniões e caminhadas ao lado da então candidata a deputada federal.

Na eleição do ano passado, a mulher do miliciano, Giane Prudêncio, também participou da campanha. Ela esteve no palco no evento de lançamento da candidatura da ministra, bem como organizou caminhadas a favor de Daniela, com uso de material de campanha como bandeiras, faixas, panfletos e adesivos.

A ligação entre a campanha da ministra e o miliciano não é apenas uma foto, como sugeriu Lula. Há fotos e vídeos que mostram participação direta do miliciano na campanha de Daniela. Além das caminhadas em conjunto, Jura foi o anfitrião de um comício no qual esteve no palanque ao lado da ministra, que o abraçou ao chegar ao local.

O miliciano também foi chamado de "liderança" por Daniela após uma caminhada de campanha. Ainda compareceu à festa de aniversário do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), marido da ministra, após a campanha em 2018.

Ex-PM Juracy Prudêncio, condenado por chefiar uma milícia, e a mulher, Giane Prudêncio, participam de festa de aniversário do prefeito Waguinho, marido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil) - Giane Jura no facebook

Jura participou da campanha no período em que cumpria sua pena em regime semiaberto —desde julho de 2017.

Ele tinha autorização para sair da prisão de segunda a sexta-feira e trabalhar das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 14h. A participação em atos de campanha não fazia parte da autorização dada ao miliciano.

O nome de Jura apareceu pela primeira vez na CPI das Milícias no fim de 2008, sob suspeita de controlar cinco bairros de Nova Iguaçu, vizinho a Belford Roxo.

Naquele ano, ele foi o segundo mais votado para a Câmara Municipal da cidade, não tendo assumido o cargo porque sua coligação não atingiu coeficiente eleitoral necessário.

Jura foi preso em 2009 quando já era conhecido na Baixada Fluminense por sua atuação política e as suspeitas sobre ele. A ação da polícia foi seguida por manifestações em alguns bairros da região.

Além disso, a Prefeitura de Belford Roxo, comandada pelo marido da ministra, informou à Vara de Execuções Penais a possibilidade de nomeação do miliciano, a fim de que ele conseguisse progredir para o regime semiaberto e saísse da prisão.

O ex-PM conseguiu progredir para o regime semiaberto após receber oferta de emprego como assessor de uma secretaria da Prefeitura de Belford Roxo, administrado pelo marido da ministra.

A ministra mantém elo político com outros dois outros acusados de chefiar milícia em Belford Roxo (RJ).

Antes de ser nomeada por Lula, Daniela fez campanha no último ano ao lado do vereador Fábio Brasil, o Fabinho Varandão, e de familiares do ex-vereador conhecido como Marcinho Bombeiro. Os dois foram presos em razão das suspeitas.

Respondendo às acusações em liberdade, Varandão compõe desde 2021 o secretariado da Prefeitura de Belford Roxo, comandada por Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (União Brasil), marido da ministra. Atualmente ele está na pasta de Ciência e Tecnologia.

Marcinho Bombeiro segue preso, mas sua irmã e seu pai também foram nomeados na prefeitura. Os dois também tiveram participação ativa na campanha da ministra no ano passado e foram anfitriões de um comício no bairro em que, segundo o Ministério Público, atuava a chamada Tropa do Marcinho.

Daniela foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a presença feminina na montagem do governo.

Também foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do presidente Lula. O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar abertamente o petista na Baixada Fluminense —o marido da ministra, Waguinho, é prefeito de Belford Roxo.

Daniela foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a Folha mostrou em outubro, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários políticos de sua base eleitoral.

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