Descrição de chapéu Governo Lula

Ministra de Lula mantém elo político com outros acusados por milícia no RJ

OUTRO LADO: Titular do Turismo diz que 'não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar e punir'

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Rio de Janeiro

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), mantém elo político com outros dois outros acusados de chefiar milícia em Belford Roxo (RJ) além do ex-PM Juracy Prudêncio, o Jura.

Antes de ser nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Daniela fez campanha no último ano ao lado do vereador Fábio Brasil, o Fabinho Varandão, e de familiares do ex-vereador Márcio Pagniez, o Marcinho Bombeiro. Os dois foram presos em razão das suspeitas.

Respondendo às acusações em liberdade, Varandão compõe desde 2021 o secretariado da Prefeitura de Belford Roxo, comandada por Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (União Brasil), marido da ministra. Atualmente ele está na pasta de Ciência e Tecnologia.

Marcinho Bombeiro segue preso, mas sua irmã e seu pai também foram nomeados na prefeitura. Os dois também tiveram participação ativa na campanha da ministra no ano passado e foram anfitriões de um comício no bairro em que, segundo o Ministério Público, atuava a chamada Tropa do Marcinho.

O prefeito de Belford Roxo, Waguinho, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e o ex-vereador Marcinho Bombeiro, preso sob acusação de integrar uma milícia em Belford Roxo, na entrada do Congresso, em 2019 - Marcio Pagniez no Facebook

A Prefeitura de Belford Roxo disse, em nota, que, independentemente de "possíveis atos cometidos pelo parente", nada desabona a conduta de Rosimery e Aracimy, —irmã e pai de Marcinho Bombeiro, respectivamente.

Rosimery também se apresenta desde setembro de 2021 como despachante nas redes sociais. O município afirmou que a atuação como documentalista "pode ser exercida fora do horário de trabalho".

Sobre Fabinho Varandão, cuja nomeação foi revelada na tarde desta quinta-feira (5) pelo jornal O Globo, o município disse que "não teve nenhum impedimento por parte da Justiça para assumir o cargo". "Sobre a prisão, compete à justiça julgar o processo."

A ministra reafirmou, em nota, que "não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar e punir". "Por fim, esclarece que em sua campanha, em 2022, recebeu o apoio de milhares de eleitores em diversos municípios do estado."

A Folha não conseguiu contato com a defesa do ex-vereador. Num dos processos a que responde, ele negou a autoria dos crimes.

Daniela Carneiro é alvo de pressão desde que a Folha mostrou o vínculo que seu grupo político mantém há ao menos quatro anos com a família de outro miliciano, o Jura.

Ele atuou diretamente na campanha da ministra em 2018, quando já estava condenado a 26 anos de prisão por homicídio e associação criminosa, e por meio de sua mulher, Giane Prudêncio, no ano passado.

Daniela foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a presença feminina na montagem do governo.

Também foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do presidente Lula. O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar abertamente o petista na Baixada Fluminense.

Daniela foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a Folha mostrou em outubro, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários políticos de sua base eleitoral.

Um dos atos de campanha deste ano de Daniela, em 6 de setembro do ano passado, ocorreu no bairro Andrade Araújo, em Belford Roxo. Era neste bairro que, de acordo com o Ministério Público, Marcinho Bombeiro tinha uma milícia.

O ex-vereador era presidente da Câmara Municipal de Belford Roxo até setembro de 2019, quando foi denunciado sob acusação de homicídio e de liderar uma milícia que, de acordo com a Promotoria, agia "com extrema violência e ostentando armas de fogo de grosso calibre pela localidade".

Ele foi preso preventivamente no mês seguinte, em outubro de 2019, sob acusação de tentar matar testemunhas de homicídio pelo qual foi acusado. Meses antes das denúncias, ele gravou um vídeo em apoio à ministra, em sua primeira disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Mesmo na cadeia, Marcinho Bombeiro manteve sua atividade política. Ele se candidatou em 2020 a vereador na cidade e obteve 1.946 votos com uma campanha tocada pela família.

No ano passado, os familiares do ex-vereador se empenharam por Daniela Carneiro e pelo deputado estadual Márcio Canella (União Brasil), com quem a ministra fez "dobradinha" nas eleições de 2018 e 2022. Rosimery, Aracimy e Matheus Pagniez —filho de Marcinho Bombeiro— foram os anfitriões do encontro.

Lula e a ministra Daniela Carneiro durante o anúncio dos últimos nomes que iriam compor a Esplanada dos Ministérios - Pedro Ladeira/Folhapress

Após o contato da Folha, a ministra apagou o registro que havia feito do encontro em suas redes sociais. As fotos, porém, seguem disponíveis na página de Márcio Canella.

Nesta quinta, após contato da reportagem, a ministra também apagou vídeo no qual o miliciano preso declara voto nela nas últimas eleições. Veja abaixo:

"Muito obrigada pelo apoio e confiança, meu amigo Marcinho Bombeiro, presidente da Câmara Municipal de Belford Roxo. Juntos vamos mudar a realidade de toda a Baixada Fluminense, em especial da nossa querida cidade", agradeceu ela, em suas redes sociais.

Rose, como a irmã do ex-vereador é chamada, ocupava desde dezembro de 2021 o cargo de secretária-executiva da Secretaria de Saúde.

Dois meses antes da nomeação, ela divulgou em suas redes sociais a inauguração de um escritório para trabalhar como despachante do Detran-RJ. A página continua no ar com seu número de contato.

Aracimy, por sua vez, ganhou o cargo em setembro do ano passado, período da campanha eleitoral, como vigia da Secretaria de Educação.

Os dois foram exonerados no fim do ano passado por meio de um decreto no qual o prefeito dispensa todos os funcionários de cargo em comissão.

Aracimy, Rosimery e Matheus Pagniez, pai, irmã e filho de Marcinho Bombeiro, acusado de chefiar uma milícia, participam de ato de campanha da ministra Daniela Carneiro e o deputado estadual Márcio Canella (União Brasil); foto foi apagada pela ministra após contato da Folha - Daniela do Waguinho no Facebook

Antes dos dois, uma série de parentes de Marcinho Bombeiro também ocuparam cargos na prefeitura, como a cunhada Cristina e o irmão Alexandre. A própria Rose já havia trabalhado na prefeitura, entre 2015 e 2016. Nenhum deles é alvo de acusação criminal envolvendo o ex-vereador.

Fabinho Varandão foi preso em dezembro de 2018 sob acusação de comandar uma milícia em dez bairros de Belford Roxo. A juíza Alessandra Roidis afirmou, ao determinar a medida cautelar, que o vereador impunha "o terror no município, pois circula armado na região e conta com proteção de seguranças".

Ele acabou solto no ano seguinte, se reelegeu vereador e foi nomeado como secretário em 2021. No ano passado, se empenhou na campanha de Daniela Carneiro, promovendo caminhadas e comícios.

Ele comemorou a nomeação da aliada no Ministério do Turismo. "É tanto orgulho que não cabe no peito! É vitória para o nosso povo de Belford Roxo e para o Brasil!"

Nada desabona conduta de parentes, diz prefeitura

A Prefeitura de Belford Roxo disse, em nota, que Rosimery Pagniez "desempenhava a função de fiscalização em todas as unidades de saúde para dar suporte e atender às necessidades pendentes".

"Era o elo entre os administradores e a Secretaria Municipal de Saúde", diz a nota.

O município afirmou que Aracimy trabalhava como vigia. "Quanto aos possíveis atos cometidos pelo parente, nada desabona a conduta de Rosimery, que sempre teve atuação exemplar nos trabalhos exercidos na prefeitura", disse a administração municipal.

"Sobre sua atuação como despachante documentalista, destaca-se que a função é de profissional liberal e pode ser exercida fora do horário de trabalho da prefeitura."

A ministra reafirmou, em nota, que "não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar e punir". "Por fim, esclarece que em sua campanha, em 2022, recebeu o apoio de milhares de eleitores em diversos municípios do estado."

Sobre Fabinho Varandão, a prefeitura disse que "não teve nenhum impedimento por parte da Justiça" para que ele assumisse o cargo.

A Folha ligou para Rosimery, mas, ao se apresentar, a ligação foi interrompida e não foi possível mais contato. A reportagem não localizou Aracimy.

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