Descrição de chapéu Governo Lula

Lula escolhe ex-diretor da Polícia Federal para comando da Abin

Nome de Luiz Fernando Corrêa foi encaminhado para apreciação do Senado Federal

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o delegado federal Luiz Fernando Corrêa como novo diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

O nome de Corrêa, ex-diretor-geral da Polícia Federal no segundo governo de Lula, foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta (3) e será analisado pelo Senado Federal antes da nomeação.

A confirmação da escolha de Corrêa se dá um dia após o governo oficializar a transferência da Abin para a Casa Civil, retirando-a da responsabilidade de militares.

O presidente Lula (PT) e o então diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa durante evento da PF em 2010
O presidente Lula (PT) e o então diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa durante evento da PF em 2010 - Alan Marques/Folhapress

A mudança começou a ser gestada ainda durante a transição de governo e teve como origem a desconfiança dos petistas em relação aos militares do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), então chefiado pelo general Augusto Heleno, um dos mais próximos aliados de Jair Bolsonaro (PL).

A desconfiança levou Lula, ainda no primeiro dia após a posse, a editar uma medida tirando a segurança presidencial do GSI.

A Abin é responsável por assessorar o presidente da República por meio da produção de conteúdo de inteligência sobre temas estratégicos internos e externos.

Embora os servidores estejam satisfeitos com o novo governo, uma vez que a ida da estrutura do órgão para o controle civil era uma demanda antiga, a indicação de Corrêa é vista como uma derrota.

Os servidores da Abin sempre defenderam a nomeação de oficiais da própria agência para a direção-geral e criticam a indicação de policiais federais para o cargo, como tem ocorrido na maioria dos últimos governos.

Eles citam, segundo a Folha apurou, que a equipe de transição responsável pelo tema chegou a indicar no relatório final a ida para a Casa Civil e a escolha de um servidor do órgão para o comando como sugestões.

Em nota, a Intelis (União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin) afirma que as quatro ocasiões em que a Abin foi dirigida por quadros estranhos à àrea da inteligência de Estado foram marcadas por crises e desvios de atribuição.

Outro delegado da PF, Alessandro Moretti, foi escolhido como diretor-adjunto. A nomeação também foi publicada no Diário Oficial.

Moretti ocupou o cargo de diretor de inteligência policial na PF na gestão de Márcio Nunes, no último ano do governo Bolsonaro.

A Intelis, também na nota, disse ver com receio a nomeação de um delegado como diretor-adjunto.

Corrêa, após aprovação no Senado, vai assumir a Abin em um momento de tensão, após a agência ser envolvida em momentos de crise do governo Bolsonaro.

O principal diretor da agência na gestão do ex-presidente foi o delegado e atual deputado federal Alexandre Ramagem, ex-segurança pessoal de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e amigo da família Bolsonaro.

Uma investigação da PF mostrou como a Abin foi um dos órgãos públicos utilizados por Bolsonaro para levantar suspeitas contra a segurança das urnas eletrônicas.

Outro inquérito da PF apontou para a agência atuando com o objetivo de atrapalhar as investigações sobre Jair Renan, filho do ex-presidente.

O delegado federal também assumiu o comando da PF, no final de 2007, quando a corporação passava por crises decorrentes das primeiras grandes operações realizados no primeiro governo Lula, entre elas a Satiagraha, que investiu contra o banqueiro Daniel Dantas.

Ele substituiu Paulo Lacerda e fez uma série de mudanças que resultaram na saída de delegados mais velhos de cargos de chefia.

À época, a escolha de Corrêa era vista como uma forma de paralisar as investigações que vinham criando problemas para o governo federal.

Em entrevista à Folha após ser substituído do cargo, em 2011, o delegado disse que o contexto da época justificava a preocupação, mas que sua gestão atuou no sentido de melhorar a qualidade das provas dessas investigações.

"O desafio é ter uma prova robusta e observar estritamente a Constituição no que se refere aos direitos individuais. Continuamos com as operações. Diminuímos a visibilidade, mas passamos a ter um objetivo, que é buscar pelo conteúdo e pelo resultado das investigações", afirmou.

Temer e Bolsonaro

Nesta sexta (3), Lula criticou os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) ao participar da entrega de 1.440 moradias populares em Rondonópolis (MT).

Em evento com a participação de políticos ligados a Bolsonaro, como o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), Lula afirmou que foi preciso o PT voltar ao poder para entregar obras que foram iniciadas nas gestões do partido.

"Vocês se lembram que inventaram uma coisa chamada Ponte para o Futuro [programa lançado em 2015 pelo então PMDB, comandado por Temer]. [Dizia que] Era preciso tirar a Dilma [Rousseff] para esse país voltar a crescer e eu vou dizer o que aconteceu nesse país. Esse conjunto que era para ter sido inaugurado em 2014 está sendo inaugurado em 2023, exatamente pelo presidente do PT, exatamente por quem começou a construir essa obra", disse Lula.

O presidente ainda voltou a afirmar que o impeachment de Dilma em 2016 foi um golpe e que recebeu um país semidestruído de Bolsonaro.

Dilma teve o mandato cassado em 2016 em processo de impeachment que tramitou na Câmara e no Senado. Ambas as Casas consideraram que a então presidente cometeu crime de responsabilidade pelas chamadas "pedaladas fiscais", com a abertura de crédito orçamentário sem aval do Congresso. A decisão, no processo e no mérito, foi acompanhada sem contestação pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Sobre o governo Bolsonaro, afirmou que levará um tempo para consertar o país. "Não é uma coisa tão fácil. A gente pegou esse país semidestruído. A gente pegou esse país destruído na área do emprego, do salário, da educação, das políticas sociais, eles acabaram com tudo. Eu seria capaz de oferecer um prêmio para qualquer pessoa de Rondonópolis ou do estado de Mato Grosso que me dissesse um metro de obra que o Bolsonaro fez aqui. Eu duvido", disse.

Colaboraram Marcelo Toledo e Pablo Rodrigo

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