Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Ninguém ganha presente de R$ 16 milhões, diz Haddad sobre joias da Arábia para Bolsonaro e Michelle

Segundo o ministro, governo anterior não adotou os procedimentos para incorporar material ao patrimônio público

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (6) que as joias avaliadas em R$ 16,5 milhões –suposto presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro– deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio público.

"Tudo concorre para o fato de que aquilo que é determinado pelo Tribunal de Contas da União, pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, nada foi observado em relação às joias que constam desse dossiê, estimadas em mais de R$ 16 milhões de valor. O valor estimado é esse. É uma coisa absolutamente atípica, ninguém ganha presente de R$ 16 milhões", afirmou.

Segundo o ministro, a gestão Bolsonaro não adotou os "procedimentos cabíveis" para incorporação das joias recebidas ao patrimônio público.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em entrevista a jornalistas - Pedro Ladeira - 28.fev.23/Folhapress

"A Presidência da República não adotou os procedimentos cabíveis para a incorporação ao patrimônio público, razão pela qual os auditores da Receita Federal com propriedade, com muita razão, informaram o procedimento legal e mantiveram as joias no cofre da Receita Federal em São Paulo, para que elas não fossem apropriadas indevidamente por quem quer que seja", disse.

"Todo presente desse valor necessariamente tem de ser incorporado ao patrimônio público. Se um cidadão comum receber um presente, quiser trazer para o Brasil, tem de declarar", acrescentou.

Haddad ressaltou que o caso está sendo apurado cuidadosamente. "Todo zelo na condução do processo está sendo mantido para que não haja amanhã anulação de provas ou evidências. Está tudo sendo feito com muito cuidado para que se chegue a uma conclusão. Se houver culpados, eles têm de ser responsabilizados."

Questionado sobre a nomeação do então secretário especial da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, em 30 de dezembro para a Embaixada do Brasil em Paris, o que foi revogado posteriormente no governo Lula, Haddad disse que "tudo vai ser apurado na forma da lei" e que não poderia "precipitar um processo sem garantir ao suspeito o direito de se defender".

Mas o ministro da Fazenda afirmou que se sentiu "desconfortável" com a criação de cargos para adidos da Receita Federal no exterior no fim do governo Bolsonaro.

"No ano passado, eu me senti muito desconfortável com a criação desses adidos no exterior, me parecia uma coisa muito imprópria ser feita a toque caixa de maneira a mandar esses servidores ao exterior. Hoje fica mais claro que alguma coisa estranha estava acontecendo, precisa ser apurada e investigada e eventualmente os responsáveis punidos", afirmou.

Mais tarde, na abertura da comemoração oficial da Semana da Mulher, o ministro fez referência ao episódio ao citar o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. "Quero registrar a presença aqui do secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, a quem não se deve temer, a menos que você tente se apropriar de patrimônio público", ironizou.

O episódio afrontou regras tanto na tentativa de ingresso das joias no Brasil como na interpretação sobre o que é público e o que é pessoal no acervo de um presidente da República.

Segundo caso revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo na sexta-feira (3), um conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP) assim que o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque e a delegação brasileira desembarcaram no país.

De acordo com o ex-ministro e documentos, mais de um pacote foi entregue pelo governo saudita por ocasião da missão brasileira –sem a presença de Bolsonaro– na Arábia Saudita.

Como revelou a Folha, um recibo oficial mostra que um dos supostos presentes enviados pelo governo da Arábia Saudita por intermédio de Albuquerque foi entregue para compor o acervo pessoal de Jair Bolsonaro (PL).

O pacote inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard e supostamente destinados ao ex-presidente. Ele estava na bagagem de um dos integrantes da comitiva brasileira que esteve no país do Oriente Médio em outubro de 2021 e não foi interceptado pela Receita Federal.

Em nota, o órgão disse que "o fato pode configurar em tese violação da legislação aduaneira também pelo outro viajante, por falta de declaração e recolhimento dos tributos".

"Diante dos fatos, a Receita Federal tomará as providências cabíveis no âmbito de suas competências para a esclarecimento e cumprimento da legislação aduaneira, sem prejuízo de análise e esclarecimento a respeito da destinação do bem", acrescentou.

No sábado (4), após evento nos Estados Unidos, Bolsonaro disse que não pediu nem recebeu qualquer tipo de presente em joias do governo da Arábia Saudita. Segundo ele, a Presidência notificou a alfândega.

"Eu agora estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi. Vi em alguns jornais de forma maldosa dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.