Disputas regionais travam federação com PSB, PDT e Solidariedade

Negociação esbarra na falta de sintonia entre os partidos para as eleições municipais de 2024

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador e Recife

A negociação para uma federação entre PSB, PDT e Solidariedade, iniciada em março, esbarra na falta de sintonia entre os partidos para as eleições municipais previstas para o próximo ano.

A despeito de serem do mesmo campo político e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os três partidos têm interesses conflitantes nas disputas de prefeituras de capitais como São Paulo, Salvador, Fortaleza, Recife, Natal e Curitiba.

Federação partidária é a união de dois ou mais partidos que devem atuar, por ao menos quatro anos, como se fosse um partido único. A regra vale inclusive para a atuação nos Legislativos e para disputas eleitorais durante a vigência.

As eleições municipais são vistas como estratégicas para os partidos ampliarem o número de prefeitos e vereadores, que atuariam como cabos eleitorais de candidatos a deputado em 2026.

Deputada Tabata Amaral (SP); prefeito de Fortaleza, José Sarto; e a deputada Lidice da Mata (BA) são pré-candidatos nas eleições municipais de 2024 - Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Em São Paulo, principal colégio eleitoral em disputa no próximo ano, os interesses são divergentes.

O PSB quer lançar a deputada federal Tabata Amaral à prefeitura, o PDT apresentou a pré-candidatura do apresentador José Luiz Datena e o Solidariedade faz parte da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e tende a apoiar a sua reeleição.

O conflito faz com que dirigentes partidários apostem em uma aliança apenas na eleição de 2026.

Presidente municipal do PDT, Antonio Neto defende que a atuação conjunta no Congresso pode ser um ensaio para a federação: "A ideia é fazer o noivado primeiro para só depois pensar em um casamento".

Nesta quarta (12), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atraiu os três partidos para formar um bloco junto com outros seis, totalizando 173 deputados e se tornando a maior força da Casa.

Antonio Neto afirma que há resistência no partido a um possível apoio à candidatura de Tabata Amaral, que já foi filiada ao PDT e deixou o partido de forma ruidosa em 2021 em meio a conflitos internos.

Na Bahia, PDT e PSB estão em campos opostos. Enquanto o PSB é aliado histórico do PT baiano, o PDT apoiou a candidatura de ACM Neto (União Brasil) ao Governo da Bahia no ano passado.

A disputa pela Prefeitura de Salvador em 2024 seria um novo entrave entre as duas siglas.

O PDT é o partido de Ana Paula Matos, vice-prefeita na gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil). Ambos devem concorrer à reeleição no próximo ano. O PSB, por sua vez, lançou a pré-candidatura da deputada federal Lídice da Mata, que já foi prefeita da cidade de 1993 a 1996.

Presidente do PDT na Bahia, o deputado federal Félix Júnior defende que os partidos com mandato no Executivo tenham prioridade na federação.

Lídice da Mata, presidente do PSB baiano, antecipa as dificuldades: "Estamos em lados diferentes na Bahia. Um dos lados vai ter que ceder e vou lutar para que não seja o meu".

Em Curitiba, há ao menos quatro pré-candidatos à prefeitura nos três partidos que negociam a federação: o deputado federal Luciano Ducci (PSB), o senador Flávio Arns (PSB), o deputado estadual Goura (PDT) e o deputado federal Luizão Goulart (Solidariedade).

Presidente do PSB no Paraná, Luciano Ducci defende a federação já em 2024 e diz que o debate não pode ser prejudicado por questões locais: "Todas as pendências são perfeitamente resolvíveis. Basta ter bom senso e seguir critérios objetivos".

Outro imbróglio está no Rio Grande do Norte, onde os três partidos estão em lados opostos. O mais cotado do PSB para disputar a Prefeitura de Natal é o ex-deputado Rafael Motta, que perdeu a disputa para o Senado em 2022. Um dos rivais foi o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), que pode disputar o pleito municipal da capital novamente.

A situação no estado é tida como uma das mais delicadas, em razão das rivalidades acirradas entre PDT e PSB.

No Recife, o PDT é aliado do PSB, partido do prefeito João Campos, que quer disputar a reeleição e é favorável à federação já em 2024. Já o Solidariedade é comandado pela ex-deputada federal Marília Arraes, derrotada no segundo turno para o Governo de Pernambuco em 2022.

Uma eventual federação poderia colocar os primos de segundo grau juntos. Adversários em 2020 na eleição para a prefeitura, João Campos e Marília Arraes não são próximos politicamente. A situação ficou menos tensa após o apoio dele à ex-petista no segundo turno da eleição estadual de 2022.

Marília Arraes não tem sinalizado intenção de disputar a prefeitura da capital novamente. Uma parte dos seus aliados defendem que ela pleiteie a Prefeitura de Olinda.

Em Fortaleza, o prefeito Sarto Nogueira (PDT) está com relação estremecida com o PSB –dois vereadores do partido romperam com a gestão e migraram para a oposição nas últimas semanas. O vice-prefeito Élcio Batista deixou o PSB e migrou para o PSDB.

PDT e PSB ensaiaram uma aproximação nas eleições municipais de 2020, quando fecharam alianças em 45 cidades com mais de 100 mil habitantes, incluindo dobradinhas em ao menos oito capitais.

A parceria era para ser uma espécie de laboratório para as eleições de 2022, mas os dois partidos seguiram caminhos distintos na eleição presidencial: o PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes, enquanto o PSB compôs a chapa liderada por Lula que saiu vitoriosa das urnas.

As cúpulas de PSB, PDT e Solidariedade têm praticamente um consenso em torno da federação para as eleições de 2026. Para 2024, há divergências internas nas três legendas.

No Solidariedade, o principal defensor é o ex-deputado Paulinho da Força, enquanto a bancada na Câmara resiste ao vínculo já para o próximo ano. No PSB, João Campos, influente no comando do partido, é entusiasta da federação já para 2024.

O ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, está cético quanto à federação para o próximo ano, de acordo com integrantes da Executiva do partido. Mas uma ala da bancada na Câmara, encabeçada pelos deputados federais do Ceará, defende a construção.

O objetivo dos partidos com a federação é criar musculatura nas negociações com o governo federal, além de terem maior robustez para atingir a cláusula de desempenho nas próximas eleições. Em 2022, o Solidariedade elegeu quatro deputados federais e não conseguiu superar a cláusula. Para alcançar o patamar mínimo, incorporou outra legenda: o Pros.

PSB e PDT, por sua vez, tiveram desempenho aquém do histórico das legendas no Congresso. Os pedetistas elegeram 17 deputados federais e os pessebistas viram sua bancada cair para 15 parlamentares na Câmara.

Os partidos estão em processo de consultas internas e discutem quais seriam os critérios para escolher quem comandará a federação em cada estado. Um dos critérios seria o maior número de votos na última eleição para deputado federal. Mas haveria prevalência dos partidos nos locais onde eles elegeram o governador ou o prefeito da capital.

Erramos: o texto foi alterado

Antonio Neto é presidente municipal do PDT em São Paulo, não presidente estadual, como afirmou versão anterior deste texto 
 

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.