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FBI não está no Brasil para investigar atos antidemocráticos, ao contrário do que diz vídeo

Órgão não tem nem jurisdição para conduzir operações em território brasileiro, afirma Embaixada dos Estados Unidos

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São Paulo

É enganoso que o FBI (Federal Bureau of Investigation), a Polícia Federal dos Estados Unidos, tenha desembarcado no Brasil para investigar os atos de 8 de janeiro, como afirma vídeo viral no TikTok. A embaixada norte-americana esclareceu à reportagem que "os representantes dos Estados Unidos não têm mandato ou jurisdição para conduzir operações em território brasileiro".

No site da instituição, o FBI, como verificou o Projeto Comprova, esclarece que só faz investigações em outros países mediante convite. O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, afirmou à BBC News em janeiro que o Brasil não solicitou formalmente cooperação para investigação.

O homem que aparece no vídeo afirma que a suposta vinda do FBI ao Brasil teria sido desencadeada por um pedido de deputados do Partido Democrata dos Estados Unidos.

Como publicaram a BBC News e o Washington Post, um grupo de 46 deputados democratas assinou uma carta enviada ao presidente norte-americano, Joe Biden, pedindo que o país tomasse medidas para evitar servir de "refúgio" ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que, à época, estava nos Estados Unidos. Os parlamentares associam ações de Bolsonaro à invasão do dia 8 de janeiro ao Palácio do Planalto, Congresso e STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília.

Pessoas de camiseta verde e amarela em frente ao prédio do STF. Céu com nuvens
Manifestantes na praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro - Gabriela Biló - 8.jan.2023/Folhapress

A carta tem uma citação ao FBI, mas não implica na vinda de agentes norte-americanos ao território brasileiro: "Pedimos que o FBI e outras agências relevantes de aplicação da lei dos Estados Unidos investiguem quaisquer ações que tenham sido tomadas em solo dos Estados Unidos para organizar este ataque ao governo brasileiro". Ou seja, a investigação solicitada seria para averiguar se os atos antidemocráticos foram organizados e/ou coordenados por pessoas que estavam nos Estados Unidos.

Diferentemente do que aponta o vídeo desinformativo, não foi por causa da suposta vinda do FBI ao Brasil que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou esclarecimentos à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados. Os objetivos da convocação eram esclarecer as mudanças na política de controle de armas do governo federal; explicar as ações adotadas no âmbito de seu ministério e do governo após os ataques ocorridos no dia 8 de janeiro; esclarecer a visita que fez ao Complexo da Maré; além de fazer um balanço dos primeiros meses de atuação à frente do Ministério, citando prioridades e diretrizes para o resto do ano.

À reportagem, o Ministério da Justiça disse que "a hipótese constitui um disparate" e que "tal investigação pelo FBI não existe e é juridicamente impossível".

Como não houve vinda de agentes do FBI ao Brasil, esta também não foi a motivação para a volta do ex-presidente Bolsonaro ao país, como afirma o autor do conteúdo de desinformação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 10 de abril, a postagem no TikTok havia sido vista 359,9 mil vezes e recebido 16,7 mil curtidas e 1,3 mil comentários.

Como verificamos

Primeiramente, buscamos no Google por "FBI desembarca no Brasil para investigar" e "FBI desembarca no Brasil para investigar atos golpistas de Brasília". Encontramos checagens de conteúdos similares feitas por outras agências de fact-checking (Lupa e Boatos.org).

A busca também retornou uma reportagem da BBC de janeiro deste ano relacionada ao tema.

Na sequência, pesquisamos por "Flávio Dino CCJ" e encontramos o link do vídeo da audiência, na íntegra, da qual o ministro participou recentemente na Câmara.

Por fim, a partir das pistas obtidas após a leitura dos conteúdos, enviamos e-mail à assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos e ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Também tentamos contato com o autor do vídeo viral.

O que diz o responsável pela publicação

A reportagem tentou contato com o autor do post a partir de uma conta no Twitter que leva o mesmo nome do perfil que publicou o vídeo no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

O que podemos aprender com esta verificação

O autor da postagem enganosa usa artifícios para gerar a ilusão de importância e urgência em quem vê o vídeo, como a expressão "Bomba!", logo no início, acompanhada de trilha sonora dramática. Esses elementos servem para prender a atenção da pessoa que entra em contato com a peça de desinformação e para impulsionar o compartilhamento do post, que parece apresentar uma informação "bombástica", "exclusiva".

Outro sinal de que o vídeo não se baseia em informações confiáveis é que, em nenhum momento, o autor cita a fonte do conteúdo que está divulgando.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Outras checagens sobre o tema

A agência Lupa e o site Boatos.org checaram recentemente vídeos distintos que afirmam que o FBI estaria no Brasil para investigar o governo Lula ou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

O FBI também já apareceu em outras peças de desinformação checadas pelo Comprova. Nesta, identificamos ser falso que o órgão tenha pedido extradição e prisão do ministro Alexandre de Moraes.

A investigação desse conteúdo foi feita por Grupo Sinos e A Gazeta e publicada em 10 de abril pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Estadão, Plural Curitiba, O Popular e imirante.com.

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