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Homens dançando ao som de 'Infiel' não são ministros do governo Lula

Diferentemente do que sugerem posts, Flávio Dino e José Múcio não protagonizam a coreografia da música de Marília Mendonça

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São Paulo

São enganosos posts que circulam nas redes sociais associando um vídeo de dois homens dançando a música "Infiel", de Marília Mendonça, aos ministros da Justiça, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio Monteiro. Nas imagens, gravadas em um bar, a dupla faz uma performance ao redor de uma mesa de sinuca. Uma das peças de desinformação insere sobre as imagens a frase "ministro da Defesa dando show em churrasco", enquanto a outra inclui a legenda "Dinossauro tá animada, hein ?!". "Dinossauro" é a nomenclatura que as redes bolsonaristas têm usado para designar Flávio Dino.

O vídeo, como verificado pelo Projeto Comprova, é de 2017 e foi feito no bar Amigos de Farra, na Prainha de Grossos, no Rio Grande do Norte. Além de ser possível, pelas imagens, identificar que não são os ministros, ao Comprova, o dono do bar negou a presença de qualquer ministro no local e indicou o nome de um dos homens que aparece no vídeo. O frequentador do bar apontado falsamente como Flávio Dino é, na verdade, Nelson Filho, radialista do município potiguar de Mossoró. Ele próprio confirmou a informação e acrescentou que, na ocasião, estava acompanhado de um amigo, que sequer é político. "Não tem nem cabimento isso, porque nem de longe parece com o ministro", disse.

Print de tela de vídeo no TikTok. Vídeo aparece pequeno no centro da tela, com homem de camiseta branca de costas, em um ambiente com mesa de sinuca e outras pessoas em pé. Ao redor da imagem do vídeo uma moldura preta e, no alto, centralizado, o texto, em letras garrafais: "Ministro da Defesa dando show em churrasco"
Captura de tela de post enganoso, que não mostra ministros de Lula dançando em bar - Reprodução/TikTok

As imagens da coreografia feita pela dupla chegaram a ser compartilhadas por Nelson à época e foram parar, inclusive, na página oficial da cantora (morta em 2021) no Facebook —a publicação acumula 4,9 milhões de visualizações.

As assessorias de imprensa dos ministérios da Justiça e da Defesa também desmentiram a informação de que as pessoas que aparecem no vídeo seriam os ministros das respectivas pastas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de março de 2023, o post no Telegram tinha 6,6 mil visualizações, já a publicação no TikTok somava 25,3 mil compartilhamentos, 24,4 mil curtidas e 7,5 mil comentários.

Como verificamos

Primeiramente, buscamos por "ministros de Lula dançando em bar" no Google, que retornou com checagens da Lupa e do Boatos.org. A verificação da Lupa localizou uma publicação do site Buzzfeed de seis anos atrás sobre o mesmo vídeo, indicando que o conteúdo é antigo. O texto não identifica quem são os homens, mas registra que o vídeo viralizou nas redes sociais naquela época.

Também comparamos as fotos dos ministros, disponíveis nos sites do Ministério da Justiça e da Defesa, com prints das imagens que mostram os homens dançando. Como a qualidade do vídeo viral estava baixa, usamos a ferramenta Clicdrop para melhorar a resolução. Em seguida, colocamos as imagens lado a lado, usando recurso do site Montagem de Fotos.

Ainda que as fotos apontassem pouca semelhança entre eles, entramos em contato com as assessorias de imprensa dos ministérios, que negaram que fossem os ministros nas imagens.

Diante da negativa, partimos para a identificação da dupla que aparece em primeiro plano no conteúdo viral. Decidimos, então, buscar pistas no próprio vídeo. Na parede do bar, era possível ler "Amigos de Farras" e "Bar & Restaurante".

A partir dessa identificação, procuramos por essas palavras-chave no Google e encontramos um estabelecimento de mesmo nome localizado na chamada "Prainha", cujas imagens correspondiam às do cenário do vídeo viral. Junto ao endereço do bar, havia um número de celular. A partir dele, conseguimos contato por WhatsApp com o dono, Marcos Antonio Neves Eufrasio.

Eufrasio nos passou o nome do homem de camiseta branca que aparece dançando e informou que ele seria da cidade de Mossoró. Na sequência, fizemos nova busca no Google por "Nelson Filho Mossoró" e encontramos um texto publicado em um blog local, que traça um perfil do radialista.

Procurando pelo nome do autor do blog no mesmo buscador, chegamos a uma revista da região, em que o blogueiro atua como colunista. Em contato com a revista, conseguimos o telefone de Nelson Filho. Por WhatsApp, o homem confirmou ser ele a pessoa que aparece no vídeo viral, acompanhado de um amigo.

O vídeo chegou a ser compartilhado pelo próprio Nelson e pela página oficial da cantora Marília Mendonça no Facebook no dia 9 de fevereiro de 2017. "Adorooooo!!! Aôooo sofrência!!!!!", escreveu a equipe da cantora com a hashtag #Infiel, nome da música.

O que diz o responsável pela publicação

A reportagem não conseguiu contatar o perfil Selva Brasil Oficial pelo Telegram, mas fez contato com o perfil @selvabrasiloficiall no Instagram. Não houve resposta até a publicação desta checagem.

O perfil @DodoBarbosa22, responsável pela publicação no TikTok, foi procurado por mensagem direta no Twitter, mas não respondeu e bloqueou a jornalista.

O que podemos aprender com esta verificação

Peças de desinformação costumam se aproveitar de vídeos com baixa qualidade de imagem para enganar sobre a identidade das pessoas. Por vezes, a resolução pode ser reduzida propositalmente na intenção de dificultar a identificação dos atores.

Também é comum que vídeos antigos que viralizaram há mais tempo voltem a ser explorados, em outros contextos, para espalhar desinformação.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Outras checagens sobre o tema

Esse conteúdo também foi verificado pela Lupa e pelo site Boatos.org. O Comprova já desmentiu outros boatos envolvendo o nome de Flávio Dino, que, frequentemente, tem sido alvo de desinformadores. Já atestou, por exemplo, que o ministro não eximiu o governo de combater armas ilegais, ao contrário do que é dito nas redes sociais e que Dino não se reuniu com criminosos.

A investigação desse conteúdo foi feita por UOL e Grupo Sinos e publicada em 31 de março pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Estadão, A Gazeta e Plural Curitiba.

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