Lula ignora desgaste e pressão e diz que ministro do GSI saiu 'por conta própria'

Gonçalves Dias pediu demissão do governo após presidente e ministros avaliarem impacto de novas imagens do 8/1

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (20) que o general Gonçalves Dias, agora ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), decidiu sair do governo "por conta própria".

Quando se dirigia para um evento no Planalto, o mandatário foi questionado por dois jornalistas se havia ficado chateado com a demissão do ministro, seu amigo de longa data.

"Não. Ele saiu por conta própria", afirmou o presidente ao Valor e ao O Tempo.

O presidente Lula com o general Gonçalves Dias durante evento do gabinete de transição - Pedro Ladeira - 29 dez.22/Folhapress

A fala de Lula acontece um dia após a demissão do ministro, desgastado com a divulgação de imagens de dentro do Palácio do Planalto durante a invasão de 8 de janeiro.

Imagens do circuito interno de segurança, divulgadas nesta quarta-feira pela CNN Brasil, mostram que os vândalos receberam água dos militares e cumprimentaram agentes do GSI durante os ataques.

Naquele dia, mostram as imagens, o próprio general Gonçalves Dias, chamado de GDias pela equipe do governo e circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.

Para o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), a saída do general do governo está "equacionada". "Ele tomou a atitude que teria de ter tomado, que é pedir demissão, e o presidente aceitou. Então, bola para frente", disse Alckmin.

O vice-presidente ainda evitou avaliar o comportamento de Dias durante a invasão. "Vamos ouvi-lo", afirmou. Alckmin também disse que cabe a Lula estudar se altera ou não a estrutura do GSI.

Nesta quarta-feira, o então chefe do GSI era esperado para comparecer nesta quarta à Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre o 8 de janeiro. De última hora, após a divulgação das imagens, o general alegou problemas de saúde e cancelou a sua participação.

Horas depois, ele foi ao Palácio do Planalto para se reunir com Lula.

Antes disso, o mandatário já havia convocado uma reunião de emergência com ministros mais próximos para discutir a situação do chefe do GSI. Participaram Alckmin, os ministros Flávio Dino (Justiça), Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.

Nessa reunião, diante da pressão e do desgaste, saiu o entendimento de que GDias deveria pedir demissão. Nenhum dos presentes se posicionou ou argumentou contra a saída do ministro do GSI. A ação foi consumada na sequência na reunião de Lula com o general.

A relação de amizade entre o general Gonçalves Dias e Lula é antiga. Foi o militar que chefiou a segurança do petista durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010), atuando como uma espécie de sombra em agendas no Brasil e no exterior.

Em entrevista à GloboNews logo após a demissão, o general se defendeu das acusações de leniência sua e do órgão que comandava durante os atos golpistas de 8 de janeiro.

O general disse ser um "absurdo para a sua imagem" associá-lo ao agente do GSI que oferece água aos manifestantes e que colocou seu cargo à disposição, embora esteja "muito triste", para que a investigação seja feita.

Gonçalves Dias também se defendeu das críticas por aparecer nas imagens indicando a saída para os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Afirmou que essa ação fazia parte da estratégia, de buscar cercá-los no segundo andar do palácio, para que todos fossem presos.

"A nossa técnica aqui dentro depois, depois da invasão, foi retirar as pessoas do quarto piso, retirar do terceiro, colocá-los no segundo e, no segundo, efetuar a prisão. Prendemos mais de 250 pessoas aqui dentro, que invadiram, que depredaram", afirmou.

"Ninguém fala, mas nós preservamos o terceiro piso praticamente todinho, o coração do Planalto que é a sala do presidente. Ela foi preservada, toda a ala do gabinete pessoal foi preservada e o quarto piso foi preservado por completo desses invasores", completou.

O GSI esteve largamente associado a Bolsonaro nos últimos quatro anos. O então chefe do órgão, general Augusto Heleno, nomeou militares de sua confiança que carregavam um grande sentimento antipetista.

Esse foi um dos motivos pelos quais, ainda durante a atuação do gabinete de transição, a equipe de Lula tenha decidido passar a segurança oficial do presidente do GSI para a Polícia Federal.

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