Descrição de chapéu Folhajus

Mulher de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro admite uso de certificado falso de vacinação

Ela também afirmou à PF que seu marido foi responsável por inserir dados inverídicos no sistema do Ministério da Saúde

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Cid, admitiu em depoimento à Polícia Federal que usou certificado falso de vacinação contra a Covid-19.

Segundo a Folha apurou, ela culpou o marido, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pela inclusão de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.

Gabriela é investigada no inquérito que apura se foram inseridas no sistema da pasta informações fraudulentas sobre a imunização de Bolsonaro, de Cid e de quatro familiares dele.

Mauro Cid foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na Presidência - Adriano Machado-18.jun.19/Reuters

Na quinta-feira (18), Mauro Cid optou por ficar em silêncio em oitiva na PF. A ida à sede da corporação foi a primeira vez em que ele deixou a cadeia desde 3 de maio, quando foi detido por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Além do ex-mandatário, a PF também apura a inclusão de informações fraudulentas no sistema do ministério em relação ao casal Cid e suas três filhas.

A defesa de Bolsonaro afirma nos bastidores que a opção pelo silêncio da parte de Mauro Cid se deu porque seus advogados não tiveram acesso à íntegra do conteúdo que foi extraído do celular do militar.

No dia em que Cid foi preso, a PF fez uma operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro e prendeu outros assessores do ex-presidente.

A investigação aponta que foi inserido no sistema como se Bolsonaro tivesse tomado duas vacinas contra a Covid-19, a primeira delas em 13 de agosto e a segunda em 14 de outubro de 2022.

A inserção desse registro retroativo de vacinação na rede do Ministério da Saúde, porém, só ocorreu em 21 de dezembro, pouco antes de o então presidente viajar para os Estados Unidos. No dia seguinte, em 22 de dezembro, o certificado de vacinação de Bolsonaro foi emitido de dentro do Palácio do Planalto.

Dias depois, em 27 de dezembro, novamente houve uma emissão de certificado e, em seguida, o usuário em nome da chefe de vacinação de Duque de Caxias apagou o registro do sistema com a justificativa de "erro".

Em representação a Moraes, a PF aponta Mauro Cid como principal articulador do esquema.

Segundo a PF, Bolsonaro tinha ciência da inserção fraudulenta dos dados no sistema. "Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento", diz a PF.

Na terça-feira (16), Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre a investigação do caso. O ex-presidente disse que não determinou a inserção de dados falsos na sua carteira de vacinação e na de sua filha. Também afirmou que só teve conhecimento da adulteração quando esse tema começou a ser divulgado pela imprensa, em fevereiro deste ano.

Bolsonaro afirmou ainda não acreditar que o seu ex-auxiliar tenha arquitetado a ação criminosa, que não a determinou, e que se ele o fez, "foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação" dele.

O depoimento de Mauro Cid passou a ser visto como uma incógnita, em particular após a troca na defesa do militar. O advogado Rodrigo Roca anunciou na semana passada que deixaria o caso.

Roca é conhecido por ser próximo à família de Bolsonaro e já advogou para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso que ficou conhecido como "rachadinhas", em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde exerceu o mandato entre fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.

A defesa de Jair Bolsonaro apostava na admissão de culpa do tenente-coronel Mauro Cid, avaliando que ele não teria outra alternativa a não ser reconhecer ter adulterado certificados de imunização.

A avaliação de interlocutores do próprio ex-presidente ouvidos pela Folha é que a investigação da PF trouxe elementos robustos e difíceis de serem refutados por Cid. Eles citam, por exemplo, as trocas de mensagens e os acessos do próprio celular do militar à conta do então mandatário no aplicativo do ConecteSUS.

Também nesta quinta-feira, a CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou a convocação do tenente-coronel Mauro Cid. A sua fala, no entanto, não vai se dar por causa da adulteração dos cartões de vacinação.

O objetivo é ouvir Cid sobre os ataques aos três Poderes em 8 de janeiro e o episódio de 12 de dezembro, quando vândalos tentaram invadir a sede da PF, em Brasília, e atearam fogo em ônibus e carros.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.