MST diz que Rui Costa vetou participação de sem-terra em palanque com Lula na Bahia

Deputado afirma que, segundo ministro da Casa Civil, presença do movimento criaria constrangimento; Rui Costa nega

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Salvador, Recife e São Paulo

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) afirmou que foi vetado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, de participar de ato do governo federal realizado nesta quinta-feira (11) em Salvador com a presença do presidente Lula (PT).

Ao lado do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), Lula lançou o Brasil Participativo, plataforma digital que permitirá a participação da população nas decisões sobre como devem ser investidos os recursos federais. O ato teve participação de sindicalistas e ativistas de movimentos sociais.

Governador Jerônimo Rodrigues (à esq.) e o presidente Lula em evento em Salvador - Ricardo Stuckert/PR

O veto ao MST foi anunciado pelo deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), cuja trajetória política é ligada aos movimentos pela reforma agrária. Em uma rede social, ele afirmou que o veto partiu do ministro da Casa Civil. E informou que, por causa do veto, não participaria da solenidade: "O MST tem história de luta e merece respeito."

Em conversa com a Folha, o deputado confirmou o veto. Disse que o cerimonial da Presidência da República entrou em contato com o MST e que Rui Costa informou que a presença dos sem-terra na solenidade criaria constrangimento.

"Rui Costa foi governador por oito anos. Nos últimos seis, ele não recebia movimento social nem sindical. É uma característica dele", criticou Assunção. O deputado também destacou que a criação da CPI do MST na Câmara pode ter motivado a decisão do ministro.

"Além disso, há uma CPI na Câmara Federal e tem um debate de uma CPI no estado. Acredito que isso motivou ele a dizer que a presença do MST causaria constrangimento", afirmou Assunção.

Em nota, o ministro Rui Costa negou que tenha vetado a participação dos militantes do MST no evento. Presente na solenidade, o ministro optou por não discursar nem falou com a imprensa.

Ceres Hadich, integrante da direção nacional do MST, disse lamentar a atitude do ministro e reforçou que ele segue convidado para a Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, que deve receber uma série de ministros e de governadores até domingo.

"Recebemos com um pouco de surpresa essa notícia, acredito que não seja uma postura do governo federal. Lamentamos a postura do ministro. Foi um ponto fora da curva", afirmou Hadich à imprensa.

O MST da Bahia afirmou em nota que foi surpreendido com o pedido do ministro de vetar a participação do movimento no ato. E destacou que, nos dias anteriores ao evento, havia participado de reuniões com os cerimoniais do Governo da Bahia e da Presidência da República.

"O ministro [Rui Costa] quer repetir no governo federal o trato que ele sempre deu aos movimentos sociais na Bahia enquanto governador, de falta de diálogo e participação coletiva nas construções e debates", diz.

A entidade disse ainda que, apesar do veto, o "continua acreditando e defendendo o governo Lula e o governo Jerônimo na Bahia".

O imbróglio acontece no mesmo dia de lançamento da feira em São Paulo. Considerado um dos eventos mais importantes liderados pelo MST, ele vai oferecer 500 toneladas de alimentos orgânicos produzidos pelas famílias assentadas em 24 estados.

O MST enfrenta conflitos com o governo Lula, que indicou irritação com as invasões realizadas pelos sem-terra durante o chamado abril vermelho e ainda não anunciou um plano para criação de novos assentamentos rurais nos próximos anos.

Em entrevista à Folha, João Paulo Rodrigues, integrante da coordenação nacional do MST destacou a autonomia da entidade e disse que o movimento "não aceita coleira ou focinheira" do governo.

Ao mesmo tempo, destacou que o MST não quer criar tensões com Lula e diz entender que a repercussão das invasões na imprensa foi desproporcional.

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