MST diz haver uma linha política interessante no governo Tarcísio em SP

Na Feira da Reforma Agrária, na capital paulista, integrantes do movimento dizem que governador e prefeito Ricardo Nunes são bem-vindos

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São Paulo

Membro da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Gilmar Mauro afirmou nesta quinta-feira (11) ver uma "linha política interessante" no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e na gestão de Ricardo Nunes (MDB), ambos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).

"Eu acho que há uma linha política interessante aqui no governo do estado, como na Prefeitura de São Paulo, boas conversas", disse Gilmar Mauro à imprensa no primeiro dia da 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no parque da Água Branca, zona oeste da capital paulista.

Montagem da feira de produtos agroecológicos do MST, que começa na quinta (11), em São Paulo - Marcelo Gonçalves/Folhapress

Após João Doria ter proibido a realização da feira no local em sua gestão, Tarcísio voltou a autorizar o evento. A intermediação entre o MST e o governo estadual foi feita pelo secretário estadual Gilberto Kassab (PSD), de Governo e Relações Institucionais.

A última feira nacional do MST ocorreu em 2018, já que no ano seguinte houve o veto do então tucano, que havia sido eleito com forte discurso contrários aos partidos e movimentos de esquerda.

O parque pertence à esfera estadual, por isso a autorização do Palácio dos Bandeirantes é necessária. Nos três anos seguintes, o evento não foi realizado em razão da pandemia.

"Embora tenha uma identidade do Tarcísio com o bolsonarismo —ele se elegeu em função disso—, mas um governador, na medida que eleito, é governador de toda a sociedade, assim como o presidente Lula [PT]", disse Gilmar.

"Quando você privatiza o Estado é que vamos ter problema, porque aí você governa para um setor só."

Gilmar disse ainda que Tarcísio e Nunes serão bem recebidos se comparecerem à feira. O prefeito deve comparecer, mas o governador é dúvida —Kassab, por sua vez, é esperado no local. "Nossa intenção é conversar com todo mundo", disse o dirigente.

Como mostrou a Folha, o MST e a relação com o agronegócio viraram motivo de tensão nas relações entre a gestão Tarcísio e o governo Lula.

Recentemente, Tarcísio, que é mais moderado que Bolsonaro e busca ter abertura com a esquerda e o governo federal, direcionou críticas especificamente ao MST.

Em entrevista à GloboNews, na semana passada, disse que era "menos grave" que o ex-presidente comparecesse à Agrishow do que que o líder do MST João Pedro Stedile estar na comitiva de Lula à China. Na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), evento voltado para produtores agrícolas, disse que invasores de terras terão a cadeia como destino.

Tarcísio ainda escolheu o advogado Felipe Carmona Cantera para o cargo de diretor de administração e finanças da Fundação Itesp, responsável pelas questões agrárias e fundiárias em São Paulo. Braço direito do deputado federal Mario Frias (PL-SP), Carmona é bolsonarista e armamentista.

Nos bastidores, integrantes do MST minimizam os ataques de Tarcísio, que veem como acenos para sua base eleitoral.

Na prática, dizem que o que interessa é ter diálogo com os secretários, como Kassab, para apresentar demandas. No governo Geraldo Alckmin (PSB), o MST tinha reuniões regulares com os secretários, o que acabou com Doria.

Em sua fala à imprensa, Gilmar ainda sugeriu que o enfrentamento com Tarcísio ficará para um segundo momento. O PT já ajuizou uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para questionar uma lei estadual que permite a venda de terras públicas devolutas.

"Esperamos inclusive que essa relação [com Tarcísio] avance para a arrecadação de terras públicas no estado de São Paulo. O Pontal do Paranapanema tem um monte de terra pública devoluta, que é do governo. Então temos uma pauta com o governo estadual, mas não estamos misturando a pauta agora. Agora é feira, liberação do parque. Depois vamos prosear com o governo do estado, com quem o governador indicar para encaminhar nossa pauta de negociação", disse.

Questionado sobre o presidente Lula, Gilmar afirmou que o MST, apesar de ter ajudado a eleger o petista, "é independente e tem autonomia". "Entendemos que precisamos resolver o problema do nosso povo", disse ainda.

Em entrevista à coluna Mônica Bergamo, da Folha, Stedile afirmou que o governo federal está "lento" e que o MST, ainda que defendendo o presidente, aumentará a "pressão social".

Na entrevista à imprensa, Gilmar defendeu as invasões de terra, que ele chama de ocupações, e disse que a produção de alimentos exibida na feira só foi possível "porque a gente fez ocupação anteriormente no passado".

"Reforma agrária é ocupação sim e vai continuar sendo. [...] A reforma agrária está na Constituição", completou, ressaltando que o movimento existe para atender aos interesses dos sem-terra.

Ceres Hadich, também membro da direção do MST, afirmou que a reforma agrária é uma luta constitucional e legítima, além de um caminho para acabar com a fome no país.

"Se alimentar é um ato político e reforma agrária é um ato político", disse Hadich, para quem o propósito do MST também é oferecer alimento saudável para o povo.

Os dirigentes minimizaram a CPI que mira o MST na Câmara dos Deputados, afirmando que seu objetivo é apenas desgastar o governo federal.

"É uma tentativa de nos deixar no canto do ringue, mas vamos continuar nos organizando", disse Hadich.

Na opinião dos dirigentes, a feira, que vai até domingo (14), é também um instrumento de pressão pela reforma agrária e um modo de demonstrar apoio da população ao movimento.

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