Descrição de chapéu Folhajus TSE

Bolsonaro diz à Folha que TSE fará uma afronta caso o torne inelegível; assista

Ex-presidente fala em seguir 100% ativo na política e afirma que, caso inelegível, perderia 'um pouquinho desse gás'

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O ex-presidente Jair Bolsonaro embarca para Porto Alegre onde deve acompanhar o seu julgamento no TSE

O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com a Folha na entrada especial para autoridades no Aeroporto de Brasília, antes de embarcar para Porto Alegre Gabriela Biló/Folhapress

Brasília e Porto Alegre

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse à Folha nesta quinta-feira (22) que será uma afronta caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o torne inelegível. Ele disse ainda que gostaria de continuar 100% ativo politicamente e que, com essa eventual decisão do tribunal, perderia "um pouquinho desse gás".

A declaração foi dada poucas horas antes do início do julgamento que pode cassar os seus direitos políticos. Bolsonaro seguiu para Porto Alegre pela manhã para participar de encontros da Transposul.

De acordo com a atual legislação, caso condenado, ele estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado portanto de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).

Bolsonaro embarca em Brasília para Porto Alegre, momentos antes de o TSE iniciar o julgamento - Gabriela Biló - 22.jun.23/Folhapress

"Na minha idade, [o que] gostaria de fazer, continuar ativo 100% na política. E, tirando seus direitos políticos que, no meu entender, é uma afronta isso aí, você perde um pouquinho desse gás", disse.

"Então eu acredito que o que eu fiz ao longo de quatro anos é algo para ser estudado. Bandeira do Brasil, o pessoal passou a respeitá-la, cantar hino nacional, aprenderam a dar valor a liberdade. Conheceram as instituições", completou.

Os planos do PL para o ex-chefe do Executivo incluem viagens semanais, encontros com parlamentares e montagem dos diretórios municipais e chapas, de olho nas eleições do ano que vem.

Questionado sobre os ânimos com o julgamento desta quinta, Bolsonaro disse não se iludir, mas também não falou em sucessores. "Com a minha idade, não vou me iludir", afirmou.

"Desculpa aqui, não gosto de falar no 'se' [for declarado inelegível]. (...) A gente não pode partir dessa linha de que [eu] estaria jogando a toalha. O que que eu vejo, qual a acusação principal contra mim? Reunião com embaixadores. Isso é crime? Dois meses antes dessa minha reunião o senhor Edson Fachin se reuniu com embaixadores também. A política externa é privativa do presidente da Republica."

Bolsonaro também mencionou na entrevista reportagem do Financial Times que diz que os Estados Unidos pressionaram políticos e militares para respeitarem o resultado das eleições do Brasil, em meio aos ataques às urnas eletrônicas.

O ex-presidente, contudo, viu nos fatos narrados pela reportagem uma possível interferência indevida na disputa em que perdeu no segundo turno para Lula (PT).

"Mandei colega meu dar parecer mais acurado sobre isso", disse. "Matéria [está] bastante consistente, acredito que tenha fundamento. Citando, inclusive, alguns militares e alguns civis, autoridades obviamente né, que contribuíram... A palavra mais certa seria interferiram... Com ações por ocasião das eleições não favoráveis a mim", afirmou à Folha.

Bolsonaro evitou, contudo, dizer se tomará alguma medida a respeito do episódio. "Deixa o pessoal estudar melhor".

Ainda que Bolsonaro diga que espera que o tribunal não casse os seus direitos políticos, já é dado como certo no seu entorno que não haverá pedido de vista e que o resultado será desfavorável.

O julgamento começou nesta quinta-feira, com perspectiva de terminar na próxima quinta (29).

"Hoje começa o meu julgamento político. Ou melhor, não é político, é politiqueiro. Da mais baixa intenção por parte de alguns. Não estou aqui atacando o TSE, longe disso. Mas a fundamentação é coisa inacreditável. ‘Reuniu-se com embaixadores'. O outro cara no ano passado se reuniu com a nata do PCC no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e vai se reunir agora com a nata do Foro de São Paulo também", disse o ex-presidente no começo da tarde, no Rio Grande do Sul.

Na campanha de 2022, Lula (PT) participou de evento no Complexo do Alemão, e bolsonaristas espalharam a fake news associando um boné com a sigla "CPX" usado pelo petista a grupos criminosos (a inscrição é a abreviação da palavra "complexo", nome dado a conjuntos de favelas, e não uma gíria falada por traficantes de drogas).

A partir da análise do conteúdo do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF investiga um plano de golpe em curso no ano passado. Nesta quinta, questionado por jornalistas se tinha conhecimento de alguma minuta golpista, Bolsonaro disse que "não".

"Não existe golpe com respaldo jurídico. Golpe é pé na porta, é arma na cara, meu Deus do céu. Golpe não é domingo, golpe se depõe alguém."

O ex-presidente fez menção ao artigo 142 da Constituição, que trata do papel das Forças Armadas e é usado de forma distorcida por bolsonaristas para defender um golpe militar.

"Ninguém vai dar golpe com fundamento na Constituição, dá pra entender isso? Quando você fala por exemplo de estado de defesa, estado de sítio, 142, GLO, tudo isso são remédios previstos na Constituição. Quando se fala em 142, Congresso e Judiciário podem usar esses remédios", afirmou.

"Quando se fala diretamente a palavra golpe, é muita infantilidade achar que golpe se dá rascunhando um documento com ônus da Constituição. Golpe não tem papel, tem fuzil, meu Deus do céu. Dá pra entender isso?", insistiu Bolsonaro.

O ex-presidente começou a ser julgado nesta quinta a partir de uma ação movida pelo PDT em agosto de 2022 pedindo que TSE o torne inelegível. Na época, o partido tinha Ciro Gomes como candidato a presidente.

Bolsonaro vinha se mantendo recluso, mas, na véspera do julgamento deu uma guinada na sua estratégia, alinhado com advogados, e voltou a falar publicamente.

Segundo aliados, a estratégia é agora tentar usar do "púlpito" um espaço para influenciar a opinião pública e reforçar o argumento de que é vítima de um processo injusto.

Um dos principais argumentos é a comparação do seu julgamento no TSE com o da cassação da chapa Dilma-Temer, algo que seus interlocutores já vinham reforçando nos bastidores há meses. Enquanto o da petista demorou anos, o dele ocorreu em meses.

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