Heleno diz que 8/1 não foi tentativa de golpe, o que exigiria líder e planejamento

Ex-ministro presta depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF

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Brasília

O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), afirmou nesta quinta-feira (1º) que os ataques às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro não foram uma tentativa de golpe contra a democracia.

Ele disse à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal que não havia planejamento nem líder —em esforço para blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Um golpe, para ter sucesso, precisa ter líderes, um líder principal, que esteja disposto a assumir esse papel. Não é uma atitude simples, considerando o tamanho do Brasil. Esse termo ‘golpe’ está sendo usado com extrema vulgaridade, e não é simples avaliar que uma manifestação possa caracterizar um golpe", disse Heleno.

General Heleno na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF - Gabriela Biló/Folhapress

O ex-ministro ainda disse que um golpe coordenado poderia ter sido bem-sucedido.

"Ele teria condições de acontecer se tivesse sido planejado. Isso é no mundo inteiro, verificamos no mundo inteiro, às vezes acontece essa história. Mas é um processo que não é assim, sair para rua e dar um golpe, ainda mais em um país como o Brasil", disse Heleno após negar que tivesse atuado na articulação dos acampamentos golpistas em frente aos quartéis-generais.

Augusto Heleno prestou depoimento nesta quinta após ter cancelado o primeiro convite para esclarecer a atuação do GSI diante dos acampamentos golpistas. O general disse que só conheceu as manifestações por "fotografia" e que elas pareciam "sadias, onde se fazia muitas orações".

"Eu acho que o acampamento foi uma atividade que durou muito tempo, sem nenhum acontecimento de maiores consequências ruins e foi uma experiência nova em termos de manifestação política ordeira e disciplinada, que deve ter acrescentado algumas coisas nos movimentos políticos brasileiros", disse o ex-ministro.

Apesar da declaração de Heleno, integrantes do acampamento realizaram ao menos três atentados. O primeiro, em 12 de novembro, quando eles queimaram ônibus e carros e tentaram invadir a sede da PF (Polícia Federal) após a prisão de um líder indígena.

Outra, na véspera do Natal, quando o bolsonarista George Washington Sousa tentou explodir um caminhão-tanque no Aeroporto Internacional de Brasília. O último, em 8 de janeiro, com a depredação das sedes dos Poderes.

Heleno ainda negou que o fato de Bolsonaro ter atacado a Justiça Eleitoral, as urnas eletrônicas e não ter reconhecido o resultado das eleições tenha inflado manifestações golpistas de seus apoiadores.

Ele disse que o ex-presidente teria sinalizado que respeitaria o resultado eleitoral ao afirmar, após debate eleitoral no segundo turno, que "quem tiver mais votos leva". E afirmou que não caberia a ele nem ao Exército, após os ataques de dezembro, dar declarações confirmando que a posse do presidente eleito Lula (PT) tomaria posse.

"Na história do Brasil está muito nítido que o Exército sempre se pautou pela legalidade, democracia e por esses princípios democráticos. Isso não tinha razão para ser dito", disse. "Eu, como ministro, não podia passar por cima do presidente e fazer algo que seria da competência dele".

Heleno isentou o general Gonçalves Dias, que o sucedeu na chefia do GSI, dos ataques de 8 de janeiro. Ele afirmou que não é possível se tornar um "expert" da pasta em pouco tempo. "É natural, essas mudanças de funções geram isso", completou.

Ele também se negou a comentar a atuação do major José Eduardo Natale, que entregou água para os golpistas que estavam próximos ao gabinete presidencial durante os ataques.

O ex-ministro se contradisse ao ser questionado pelo deputado distrital Fábio Felix (PSOL) sobre a interação que teve com um apoiador de Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada em 19 de dezembro.

Na ocasião, Heleno foi questionado se "bandido sobe a rampa" —grito de ordem adotado por bolsonaristas radicais que acamparam na frente do QG do Exército. O então ministro respondeu que "não".

"Não tinha nome na pergunta e eu continuo achando que ladrão não sobe a rampa. Continuo achando isso, não tinha nome na pergunta", disse Heleno à CPI. Em dezembro, o ex-ministro havia negado a resposta ao portal Metrópoles.

"O senhor acha correto responder para nós dessa forma? Porque nós estamos em um contexto, o senhor é uma liderança política desse setor, que estava acampado na frente dos quartéis. Me parece incorreto o senhor responder dessa forma para nós, porque, desculpa, com todo o respeito, parece uma brincadeira com a nossa inteligência", respondeu Felix.

Heleno complementou dizendo que haviam sido feitas "várias perguntas na mesma hora" e que os jornalistas "atribuíram esse ‘não’ à pergunta ‘se ladrão sobre a rampa". "Não tem maior problema nisso, não. As narrativas é que são fantasiosas", afirmou.

Os deputados distritais também questionaram Heleno sobre a minuta de decreto encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres que sugeria um golpe de Bolsonaro contra o TSE. O general respondeu que não participou de reuniões com o ex-presidente sobre o assunto.

"É um documento apócrifo que fazia algumas conjecturas que nunca foram consideradas, porque era um documento sem credibilidade, sem construção que pudesse ser respeitada e colocada em execução", disse.

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