PF quebra sigilo de celular de assessor de Lira e encontra grupo sobre kit robótica

Luciano Cavalcante, cuja exoneração foi publicada na segunda (5), é suspeito de ter recebido dinheiro em hotel

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Brasília

As investigações da Polícia Federal sobre os supostos desvios de recursos públicos da educação mostram que o ex-assessor parlamentar Luciano Cavalcante participava de um grupo de WhatsApp denominado "Robótica Gerenciamento", do qual fazia parte, entre outras pessoas, a sócia da empresa apontada como o pivô do esquema —a Megalic.

Mais próximo assessor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Luciano teve sua exoneração da Liderança do PP publicada na segunda-feira (5).

Arthur Lira e seu assessor Luciano Cavalcante (de branco) em evento em Alagoas em outubro de 2022
Arthur Lira e seu assessor Luciano Cavalcante (de branco) em evento em Alagoas, em outubro de 2022 - oficialarthurlira no Instagram

A PF cumpriu na semana passada mandados de prisão e de busca e apreensão contra aliados de Lira em uma investigação sobre desvios em contratos para a compra de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

As verbas chegaram ao órgão por meio das chamadas emendas de relator, controladas à época pelo presidente da Câmara.

A investigação da PF teve origem em reportagem da Folha publicada em abril do ano passado sobre as aquisições dos kits em municípios de Alagoas, todas assinadas com a Megalic, empresa pertencente a aliados de Lira.

Tanto o presidente da Câmara quanto a empresa negam qualquer relação com malfeitos.

De acordo com o inquérito da PF, dados fornecidos pelo WhatsApp mostraram que o grupo "Robótica Gerenciamento" era integrado por Luciano Cavalcante, Roberta Lins Costa Melo, sócia da Megalic, e outras quatro pessoas.

Aliados de Lira na mira da PF

Quem é quem na investigação sobre desvio de verba com kit robótica

  • Edmundo Catunda

    próximo a Lira e dono da empresa Megalic, vencedora de licitação do kit

  • Murilo Sergio Juca Nogueira Júnior

    policial, empresário e dono da picape emprestada a Lira e do cofre apreendido com R$ 4,4 milhões

  • Luciano Cavalcante

    principal assessor de Lira exonerado após operação da PF

  • Glaucia Cavalcante

    esposa do até então principal assessor do presidente da Câmara

A PF afirma que Luciano manteve contato com alguns dos investigados sob suspeita de fazerem constantes entregas de dinheiro vivo e que, em ao menos uma ocasião, foi o destinatário de quantia sacada momentos antes em agências bancárias.

Em 17 de maio deste ano, por exemplo, o casal Pedro Magno Salomão Dias e Juliana Cristina Batista, suspeitos de promover as entregas de dinheiro vivo, foram monitorados por equipe da PF sacando dinheiro em uma agência de Brasília e, depois, dirigindo-se à garagem do Complexo Brasil 21, na região central da capital federal.

Nessa ocasião, a PF fotografou e obteve imagens que mostram a suposta entrega do dinheiro sacado a Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, motorista de Luciano, dentro de um Corolla preto.

"Pelas imagens, é possível perceber que os investigados permanecem no interior do veículo (...) por menos de 1 minuto. Neste momento, segundo o relato do policial, é possível afirmar que Pedro Magno deixa 'pacotes de dinheiro' no porta-luvas do veículo Corolla preto."

Ainda de acordo com relatório da PF, momentos depois o motorista sobe até o apartamento em que o assessor parlamentar estava.

  • PF monitorou suposta entrega de dinheiro a motorista de assessor de Lira; veja vídeo

A polícia afirma que as informações repassadas pelo WhatsApp mostram que, no mesmo dia, houve "intensa troca de mensagens" entre Pedro Magno e Luciano Cavalcante.

"No mesmo sentido, a análise dos dados telemáticos de WhatsApp identificou que Luciano Cavalcante e Pedro Magno trocaram a quantidade de 83 mensagens no curto período entre 09/05/2023 e 21/05/2023", diz a PF, que também encontrou 51 ligações por áudio entre eles.

A PF aponta que o casal Pedro e Juliana é titular de várias empresas, algumas delas sem sede física ou funcionamento efetivo, mesmo realizando diversas transações financeiras entre essas empresas.

As empresas do casal receberam repasses expressivos da Megalic e de seu sócio, Edmundo Catunda.

  • Na imagem abaixo, Edmundo Catunda e Arthur Lira em reunião em Alagoas

homens sentados em torno de uma mesa retangular
Arthur Lira (PP-AL), de camisa branca, à direita na mesa, e aliados, como o vereador João Catunda (à direita de Lira) e o pai, Edmundo Catunda (primeiro à esquerda), dono da empresa Megalic, que vende kits de robótica pra prefeituras - Reprodução

A investigação da PF mostra ainda que o casal realiza frequentemente saques em espécie, sempre fracionados em lotes abaixo de R$ 50 mil, e em diversas agências bancárias, tudo isso seguido de entregas pessoais de valores "a prováveis agentes públicos e/ou pessoas que figurem como contratadas em contratos públicos".

As entregas, de acordo com a PF, ocorreram ao menos nas cidades de Brasília (DF), Luziânia (GO), Goiânia (GO), Florianópolis (SC) e Maceió (AL)".

"A hipótese aventada aqui é que o casal Pedro e Juliana sejam especializados na prática de crimes de lavagem de capitais, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de desvios de recursos públicos das mais variadas naturezas e oriundos de diversos entes públicos, possibilitando o retorno do capital aos autores dos delitos antecedentes, com alguma aparência de licitude", diz relatório da PF.

Defesa de investigados negam suspeitas

O advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, afirma que as imagens "não indicam nenhum ato ilícito praticado pelos investigados muito menos por Luciano que sequer aparece nelas."

Segundo ele, os fatos serão "devidamente esclarecidos no decorrer das investigações."

Callegari também defende Wanderson e afirmou sobre o caso do motorista que até o momento ele "tem contra si somente imagens sem qualquer comprovação de fato ilícito praticado".

Em nota assinada pelo advogado Eugênio Aragão, a defesa da Megalic afirmou haver "grave equívoco" nas suspeitas e que todos os contratos se deram a partir de parâmetros técnicos do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, com processo licitatório e ampla competitividade.

A nota diz que o Tribunal de Contas da União não viu direcionamento nem preços incompatíveis e que a reportagem da Folha que deu origem à investigação fez comparação indevida dos produtos da Megalic com kits de qualidade inferior.

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