Descrição de chapéu Governo Lula

Reunião de Lula tem queixa de ministra ameaçada sobre Orçamento e ordem para liberar cargos

Rui Costa fala em materializar compromissos com Congresso, e Daniela Carneiro cita dificuldades financeiras de ministério

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Brasília

A terceira reunião ministerial realizada pelo presidente Lula (PT) em seu atual mandato foi marcada por cobranças ao primeiro escalão para melhorar a relação no Congresso e por queixas orçamentárias relatadas pela ministra do Turismo, Daniela Carneiro, que deve perder seu cargo nos próximos dias.

O encontro ocorreu nesta quinta-feira (15) em meio à pressão pela demissão de Daniela e por críticas de parlamentares sobre a articulação política do Palácio do Planalto.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse na reunião ser preciso reverter a imagem de que o governo é avesso aos parlamentares.

Ele transmitiu a ordem para a liberação mais rápida de cargos e, em tom de cobrança, afirmou haver mais de 400 nomes indicados na administração federal que não chegaram a ser incluídos no sistema pelos demais ministros.

O represamento das nomeações foi uma das reclamações do Congresso na disputa com o Executivo, que chegou a colocar em risco a aprovação da MP (medida provisória) da reestruturação da Esplanada dos Ministérios.

A ministra Daniela Carneiro durante reunião ministerial no Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

Após o término da reunião, o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou à imprensa que o pedido de Lula para acelerar as nomeações indicadas por políticos seria uma forma de "materializar os compromissos" que o governo assumiu com o Congresso.

"Já tem uma quantidade de cargos que foram indicados e os ministérios referentes às indicações ainda não colocaram [os nomes] no sistema. O presidente fez pedido para que isso seja feito o mais breve possível", disse o ministro, ressaltando que o tom de Lula foi por "colaboração mútua" entre os membros do primeiro escalão do governo.

Daniela defendeu seu trabalho à frente da pasta e fez referências às dificuldades financeiras enfrentadas. Ela citou uma frase motivacional do filósofo Mario Sergio Cortella ao indicar que seu ministério tinha o menor orçamento da Esplanada. "Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda", afirmou.

O Palácio do Planalto vem sofrendo pressão da União Brasil para que demita a ministra do Turismo e nomeie no lugar o deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA).

Eleita pelo partido, Daniela pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para se desfiliar por causa de divergências do seu grupo político com o comando da legenda. O marido dela, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, já migrou para o Republicanos.

Na terça-feira (13), Lula se reuniu com Daniela e Waguinho para tratar da situação política e indicou que a pasta deve passar por mudança de comando.

Nos últimos dias, a ministra participou de audiências na Câmara e no Senado para explicar as prioridades de sua pasta.

Na Câmara, Daniela afirmou haver machismo na pressão pela sua demissão e disse que seguia leal ao presidente Lula, independente das decisões futuras.

Nesta quinta, a reunião ministerial teve transmissão da fala de abertura de Lula. O petista disse que seu governo vai encerrar a fase em que ministros apresentam novas ideias e projetos para iniciar uma etapa apenas para cumprir tudo o que foi planejado.

"A gente vai ter que lançar esse programa [PAC 3], porque vocês sabem que daqui para a frente a gente vai ser proibido de ter novas ideias, a gente vai ter que cumprir aquilo que já teve capacidade de propor até agora. A única coisa que pode mudar são a criação de escolas, porque cada vez que uma pessoa pede uma escola, eu vou dizer que nós vamos fazer", afirmou.

"[Que] essa reunião possa dar para nós, sobretudo para os companheiros da Casa Civil, que recebe os projetos, que a gente possa sair daqui com a certeza que o governo já tem no papel e na cabeça tudo aquilo que a gente vai fazer até o dia 31 de dezembro de 2026", completou Lula.

O encontro envolveu os titulares de praticamente todas as pastas e durou mais de nove horas.

Em relação à articulação, Padilha disse que a equipe de Lula é formada por políticos experientes sob a liderança de um "Pelé e um Tostão" —referindo-se a Lula e ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

Ele pediu para os ministros que, quando viajarem aos estados, avisem previamente os parlamentares locais para que acompanhem as agendas oficiais. Essa é outra queixa dos parlamentares.

O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), afirmou que sua pasta está abarrotada de pedidos de investigação. Por isso as operações da Polícia Federal e outros órgãos não seriam culpa dele ou do ministro Vinicius Carvalho (Controladoria-Geral da União).

A PF deflagrou recentemente operação contra aliados do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), envolvidos em um suposto esquema criminoso de compra de kits de robótica.

Em outro ponto da reunião, Lula saiu em defesa da ministra da Saúde, Nísia Trindade, que, segundo ele, estaria "apanhando" bastante. A pasta vem sendo cobiçada pelo centrão, em particular por integrantes do PP de Lira.

A ministra falou além dos dez minutos previstos para cada participante. Lula então brincou que ela, que já era blindada por Padilha, agora estaria sendo protegida por Rui Costa (Casa Civil) —responsável pela condução da reunião e por controlar os tempos de fala.

Rui Costa é um dos principais alvos de reclamações dos deputados. Numa tentativa de melhorar a articulação, Rui se reuniu nesta quinta com Lira.

Segundo aliados de Rui, o pedido de reunião partiu do próprio ministro e contou com o incentivo de Lula. A ideia é que o ministro assuma um papel de estrategista político do governo daqui para frente —e não seja apenas um executor de obras.

Em outro movimento, Rui almoçou na quarta (14) com o líder da União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA). Os dois são adversários políticos na Bahia.

Também durante a reunião ministerial, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) voltou a reclamar da alta de juros definida pelo Banco Central. Disse que a instituição presidida por Roberto Campos Neto está vivenciando uma "certa alienação" ao manter o índice no mesmo patamar.

Haddad ainda afirmou que, pela primeira vez, o governo está sendo ajudado pelo Judiciário, que vem decidindo no sentido de segurar pautas bombas para o governo.

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