Descrição de chapéu Folhajus STF TSE

Hostilidade a Moraes partiu de outro grupo, e citados por PF foram envolvidos depois, diz defesa

Advogado de família fala em 'entrevero', nega ofensa a ministro e diz que discussão envolveu acompanhantes, mas evita comentar agressão a filho de magistrado

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Brasília

A defesa do empresário Roberto Mantovani Filho e familiares alega que não partiu deles a ação de hostilidade ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), no aeroporto de Roma na sexta-feira (14), mas que eles foram envolvidos posteriormente no que chamam de "entrevero".

Neste domingo (16), um dos envolvidos no episódio, o corretor de imóveis Alex Zanatta Bignotto, genro do empresário, prestou depoimento por duas horas à Polícia Federal e negou a acusação de ofensa a Moraes. Mantovani e a esposa, Andreia Munarão, serão ouvidos na terça-feira (18).

De acordo com o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, seus clientes não foram ao local para hostilizar o ministro, "mas estavam apenas passando e houve um encontro fortuito". A defesa evita comentar, porém, a agressão ao filho de Moraes, atribuída a Mantovani.

O ministro Alexandre de Moraes preside o Tribunal Superior Eleitoral - Pedro Ladeira - 29.jun.2023/ Folhapress

Em nota, a família afirmou que lamenta o episódio e fala na "existência de equívoco interpretativo em torno dos fatos". Pede desculpa pelo "mal entendido havido, externando o veemente respeito que nutrem pelas autoridades públicas, extensivo aos seu familiares".

"As ofensas atribuídas como se fossem de Andreia ao ministro Alexandre de Moraes foram, provavelmente, proferidas por outra pessoa, não por ela", disse no comunicado.

Segundo a defesa, "dessa confusão interpretativa nasceu desentendimento verbal entre ela e duas pessoas que acompanhavam o ministro" e, "diante dessa discussão, que ficou acalorada diante das graves ofensas direcionadas a Andreia, Roberto, que tem mais de 70 anos, precisou conter os ânimos do jovem ofensor".

O advogado disse que a família Mantovani chegou ao aeroporto da capital italiana, para embarque ao Brasil, cinco horas antes do voo e procurou uma sala VIP.

Em um primeiro espaço de acesso restrito, afirmou o advogado, o grupo foi informado que estava cheio e que, sem uma reserva, não seria possível ficar. Teria, então, buscado um outro.

Bignotto, a esposa e as filhas (duas crianças, de 2 e 4 anos) seguiam mais à frente, acompanhados atrás por Mantovani, esposa e Giovanni (filho de 20 anos de Mantovani e Munarão), segundo essa versão.

Foi naquele momento, de acordo com o advogado, que o ministro do Supremo e seus familiares teriam chegado ao local, e os dois grupos se cruzado.

"Algumas pessoas, provavelmente, vinham acompanhando e hostilizando [o ministro e seu grupo]. Ou seja, eles já vinham sofrendo a ação de algumas pessoas. Nesse exato momento em que tinham ficado para trás o sr. Roberto, a esposa e o filho. Eles foram, de certa forma, envolvidos nesse momento."

Roberto Mantovani (direita), esposa e genro são abordados pela PF ao desembarcar no Brasil - Arquivo pessoal

De acordo Stettinger, uma das pessoas que acompanhavam o ministro teria entrado em atrito com Andreia Munarão.

"O filho do ministro Alexandre de Moraes sai em solidariedade à esposa porque ela teria sido ofendida. E ele começa a ofender a esposa do sr. Roberto", disse o advogado.

Essa discussão teria evoluído para uma agressão ao filho de Moraes, atribuída ao empresário do interior de São Paulo. A Polícia Federal apura a acusação. A defesa disse que não comenta.

"Com relação ao episódio da agressão que é atribuída ao sr. Roberto, ele pediu, quer ele dar os esclarecimentos [à PF] na terça-feira."

A família nega que tenha havido qualquer menção ou ofensas ao ministro. "Eles reconhecem que houve um entrevero entre parte do grupo deles e parte do grupo do ministro Alexandre. Ofensas em relação ao ministro, não", afirmou o advogado.

Segundo informações colhidas pelos investigadores da PF, um grupo dirigiu ao integrante do Supremo e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) expressões como "bandido", "comunista" e "comprado".

Mantovani disse que policiais federais estiveram na casa dele às 6h deste domingo para intimá-los, mas que, como ele e a esposa tinham viagem para um aniversário de um neto em Santa Catarina, eles prestariam depoimento depois.

No sábado (15), o empresário afirmou à Folha que avistou Moraes no aeroporto internacional de Roma, mas que não falou com ele. "O que eu posso falar para você é que eu vi realmente o ministro. Ele estava sentado em uma sala, mas eu não dirigi nenhuma palavra a ele", disse.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou ao Ministério Público Federal que tome as medidas cabíveis. Aras, que está fora do país, enviou uma mensagem ao magistrado manifestando a sua solidariedade e disse classificar a agressão como "repulsiva".

Moraes participou na Itália de um fórum internacional de direito realizado na Universidade de Siena. Ele compôs mesa no painel Justiça Constitucional e Democracia, da qual participou ainda o ministro André Ramos Tavares, integrante também do TSE.

Moraes se tornou nos últimos anos o principal algoz do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Judiciário, comandando inquéritos que atingem o ex-presidente no STF.

Também comandou o TSE nas eleições de 2022 e no julgamento do mês passado que decidiu pela inelegibilidade de Bolsonaro até 2030.

Moraes já foi alvo de xingamentos por parte de Bolsonaro, que, nos últimos dois anos, já chegou a se referir ao ministro como "vagabundo" e como "canalha".

O caso em Roma motivou uma série de manifestações de solidariedade ao ministro.

Neste domingo, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou pelas redes sociais que as agressões contra ele são inadmissíveis.

"Inadmissíveis as agressões ocorridas contra o ministro Alexandre de Moraes. Manifesto toda minha solidariedade ao ministro e a sua família, e repudio a forma desrespeitosa e agressiva dos atos perpetrados. O Brasil votou pela democracia. O clima de ódio e desrespeito provocados por alguns não pode continuar", escreveu.

Colega de Supremo, o ministro Gilmar Mendes também se manifestou em uma rede social. "A truculência violenta de extremistas jamais poderá ser aceita como forma legítima de manifestação política. Debate público se faz com ideias e argumentos", afirmou.

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