Descrição de chapéu Governo Tarcísio

Bolsonaro pede a Tarcísio cargo nos EUA para mãe de neta

Ex-presidente nega pedido pessoal em favor de Martha Seillier, que deixou cargo no BID

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São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quer que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) acomode a mãe de uma de suas quatro netas em um cargo do Executivo paulista nos Estados Unidos.

A negociação para que Martha Seillier seja indicada para liderar o escritório da agência de fomento de negócios InvestSP nos EUA ocorre há pelo menos duas semanas, desde que a economista voltou ao Brasil de Washington.

O ex-presidente afirmou à Folha, por meio de sua assessoria, que não fez nenhum pedido pessoal ao aliado. Tarcísio não se pronunciou, mas auxiliares próximos disseram a mesma coisa, ressaltando que a opção do governador passa pelo currículo de Seillier e pela proximidade de ambos nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.

Bolsonaro com Martha Seillier, em foto postada no Facebook pela ex-secretária
Bolsonaro com Martha Seillier, em foto postada no Facebook pela ex-secretária - Martha Seillier no Facebook - 8.dez.2021

No governo, contudo, as tratativas são consideradas como um pedido de Bolsonaro justamente pelas razões pessoais envolvidas. Seillier trabalhava numa diretoria do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) reservada ao Brasil e ao Suriname, desde maio do ano passado.

Ela havia sido indicada pelo seu chefe na ocasião, Paulo Guedes, a quem serviu por três anos como secretária especial do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) no então Ministério da Economia de Bolsonaro.

No começo deste ano, o site Metrópoles revelou que ela estava grávida de um dos filhos de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos (Republicanos). A criança, Júlia, nasceu em fevereiro —sugerindo de forma temporal que ela já poderia estar a caminho quando a mãe ganhou o cargo nos EUA.

Ninguém na família fala sobre o assunto, por ordem de Bolsonaro e desejo de privacidade de Seillier, segundo aliados do ex-presidente.

A Folha enviou mensagem por celular à ex-secretária para comentar sua indicação, mas ela não respondeu.

Ainda tratado sob sigilo, o movimento causou revolta entre funcionários do quadro técnico do governo.

Nas conversas, Seillier disse que buscaria impulsionar a privatização da Sabesp, estatal de saneamento, junto a empresários americanos. A desestatização do órgão é uma das prioridades de Tarcísio, que esteve à frente do mesmo PPI no governo Temer, antes de assumir o Ministério da Infraestrutura de Bolsonaro.

A economista chegou a ter o nome ventilado para ocupar alguma secretaria no governo Tarcísio devido à sua proximidade. Agora, quer voltar aos EUA.

Segundo pessoas próximas da família Bolsonaro, um dos temores é a segurança da neta do ex-presidente. Bolsonaro tem forte ligação com a Flórida, estado onde exilou-se ao deixar o posto antes do fim do mandato e permaneceu até março deste ano.

O caso de Seillier tem precedentes. Quando estava no poder, Bolsonaro enviou para Miami o general da reserva Mauro Cid, de sua turma na Academia Militar das Agulhas Negras e pai do seu então ajudante de ordens homônimo, que está preso sob acusação de fraudar dados de exames de Covid para que o então presidente pudesse viajar ao EUA.

O militar liderou o escritório da Apex, agência de promoção de investimento análoga em nível federal à InvestSP. Em junho do ano passado, como a Folha havia revelado, foi a vez de a mesma unidade abrigar o médico de Bolsonaro no Planalto, Ricardo Camarinha, para estranhamento geral do corpo técnico.

Há dois óbices colocados no caso atual, segundo quem está inteirado do assunto: Seillier gostaria de mudar o escritório da InvestSP de Nova York justamente para o paraíso bolsonarista de Miami e está insatisfeita com o salário atual, que com gratificações chega a cerca de US$ 9.000 (R$ 43 mil hoje). O cargo hoje é ocupado por Maurício Abadi.

Seillier era uma das estrelas do bolsonarismo no governo, tendo postado o bordão "Supremo é o povo", usado por golpistas contrários ao STF (Supremo Tribunal Federal), em 2021.

Antes de assumir o PPI, esteve envolvida na polêmica de um voo exclusivo da FAB à Índia, no qual ela era uma das três pessoas a bordo —considerado "inadmissível" pelo então presidente, o episódio derrubou o então número 2 da Casa Civil.

Ao mesmo tempo, ela era vista como um quadro técnico, sendo a primeira mulher à frente da Infraero, por um breve período em 2019, e tendo o trabalho à frente do PPI elogiado na iniciativa privada.

Como o cargo no BID é de provimento do Ministério do Planejamento, unido ao da Fazenda sob Guedes, a saída de Seillier era dada como certa sob o governo Lula. Oficialmente, ela teria apenas completado o mandato do diretor anterior, interrompido antes do fim, mas quando sua ida foi anunciada ela foi estimada para um novo termo, até 2025.

Para Tarcísio, o episódio soma-se a outros em sua relação pós-governo Bolsonaro com o ex-chefe. Eles já divergiram sobre reforma tributária e, com a inelegibilidade do ex-presidente, o governador surge como um nome para ocupar espaço na direita brasileira.

Eles fizeram juras públicas de lealdade após a discussão pública sobre tributos, e agora a crise decorrente da alta letalidade policial em operação no Guarujá volta a colocar a identificação entre ambos no holofote.

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