CPI do 8/1 convoca repórter fotográfico; entidades protestam

Comissão também convoca hacker da 'Vaza Jato' e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

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Brasília

A CPI do 8 de janeiro aprovou nesta quinta (3) a convocação do repórter fotográfico da Reuters Adriano Machado, que registrou a trabalho o ataque golpista. A convocação, feita a pedido da oposição, recebeu o apoio do presidente do colegiado, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA).

A convocação de Machado, do hacker da "Vaza Jato" Walter Delgatti Neto e de outras três pessoas foi definida em reunião fechada entre alguns parlamentares antes da sessão.

Durante a sessão, a base do governo Lula (PT) sugeriu que o requerimento de convocação de Machado fosse votado separadamente, mas Maia argumentou que o acordo incluía a convocação dos cinco nomes e ameaçou adiar a votação.

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Imagens de câmeras de segurança mostram momento da invasão à antessala da Presidência da República, no terceiro andar do Palácio do Planalto, às 15h56 do dia 8 de janeiro - Reprodução

Questionado antes da sessão sobre a convocação do profissional, o presidente da CPI disse que Machado está sendo tratado como testemunha porque ele "testemunhou um crime, que foi a depredação do Palácio do Planalto".

"Eu assumo isso com toda tranquilidade. Eu tenho a noção de que todos nós parlamentares, vocês jornalistas, têm que ter seu direito preservado. Não estou dizendo que ele cometeu delito, mas obviamente ele é testemunha", afirmou Maia.

A convocação gerou reação de entidades. A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) divulgaram nota em que afirmam que a decisão abre um grave precedente contra a livre atuação dos profissionais de imprensa, em especial os de imagem.

As entidades dizem que os parlamentares deliberadamente ignoram que o fotógrafo "foi intimidado e ameaçado pelos terroristas", e que muitos o forçaram "a eliminar alguns dos flagrantes por ele captados".

"A convocação –caso realmente seja concretizada– deve ser entendida como uma tentativa de intimidar e constranger não apenas Machado, mas também todos os demais repórteres —fotográficos ou não– que deveriam receber dos políticos e governantes garantias para o pleno exercício profissional", diz.

A Fenaj e a ABI pedem, por fim, que os membros da CPI "revejam essa tresloucada convocação, típica de regimes autoritários, uma vez que visa somente intimidar e constranger profissionais da imprensa no exercício de suas funções".

A Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo repudiou e expressou profunda preocupação com a convocação. A entidade afirmou que a medida é não só questionável do ponto de vista pessoal, mas também uma afronta à liberdade de imprensa.

"Adriano Machado é reconhecido nacional e internacionalmente por sua habilidade em capturar imagens que retratam a realidade política e social de nosso país. Sua carreira é pautada pela imparcialidade e compromisso com a verdade, sendo um dos profissionais mais respeitados em sua área de atuação", diz.

A comissão também aprovou a convocação de Luís Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, preso na operação sobre suposta fraude no cartão de vacinação com o também ajudante de ordens Mauro Cid.

Em um diálogo apreendido pela PF no celular de Reis, Cid manifesta apoio a manifestantes acampados em frente a um batalhão em Goiânia —que o próprio Cid quase assumiu neste ano.

Reis também interage com outros interlocutores, aos quais manda diversas imagens do ataque golpista em Brasília, deixando claro que ele participou do 8 de janeiro.

A CPI convocou ainda a coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Cíntia Queiroz. Como mostrou a Folha, a PF afirmou à CPI que, um dia antes do ataque, o Governo do Distrito Federal relatou que haveria uma "simples manifestação" de "cunho pacífico".

Segundo a PF, a informação foi dada pelo número dois da Secretaria de Segurança Pública, Fernando de Souza Oliveira, e por Cíntia durante reunião no dia 7 de janeiro.

A CPI também vai ouvir a cabo da PM Marcela da Silva Morais Pinto, que atuou na linha de frente dos atos e foi agredida pelos golpistas. O depoimento dela, na condição de testemunha, foi feito a pedido do governo.

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