Presidente de CPI faz declaração machista e gordofóbica ao rebater deputadas; veja vídeo

Zucco afirma que Sâmia está nervosa e pergunta se ela quer remédio ou hambúrguer; fala é repudiada por deputadas

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Brasília

Presidente da CPI do MST, o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) fez uma fala machista e gordofóbica durante reunião da comissão nesta quinta-feira (3). Ele disse que a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) deveria "ficar mais calma" e perguntou se ela queria remédio ou hambúrguer.

"A senhora pode, também, daqui a pouco tomar qualquer atitude, ficar mais calma. A senhora respeite, a senhora está nervosa, senhora deputada? Quer um remédio? Ou quer um hambúrguer?", disse Zucco.

A fala foi feita durante depoimento de José Rainha, líder da FNL (Frente Nacional de Lutas Campo e Cidades). A CPI havia mostrado vídeo em que Rainha pedia votos a Sâmia.

Depois da declaração ofensiva de Zucco, Sâmia disse que o episódio foi um exemplo de violência política de gênero.

"É o nosso instrumento de defesa, mas também de ataque para aqueles que acham que vamos nos intimidar", afirmou a deputada sobre lei que combate a violência política contra mulheres.

O deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), presidente da CPI do MST - Zeca Ribeiro - 21.mai.21/Câmara dos Deputados

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) também repudiou a fala do presidente da CPI.

Neste momento, ela foi interrompida pelo relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), que disse que a deputada estava se vitimizando. Talíria disse para Salles se calar e afirmou ser inadmissível que deputadas sejam atacadas durante a comissão.

A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL)
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) - Bruno Santos - 09.dez.22/Folhapress

O presidente da CPI aceitou retirar dos registros das falas da CPI, as notas taquigráficas, a declaração ofensiva contra Sâmia.

Para justificar a fala ofensiva, Zucco afirmou que havia sido desrespeitado e que tem um irmão em tratamento contra o câncer, que teria sido demitido após o deputado assumir o comando da comissão. O deputado acusou as deputadas de terem mencionado o nome deste irmão, o que elas negaram ter feito.

Em nota, Zucco afirmou que tem sido "alvo de ataques e ofensas" de opositores e disse que Sâmia "tem se notabilizado nessa estratégia".

"Espero que o papel que estamos cumprindo aqui seja, além de político, pedagógico para milhares de mulheres brasileiras que acompanham a CPI. Querem nos intimidar, fazer retroceder, mas tenho orgulho de estar do lado oposto dessa gente que está aqui na CPI", disse Sâmia.

O depoimento de José Rainha durou mais de cinco horas, mas ficou marcado pela declaração ofensiva de Zucco.

Rainha integrou o MST, rompeu com o grupo e participou da criação da FNL. "Todos os movimentos têm suas divergências, a minha ordem de divergência política que tive com o MST, prefiro dizer que levarei ao cemitério", disse ele à CPI.

Os deputados fizeram perguntas sobre as atividades de Rainha e a relação dele com o governo Lula (PT) e parlamentares. O líder da FNL disse que teve uma reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), neste ano, mas não confirmou em qual data.

Rainha foi preso em março de 2023, na região do Pontal do Paranapanema, interior de São Paulo, sob suspeita de extorquir fazendeiros, e solto em junho. A FNL diz que a prisão teve "cunho político".

O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu a Rainha o direito de ficar em silêncio na CPI quando questionado sobre fatos relacionados a essa investigação.

No mês passado, nessa mesma CPI, o deputado bolsonarista General Girão (PL-RN) adotou discurso machista durante sessão ao afirmar que respeita as mulheres porque elas são "responsáveis pela procriação e pela harmonia da família".

As declarações do parlamentar ocorreram em meio a um bate-boca com Sâmia.

Durante uma fala de Girão, a psolista afirmou que o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou abertura de inquérito para apurar suposta incitação dele aos atos golpistas de 8 de janeiro.

"A atitude da senhora a gente lamenta bastante. As mulheres têm responsabilidades, sim, e eu as respeito bastante, muito, porque elas são responsáveis pela procriação e pela harmonia da família. E a senhora não", disse Girão.

Em seguida, mulheres que estavam na sessão criticaram a declaração, entre elas as deputadas Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Camila Jara (PT-MS) e a própria Sâmia. Alguns assessores legislativos que acompanhavam a sessão se levantaram e deixaram a sala, em tom de protesto.

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