Descrição de chapéu Folhajus

Hacker da Vaza Jato monitorava Paulo Guedes em tempo real, afirma juiz em sentença

Invasão de contas, admitida por réu, 'poderia render inúmeras ocasiões de extorsões', segundo magistrado

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São Paulo

A decisão que condenou à prisão Walter Delgatti, conhecido como hacker da Vaza Jato, afirma que ele monitorava em tempo real mensagens do então ministro da Economia Paulo Guedes, além de outras autoridades.

Nesta segunda-feira (21), o juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, decidiu pela condenação do hacker pela invasão de contas no Telegram em 2019, incluindo a do então juiz Sergio Moro, hoje senador pela União Brasil-PR, e do então procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato.

A pena foi fixada em 20 anos e um mês de prisão —cabe recurso.

"Verificou-se que Walter Delgatti monitorava em tempo real a conta do então ministro de Estado da Economia Paulo Guedes, além de outros 30 perfis do Telegram", afirma Leite na sentença, mencionando um relatório da Polícia Federal na época. É dito também que foram 99 as vítimas de interceptação online.

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O ex-ministro Paulo Guedes, da Economia - Pedro Ladeira - 17.out.22/Folhapress

De acordo com o magistrado, em uma subpasta de arquivos, havia imagens e prints de telas de "diversas pessoas, entre elas procuradores da República, delegados de Polícia Federal, advogados, entre outros".

Para o magistrado, o fato indica que Delgatti não agia de forma idealista.

"Se o intuito, realmente fosse somente o de reparar injustiças, não teria hackeado o ministro Paulo Guedes e conselheiros do CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público]. A amplitude das vítimas é imensa e poderia render inúmeras ocasiões de extorsões", disse.

O juiz, citando depoimento de outro acusado, diz que havia intenção de vender as conversas, "fato este confirmado por Luiz Henrique Molição, que relatou que buscavam o melhor jornalista (da Veja ou Folha de São Paulo) para comprar o material hackeado".

"Fulmina a alegação de Walter de que agiu de forma altruísta e buscando reparar uma injustiça, chegando inclusive a propor o valor de R$ 200 mil reais para o repasse deste material."

A Folha não paga por reportagens, não comete ato ilícito para obter informações nem pede que ato ilícito seja cometido nesse sentido.

Para o juiz, só houve um "esfriamento inicial" na intenção de venda do material "após perceber a resistência de jornalistas a pagarem para ter acesso a este material".

O site The Intercept Brasil, que primeiro publicou reportagens com base nos diálogos hackeados dos procuradores da Lava Jato, sempre afirmou que obteve o material de fonte anônima e que não houve nenhuma espécie de pagamento. Depois de o site permitir a análise de seu acervo, outros veículos também publicaram na época reportagens com as conversas, incluindo a Folha.

Em contato com a Folha após a publicação da reportagem nesta terça (22), a equipe do Intercept disse que as declarações do juiz na sentença sobre a intenção de venda do material hackeado "contrariam as conclusões da investigação da Polícia Federal" e se baseiam em um único depoimento de delação.

Afirmou que não há nenhuma evidência de que o hacker e seus associados procuraram jornalistas ativos para vender os arquivos e que a apuração policial não identificou "um possível agente que tenha solicitado ou determinado a invasão dos dispositivos eletrônicos de autoridades públicas oferecendo ou fornecendo uma contrapartida financeira".

A revelação das conversas abalou a credibilidade da Operação Lava Jato ao mostrar colaboração entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores. Posteriormente, trechos dos diálogos foram lidos por ministros do Supremo Tribunal Federal para anular sentenças contra o hoje presidente Lula (PT), em 2021.

Com base neles, também foi invalidado o uso em processos judiciais do acordo de colaboração da empreiteira Odebrecht.

Na sentença desta segunda, o juiz Leite também disse que, segundo a PF, havia subpastas de arquivos hackeados de autoridades como o ex-procurador-geral Rodrigo Janot e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

Em relação ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado naquela época, um relatório afirma que foi hackeado todo o histórico de mensagens.

Também há menção, sem detalhamento, à invasão do celular do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em entrevista à revista Veja em 2021, Delgatti disse que não encontrou conversas ao invadir perfis dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O advogado do hacker, Ariovaldo Moreira, disse nesta segunda que ainda precisa analisar a sentença para se manifestar.

À Justiça a defesa tentou desqualificar os crimes imputados e questionou a atribuição da Vara Federal do DF para conduzir o processo. O hacker confessou na investigação e na tramitação do processo que invadia as contas no aplicativo.

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