Veja o que já foi publicado pela Folha com base em mensagens da Lava Jato

Jornal teve acesso ao pacote de mensagens obtido pelo site The Intercept Brasil e passou a publicar material com base no acervo

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São Paulo

Em 9 de junho de 2019, o site The Intercept Brasil divulgou pela primeira vez mensagens que mostram colaboração entre o então juiz Sergio Moro e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol quando ambos integravam a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Moro, ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL) e agora senador, foi o juiz responsável pela operação em Curitiba.

O site informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa trocadas no aplicativo Telegram desde 2015.

Para a Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, preso sob suspeita de atuar como hacker, foi a fonte do material.

Em 23 de junho do mesmo ano, a Folha começou a publicar, em parceria com o The Intercept Brasil, material com base nas mensagens trocadas entre os membros da operação. O jornal teve acesso ao pacote de mensagens e passou a analisar seu acervo.

A Folha não detectou nenhum indício de que ele possa ter sido adulterado. A Folha não comete ato ilícito para obter informações, nem pede que ato ilícito seja cometido neste sentido; pode, no entanto, publicar informações que foram fruto de ato ilícito se houver interesse público no material apurado.

O então juiz federal Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol
O então juiz federal Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol - Jorge Araújo/Folhapress

Lava Jato articulou apoio a Moro diante de tensão com STF

(23 de junho) Procuradores na linha de frente da Operação Lava Jato se articularam para proteger Sergio Moro e evitar que tensões entre ele e o STF (Supremo Tribunal Federal) paralisassem as investigações num momento crítico para a força-tarefa em 2016, segundo as mensagens privadas enviadas anonimamente ao The Intercept Brasil e analisadas pela Folha.

O objetivo era evitar que a divulgação de papéis encontrados pela PF na casa de um executivo da Odebrecht acirrasse o confronto com o Supremo ao expor indevidamente dezenas de políticos que tinham direito a foro especial. Na época, Moro pediu a Deltan que ajudasse a conter o grupo antipetista MBL (Movimento Brasil Livre), após um protesto em frente ao apartamento do ministro Teori Zavascki.

Procurado, Moro afirmou que sempre respeitou o MBL e voltou a criticar a invasão de celulares. A equipe de procuradores da Lava Jato não se manifestou até a publicação do texto.

Lava Jato desconfiou de empreiteiro pivô da prisão de Lula

(30 de junho) O empreiteiro que incriminou o ex-presidente Lula (PT) no caso que o levou à prisão foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações, segundo as mensagens.

As conversas indicaram que Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista. Léo Pinheiro só apresentou a versão que incriminou Lula em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato.

A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba afirma que o material apresentado pela reportagem não permite constatar o contexto e a veracidade do conteúdo. A PGR (Procuradoria-Geral da República) não se manifestou. O advogado da OAS, Bruno Brasil, também não se manifestou.

Lava Jato e Moro atuaram para expor dados sigilosos sobre Venezuela

(7 de julho) Integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato se mobilizaram para expor informações sigilosas sobre corrupção na Venezuela após receber uma sugestão do então juiz federal Sergio Moro, em agosto de 2017. Os diálogos indicam que o objetivo principal da iniciativa era dar uma resposta política ao endurecimento do regime imposto pelo ditador Nicolás Maduro ao país vizinho.

As mensagens mostram que a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa de Curitiba dedicaram meses de trabalho ao projeto, chegaram a trocar informações com procuradores venezuelanos perseguidos por Maduro e vasculharam contas usadas pela Odebrecht para pagar suborno a autoridades do regime na Suíça.

Moro não quis fazer comentários sobre o conteúdo das mensagens. Ele reafirmou seu posicionamento, pondo em dúvida a autenticidade. A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba seguiu a mesma linha. A PGR e a Odebrecht não se manifestaram sobre o assunto.

Deltan montou plano para lucrar com fama da Lava Jato

(14 de julho) O então procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, montou um plano de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos durante as investigações do caso de corrupção, apontam as mensagens analisadas.

Em um chat sobre o tema criado no fim de 2018, Deltan e um colega da Lava Jato discutiram a constituição de uma empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar questionamentos legais e críticas.

Deltan afirmou que realiza palestras para promover a cidadania e o combate à corrupção e que esse trabalho ocorre de maneira compatível com a atuação no Ministério Público Federal.

Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações

(18 de julho) Mensagens privadas trocadas por procuradores da Lava Jato em 2015 mostram que o então juiz federal Sergio Moro interferiu nas negociações das delações de dois executivos da construtora Camargo Corrêa, cruzando limites impostos pela legislação para manter juízes afastados de conversas com colaboradores.

Os diálogos revelam que Moro avisou aos procuradores que só homologaria as delações se a pena proposta aos executivos incluísse pelo menos um ano de prisão em regime fechado. A Lei das Organizações Criminosas, de 2013, que definiu regras para os acordos de colaboração premiada, diz que juízes devem se manter distantes das negociações.

Moro, afirmou que não participou das negociações de nenhum acordo de colaboração premiada na época em que foi o juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Paraná, de 2014 a 2018. Ele também afirmou que juízes têm o dever de recusar benefícios excessivos para delatores.

A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou que não se manifestaria sobre o assunto sem ver os diálogos, e as defesas dos ex-diretores da Camargo Corrêa que fecharam acordos de colaboração premiada também não quiseram se manifestar.

Deltan foi pago por palestra em empresa citada pela Lava Jato

(26 de julho) Deltan fez uma palestra remunerada no valor de R$ 33 mil para uma empresa que havia sido citada em um acordo de delação em caso de corrupção na própria força-tarefa da Lava Jato, de acordo com as mensagens analisadas.

A firma do setor de tecnologia Neoway, que contratou Deltan, foi mencionada pela primeira vez em um documento de colaboração que foi incluído em um chat dos procuradores da operação em março de 2016, dois anos antes da palestra.

Além de participar do evento remunerado da companhia, em março de 2018, Deltan aproximou membros da Procuradoria e representantes da Neoway com o objetivo de viabilizar o uso de produtos dela em um trabalho da força-tarefa, da qual é coordenador em Curitiba.

Deltan afirmou à Folha que não sabia que a empresa Neoway era citada em delação. O procurador também voltou a dizer que não reconhece a autenticidade das mensagens.

Moro achava fraca delação de Palocci que divulgou às vésperas de eleição

(29 de julho) Considerações políticas influenciaram a decisão do então juiz Sergio Moro de divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno da eleição presidencial do ano passado, sugerem mensagens trocadas na época por procuradores da Operação Lava Jato.

Os diálogos indicam que Moro tinha dúvidas sobre as provas apresentadas por Palocci, mas achava sua colaboração relevante mesmo assim por representar uma quebra dos vínculos que uniam os petistas desde o início das investigações.

O Ministério da Justiça e a força-tarefa à frente da Operação Lava Jato em Curitiba defenderam a validade da delação do ex-ministro Antonio Palocci, mas não quiseram comentar críticas feitas por procuradores e atribuídas ao então juiz Sergio Moro quando seus termos se tornaram públicos.

Deltan incentivou cerco da Lava Jato a Toffoli

(1º de agosto) Deltan Dallagnol incentivou colegas em Brasília e Curitiba a investigar o ministro Dias Toffoli sigilosamente em 2016, numa época em que o atual presidente do Supremo Tribunal Federal começava a ser visto pela Operação Lava Jato como um adversário disposto a frear seu avanço.

Mensagens apontam que Deltan, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras.

A força-tarefa em Curitiba afirmou que é seu dever encaminhar à Procuradoria-Geral da República informações sobre autoridades com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal sempre que as recebe, e que isso tem sido feito de forma legal.

Moro omitiu palestra palestra remunerada em prestação de contas como juiz federal

(4 de agosto) Sergio Moro, omitiu uma palestra remunerada que deu em setembro de 2016 ao prestar contas de suas atividades quando era o juiz responsável pelas ações da Operação Lava Jato em Curitiba.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, responsável pela revisão dos processos da primeira instância do Paraná, informou à Folha que Moro declarou ter participado de 16 eventos externos em 2016. Mas a lista não inclui uma palestra mencionada em mensagem que ele enviou ao então procurador Deltan Dallagnol pelo aplicativo Telegram em 2017.

O Ministério da Justiça afirmou que a omissão da palestra na prestação de contas de Moro pode ter sido um descuido e informou que a maior parte do cachê recebido foi doada a uma entidade beneficente.

Corregedor da Procuradoria viu conduta grave de Deltan, mas não abriu apuração

(8 de agosto) Em julho de 2017, o então corregedor-geral do Ministério Público Federal, Hindemburgo Chateaubriand Filho, criticou informalmente a conduta do procurador da República Deltan Dallagnol na divulgação de uma palestra, ressaltou a gravidade da situação, mas deixou de abrir apuração oficial.

O caso envolveu a divulgação feita por Deltan de uma palestra na qual ele prometia revelações inéditas sobre a Lava Jato e que teria cobrança de ingresso dos participantes.

A Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal afirmou que o titular do órgão não precisa ter o distanciamento das partes típico da atividade dos juízes e pode manter contatos e receber informações antecipadas de procuradores. Já a força-tarefa da Lava Jato diz que conversas e antecipações de informações ao corregedor-geral não são ilegais.

Ex-presidente da OAS diz ter liberado R$ 1 milhão em propina a vice de Doria

(16 de agosto) Ex-presidente da OAS preso pela Lava Jato em Curitiba, o empresário Léo Pinheiro disse ter autorizado o pagamento de R$ 1 milhão em espécie a Rodrigo Garcia (DEM) para acelerar liberação de verba para obra da linha 4 do Metrô de São Paulo.

Garcia, em 2018, se elegeu vice na chapa de João Doria (PSDB). Ele nega ter cometido irregularidades.

Esse episódio, segundo Léo Pinheiro afirmou a autoridades, ocorreu em 2007, quando Garcia era deputado estadual. O relato consta em proposta da delação do empresário compartilhada entre procuradores do Ministério Público Federal da Lava Jato no aplicativo Telegram.

Lava Jato driblou lei para ter acesso a dados da Receita

(18 de agosto) Procuradores da Operação Lava Jato contornaram limites legais para obter informalmente dados sigilosos da Receita Federal em diferentes ocasiões nos últimos anos, segundo mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil e analisadas pela Folha e pelo site.

Os diálogos indicam que integrantes da força-tarefa do caso em Curitiba buscaram informações da Receita sem requisição formal e sem que a Justiça tivesse autorizado a quebra do sigilo fiscal das pessoas que queriam investigar.

Para obter os dados, os procuradores contaram com a cooperação do auditor fiscal Roberto Leonel, que chefiou a área de inteligência da Receita em Curitiba até 2018 e assumiu a presidência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no governo Jair Bolsonaro (PSL).

As mensagens examinadas pela Folha e pelo Intercept mostram que a força-tarefa estabeleceu com Leonel uma relação de trabalho tão próxima que recorreu a ele até para verificar hipóteses dos investigadores, sem que houvesse elementos objetivos para justificar o acesso a dados do Fisco.

Deltan idealizou monumento à Lava Jato, mas Moro previu crítica à 'soberba'

(21 de agosto) Deltan Dallagnol levou a Sergio Moro e a colegas a ideia de fazer um concurso para a escolha de uma estátua que representasse em Curitiba a Lava Jato e as reformas defendidas pelos investigadores.

"Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além", escreveu o procurador ao então juiz da operação, em 2016.

Moro, em conversa no aplicativo, transpareceu contrariedade: "Não é melhor esperar acabar?"

Procurador mudou contratos de palestras, e doação ficou de lado, apontam diálogos

(23 de agosto) A atividade de palestras remuneradas do procurador Deltan Dallagnol, coordenador daLava Jato, passou por mudanças contratuais para deixar de ter a filantropia como principal destino dos valores.

Ele começou a se concentrar no meio empresarial e arrecadou ao menos R$ 580 mil a partir de 2017, apontam diálogos e documentos obtidos pelo The Intercept Brasil e analisados em conjunto com a Folha.

Mensagens, planilhas, recibos e contratos que circularam no aplicativo Telegram de Deltan indicam um contraste entre os argumentos da defesa apresentada por ele à Corregedoria do Ministério Público em junho de 2017, que levaram ao arquivamento de uma reclamação disciplinar, e a conduta do procurador em relação às palestras a partir daquele ano.

Delator preso pela Lava Jato diz ter lavado dinheiro para Grupo Silvio Santos

(29 de agosto) Preso e depois delator da Lava Jato, o operador financeiro Adir Assad afirma que lavou milhões de reais para o Grupo Silvio Santos por meio de contratos fraudados de patrocínio esportivo.

As afirmações estão em anexos de seu acordo de colaboração premiada firmado com integrantes da Operação Lava Jato. Depoimentos do operador foram compartilhados entre procuradores

Conversas de Lula mantidas sob sigilo pela Lava Jato enfraquecem tese de Moro

(8 de setembro) Conversas do ex-presidente Lula (PT) gravadas pela PF em 2016 e mantidas em sigilo desde então enfraquecem a tese usada por Sergio Moro para justificar a decisão mais controversa que ele tomou como juiz à frente da Lava Jato.

Em 16 de março de 2016, cinco horas depois de mandar interromper a escuta telefônica que autorizara no início do cerco da operação ao líder petista, Moro tornou público um diálogo em que a então presidente Dilma Rousseff tratou com Lula de sua posse como ministro da Casa Civil.

Para a Lava Jato, o telefonema mostrava que a nomeação de Lula como ministro tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo seu caso de Curitiba para o STF.

Mas 22 resumos das conversas grampeadas obtidos pela Folha e analisados em conjunto com o site The Intercept Brasil revelam que Lula disse a diferentes interlocutores que relutou em aceitar o convite de Dilma para ser ministro e só o aceitou após sofrer pressões de aliados. Os diálogos põem em xeque a hipótese adotada na época por Moro

Moro disse que não soube dos telefonemas do ex-presidente que a PF grampeou e manteve sob sigilo em 2016, quando era o juiz à frente da Lava Jato em Curitiba. Também afirmou que suas razões para tornar públicos os telefonemas de Lula estão expostas em suas decisões como juiz, e acrescentou que todo o material foi enviado depois ao Supremo Tribunal Federal.

Em nota, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que cabe à polícia selecionar as interceptações relevantes para as investigações e que "não houve seleção de áudios pelas autoridades quando do levantamento do sigilo" do caso de Lula.

OAS afirma que assumiu obra deficitária na Bolívia por exigência de Lula

(16 de setembro) O empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, mencionou o ex-presidente Lula (PT) como intermediador de negócios da empresa com governos na Costa Rica e no Chile e afirmou que a construtora assumiu uma obra na Bolívia para agradar ao petista. O então presidente, segundo Léo Pinheiro, queria evitar um estremecimento nas relações do Brasil com o governo de Evo Morales.

As afirmações estão em depoimentos que foram compartilhados entre procuradores da Lava Jato no Telegram.

Aloysio aparece à frente de cobrança de propinas do PSDB em delação

(21 de setembro) Ao negociar acordo de delação com a Lava Jato, a cúpula da empreiteira OAS descreveu o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira em papel central na coordenação de pagamentos de propinas para campanhas do PSDB, entre elas a de José Serra à Presidência, em 2010.

Aloysio é citado em quatro capítulos como solicitante de repasses. Ele nega ter cometido crimes e disse que pediu doações oficiais à OAS, que eram legais à época, em várias campanhas, "sem jamais exigir qualquer tipo de contrapartida".

Lava Jato poupou donos da Odebrecht de medidas drásticas para fechar delação

(22 de setembro) Procuradores da Operação Lava Jato pouparam a Odebrecht e seus principais executivos de medidas drásticas cogitadas durante as negociações do acordo bilionário que assegurou a cooperação da empresa com as investigações a partir de 2016.

Mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil e analisadas pela Folha em conjunto com o site mostram que os procuradores pensaram até em obrigar os donos da Odebrecht a vender suas ações na empresa, para que se afastassem completamente dos seus negócios após a delação.

Os investigadores também discutiram a possibilidade de impedir a Odebrecht de pagar os advogados dos delatores e se responsabilizar pelas multas impostas aos executivos, para evitar que preservassem o patrimônio acumulado quando estavam envolvidos com a corrupção na empresa.

Mas os diálogos examinados pela Folha e pelo Intercept indicam que os procuradores deixaram de lado essas medidas com o avanço das negociações, para não inviabilizar o acordo com a Odebrecht, que era um dos maiores grupos empresariais do país e entrou em crise quando foi atingido pela Lava Jato.

Lava Jato levou ministro do STF a manter empreiteiros presos para fechar delação

(27 de outubro) Procuradores da Operação Lava Jato convenceram um ministro do Supremo Tribunal Federal a manter dois executivos da empreiteira Andrade Gutierrez presos para garantir a colaboração da empresa e de seus funcionários com as investigações sobre corrupção em 2016.

Mensagens mostram que a iniciativa foi executada com apoio do então juiz Sergio Moro, cuja opinião os procuradores consultaram antes de levar a proposta ao Supremo.

Conforme os diálogos, coube ao então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, submetê-la ao ministro Teori Zavascki, que era relator dos processos da Lava Jato no STF e tinha sobre a mesa dois habeas corpus impetrados pelos executivos da Andrade Gutierrez que estavam presos.

O ministro deu seu aval no dia 4 de fevereiro de 2016 e pediu os nomes dos executivos presos. "Pq ele vai travar os hcs aqui esperando vcs", escreveu o procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot, ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Se ninguém tivesse conversado com Teori, era possível que os dois executivos na cadeia deixassem a prisão com o habeas corpus. Eles poderiam aguardar em liberdade o julgamento de seus processos e a homologação dos acordos de colaboração, e poderiam até rediscutir seus termos.

Com os habeas corpus engavetados por Teori, Moro transferiu os executivos para o regime de prisão domiciliar no dia seguinte. Os procuradores do caso se organizaram então para tomar seus depoimentos, sem medo de que os delatores fossem soltos e cogitassem abandonar o acordo negociado pela empreiteira.

Lava Jato deixou Rosa Weber no escuro ao pedir apoio a investigação sobre Lula

(5 de novembro) Procuradores da Operação Lava Jato esconderam informações da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, ao pedir seu apoio num momento decisivo das investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no início de 2016.

Mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil mostram que os procuradores sabiam que o líder petista mencionara Rosa em telefonemas grampeados pela Polícia Federal e mobilizara aliados para tentar influenciá-la, mas decidiram deixar a ministra do STF no escuro quando a procuraram para tratar do caso.

Segundo as conversas, eles também evitaram fornecer ao gabinete do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem pediram que discutisse o assunto com Rosa, detalhes sobre o andamento do caso em Curitiba e as ações planejadas pela Lava Jato no cerco a Lula.

A questão estava na mesa da ministra porque ela fora sorteada para examinar uma ação que a defesa do ex-presidente movera para tentar suspender as investigações. Para os advogados de Lula, havia um conflito entre a força-tarefa de Curitiba e promotores de São Paulo que também o investigavam na época.

A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba defendeu o sigilo mantido durante as investigações e afirmou que a proteção de informações sensíveis em casos criminais complexos é necessária "para atender o interesse público".

Moro contrariou padrão da Lava Jato ao divulgar grampo de Lula

(24 de novembro) Um levantamento feito pela Operação Lava Jato em 2016 pôs em xeque a justificativa apresentada por Sergio Moro quando era o juiz do caso e mandou retirar o sigilo das investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ao anunciar a decisão, que tornou públicas dezenas de conversas telefônicas do líder petista grampeadas pela Polícia Federal, Moro disse que apenas seguira o padrão estabelecido pela Lava Jato, garantindo ampla publicidade aos processos que conduzia e a informações de interesse para a sociedade.

Mas uma pesquisa feita pela força-tarefa da operação em Curitiba concluiu que o procedimento adotado no caso de Lula foi diferente do observado em outros casos semelhantes, de acordo com mensagens trocadas pelos procuradores da Lava Jato e obtidas pelo site The Intercept Brasil neste ano.

O levantamento da Lava Jato, que analisou documentos de oito investigações em que também houve escutas telefônicas, indicou que somente no caso do ex-presidente os áudios dos telefonemas grampeados foram anexados aos autos e o processo foi liberado ao público sem nenhum grau de sigilo.

Moro defendeu as decisões que tomou como juiz da Lava Jato e acusou a Folha de praticar sensacionalismo e revisionismo ao questionar a maneira como ele levantou o sigilo das investigações sobre Lula.

Delação frustrada de Cunha citava 120 políticos e arrecadação milionária

(26 de dezembro) Em sua fracassada tentativa de fechar um acordo de delação na Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que está preso há três anos, atribuiu irregularidades a cerca de 120 políticos e disse ter arrecadado R$ 270 milhões em um período de cinco anos para repartir com correligionários e aliados, sendo 70% via caixa dois.

Cunha entregou sua proposta de delação a procuradores em meados de 2017, mas seus relatos foram considerados pelos investigadores superficiais demais, e não houve acordo. Entre os principais alvos, estavam o ex-presidente Temer e os ex-governadores Anthony Garotinho e Moreira Franco.

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