Joias de Bolsonaro foram a leilão, mas não houve interessado, diz loja dos EUA

Conjunto com relógio e itens de luxo da Chopard foi estimado em mais de R$ 600 mil por loja de Nova York

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Brasília

A caixa de joias da grife Chopard dadas a Jair Bolsonaro (PL) pela Arábia Saudita não foi comprada durante leilão realizado em fevereiro de 2023 e forçou assessores do ex-presidente a mudar planos para venda dos itens de luxo.

A Fortuna Auction, localizada em Nova York, disse à Folha que não houve interessados no conjunto que inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário.

A loja afirmou que não foi procurada por autoridades brasileiras. Os itens foram devolvidos após o leilão.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante evento em Miami, nos Estados Unidos - Chandan Khanna - 3.fev.2023/AFP

O leilão foi realizado em 8 de fevereiro. A caixa havia sido destaque no catálogo de dias dos namorados da loja, publicado em 30 de janeiro, com preço estimado de US$ 120 mil a US$ 140 mil.

Para a loja, os produtos valeriam de R$ 611 mil a R$ 713 mil, conforme cotação da época.

A Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão nesta sexta-feira (11) dentro de investigação que apura se foram desviados "bens de alto valor" entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes de estado, "por meio da venda desses itens no exterior", segundo nota do órgão.

A apuração da PF mostra que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe dos ajudantes de ordem de Bolsonaro, enviou mensagem a um funcionário da Fortuna após o leilão. "Olá. E agora? Ninguém comprou o kit (conjunto)", afirmou Cid em 8 de fevereiro, no texto traduzido pela polícia.

O Chopard L.U.C Tourbillon Qualité Fleurier, relógio que assessores de Bolsonaro tentaram vender, tem apenas 25 unidades produzidas. A loja informou que o número de série do produto é unico.

Esse número está registrado em certificado da Chopard sobre o produto, documento que está entre os e-mails de Cid entregues à CPI do 8 de janeiro.

Nos dias seguintes ao leilão, Cid e Marcelo Câmara, outro assessor de Bolsonaro, passam a avaliar se era necessário ou não avisar o setor de documentação da Presidência sobre a tentativa de venda dos presentes entregues ao ex-mandatário.

O ex-chefe dos ajudantes de ordem de Bolsonaro considerou avisar o governo e tentar novamente vender o item.

"Eu prefiro não informar pra não gerar estresse entendeu? Já que não conseguiu vender, a gente guarda. E aí depois tenta vender em uma próxima oportunidade", afirma Câmara, segundo as mensagens obtidas pela PF. "Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares / Hahaaahaahah", responde Cid.

Segundo a investigação, Câmara concorda, mas diz a Cid: "O problema é depois justificar e para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar".

Para a PF, as mensagens mostram que havia um esquema para viabilizar o enriquecimento ilícito de Bolsonaro. O plano era incorporar ao acervo privado de Bolsonaro itens de grande valor recebidos de autoridades estrangeiras, e depois vendê-los.

O ex-presidente devolveu as joias após determinação do TCU (Tribunal de Contas da União). Para o tribunal, Bolsonaro só poderia ficar com presentes classificados como item personalíssimo e de baixo valor.

O pacote da Chopard estava na bagagem de um integrante da comitiva do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque que esteve na Arábia Saudita em outubro de 2021, como mostrou a Folha.

Já outros itens de luxo que estavam mochila de um auxiliar de Albuquerque foram apreendidos pela Receita Federal. As mensagens da PF mostram que auxiliares de Bolsonaro enviaram as joias ao Brasil após a divulgação da imprensa sobre a existência dos conjuntos.

Em 4 de março, Cid pergunta a Osmar Crivelatti, outro ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, se o conjunto da Chopard já havia sido enviado ao Brasil. Ele recebeu uma imagem das joias e a mensagem "chegou". O ex-chefe dos assessores de Bolsonaro respondeu: "Ufa".

Procurada, a defesa de Bolsonaro afirmou na noite desta sexta-feira (11) que o ex-presidente coloca sua movimentação bancária à disposição das autoridades e que ele "jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos".

Em nota, o advogado de Cid, Bernardo Fenelon, disse que ainda não teve acesso aos autos da investigação que motivou a operação da PF. "Por esse motivo não temos como fazer qualquer comentário", afirmou.

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