Lula demite Ana Moser e acomoda centrão após 2 meses de negociação com ex-aliados de Bolsonaro

PP e Republicanos assumem pastas, e Márcio França deixa Portos e Aeroportos para ocupar novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas

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Brasília

O presidente Lula (PT) concluiu nesta quarta-feira (6) a primeira grande reforma ministerial do seu terceiro mandato, com um remanejamento interno para acomodar nomes indicados pelo centrão.

Entram no governo o líder do PP na Câmara, deputado André Fufuca (MA), e o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), que vão ocupar os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos, respectivamente.

O presidente Lula durante cerimônia em celebração ao Dia da Amazônia, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

A decisão foi confirmada por meio de nota divulgada pela Presidência da República na noite desta quarta. A nomeação e posse serão realizadas no retorno de Lula da reunião do G20.

O ministro Márcio França (PSB), que perdeu seu posto para o indicado do Republicanos, assumirá a nova pasta das Micro e Pequenas Empresas.

A nota da Presidência não menciona a agora ex-ministra Ana Moser nem a agradece pelos serviços prestados, como costuma acontecer com aliados.

Uma fotografia do encontro divulgada mostra o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), cercado pelos dois novos ministros. Todos se dão as mãos no centro, em um gesto de união. O presidente Lula não aparece em nenhuma das fotografias.

Ao centro, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) aperta as mãos dos novos ministros do governo Lula: André Fufuca (à esquerda) e Silvio Costa Filho (à direita) - Ricardo Stuckert/Presidência da República

A mudança ocorre após mais de dois meses de negociação com integrantes da cúpula do Congresso. O principal objetivo é incluir os partidos do centrão no governo e, assim, aumentar a base de apoio a Lula no Parlamento.

PP e Republicanos já foram aliados de governos petistas no passado, mas estiveram com Jair Bolsonaro (PL) durante a gestão do ex-presidente e fizeram parte da chapa dele na disputa eleitoral de 2022. Alas do Republicanos e do PP continuam, inclusive, muito próximas ao bolsonarismo e foram contrárias ao embarque no governo.

Fufuca vai substituir no Esporte Ana Moser, ex-atleta olímpica, militante da área esportiva e apoiadora de primeira hora da candidatura de Lula. Das três demissões do petista no governo até o momento, duas foram mulheres: em 14 de julho, ele trocou Daniela Carneiro por Celso Sabino, no Turismo.

O presidente recebeu Ana Moser em seu gabinete na noite de terça (5). Ela voltou a se encontrar com o mandatário nesta quarta-feira, poucas horas antes do anúncio da reforma, no Palácio da Alvorada.

Horas depois, foi a vez de Fufuca e Silvinho chegarem para uma reunião com Lula na residência oficial. Eles chegaram ao local no mesmo carro que o responsável pela articulação política do governo, o ministro Alexandre Padilha.

Em suas redes sociais, Fufuca postou um vídeo no qual confirma ter aceitado o convite.

"Meus amigos e minhas amigas, venho compartilhar com vocês que acabo de aceitar o convite feito pelo presidente Lula para assumir o Ministério do Esporte. O grande desafio que se mostra é colocar o esporte definitivamente como política de Estado, por sua inegável importância social e cultural."

O novo ministro afirma que vai se "debruçar sobre estratégias, planos e metas" para atingir bons resultados. Fufuca agradeceu em sua fala o presidente da Câmara e líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL), e todos os parlamentares do PP.

"Agradeço ao presidente Lula pela confiança e pelo gesto, que fortalece a democracia e honra os Poderes da nossa República."

Já Silvio Costa Filho ocupará o lugar de Márcio França, que agora será o titular do novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas.

A criação do ministério, com outro nome, foi anunciada por Lula durante a sua transmissão semanal na internet, o Conversa com o Presidente.

"Nós vamos criar, eu estou propondo a criação do Ministério da Pequena e Média Empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais. Para que tenha um ministério específico para cuidar dessa gente que precisa de crédito e de oportunidade", afirmou o mandatário na ocasião.

França resistiu em aceitar o novo cargo, por considerá-lo esvaziado, menor e sem recursos próprios para implementar políticas públicas. Além disso, aliados do ministro avaliam que a nova pasta representa uma parte destacada do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), que já estava com o PSB, sob o comando do vice-presidente Geraldo Alckmin.

PP e PSB barganharam com o governo para aumentar o escopo das pastas que vão ocupar.

O partido de Fufuca buscou turbinar o Ministério do Esporte, com secretarias de temas ligados a empreendedorismo e assistência social. Já o PSB apresentou ao Planalto uma proposta para deixar a sua pasta mais robusta, com a ida da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) para o ministério e a criação de uma diretoria com microcrédito do BNDES (Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social).

A nota divulgada pela Presidência não menciona mudanças estruturais nessas pastas.

As trocas foram arrastadas e envolveram idas e vindas nas negociações, pressão por ministérios com gordos orçamentos e conversas fora da agenda entre Lula e Lira.

Na mais recente, na noite de quarta-feira (16), o mandatário fez visita de maneira escondida à residência oficial da Câmara dos Deputados.

Além dos encontros, Lula passou a dar sinais de aproximação e afagos a Lira, como no lançamento do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), quando disse que precisava mais do presidente da Câmara do que Lira precisava dele.

Como mostrou a Folha, o chefe do Executivo manteve o estilo de trocas nas pastas de 2003, colocando negociadores do governo em situações de saia justa com partidos. As semanas que antecederam a oficialização foram marcadas por especulações.

Os nomes de Fufuca e Silvio Costa Filho, por exemplo, já tinham sido confirmados há quase um mês pelo ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo.

O governo busca com a reforma ampliar a sua base de apoio no Congresso para aprovar propostas de seu interesse, em particular da agenda econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Lula já havia promovido duas outras trocas isoladas em seu governo.

No caso da demissão de Daniela Carneiro, a União Brasil pedia o ministério argumentando que não se sentia contemplada com ela, que seria uma indicação pessoal de Lula e que está em processo de desfiliação da legenda.

O outro ministro demitido foi o então chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias. Amigo de longa data de Lula, o militar deixou o governo após a divulgação de imagens do sistema de segurança do Palácio do Planalto que colocaram em xeque a atuação dele e de subordinados durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.

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