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Valderez Abbud

Pondero a Lula indicar uma mulher preta e tirar o STF da contramão do processo civilizatório

Lívia Sant'Anna Vaz preenche requisitos e tem compromisso inabalável com democracia

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Valderez Abbud

Procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo

Na discussão sobre as indicações ao STF, em face das vagas surgidas por força da aposentadoria de dois de seus integrantes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no exercício legítimo de suas atribuições, anunciou sua intenção em indicar pessoas sem a submissão a pressões sociais ou políticas.

Uma das vagas já foi preenchida e, agora, a ministra Rosa Weber deixa a corte, abrindo-se nova vaga. É neste contexto que pondero a Sua Exª., que pautou sua vida pelo compromisso de defender os segmentos sociais discriminados, a imprescindibilidade de indicar uma mulher preta para o STF.

Vivemos numa sociedade patriarcal, marcada pela assimetria e desigualdade de gênero, desequilíbrio que se torna mais agudo com relação às mulheres pretas, que sofrem dupla discriminação: de gênero e de cor.

O palácio sede do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília
O palácio sede do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília - Gabriela Biló - 3.mai.22/Folhapress

Último país da América a abolir a escravidão, o racismo é um dos traços negativos da nossa cultura, cuja eliminação supõe um esforço coletivo e cotidiano.

A vaga possibilita a Sua Exª. a nobre tarefa de expressar, na escolha de uma mulher preta, o senso ético da comunidade, reforçando o sentimento de justiça das pessoas, e como forma de reparação histórica à população negra.

Na atual composição do STF, há duas mulheres e nove homens, todos brancos.

Essa desproporção não se compatibiliza com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, menos ainda com o Estado democrático de Direito, visto que a comunidade jurídica está repleta de mulheres pretas de "ilibada reputação e notável saber jurídico", o que torna injustificável a ausência delas no STF.

Caso contrário, chegaremos a triste conclusão de que o STF caminha na contramão do processo civilizatório, mantendo composição com a expressiva maioria de homens brancos.

É neste contexto que destaco o nome de Livia Sant´Anna Vaz, mulher preta, nordestina, escritora, mestra pela Universidade Federal da Bahia e doutora pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, promotora com marca no combate ao racismo e à intolerância religiosa, especialista em estudos afro-latino-americanos e caribenhos, figurando entre as 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo.

Com história profissional e política marcada por liderança em lutas sociais, a presença de Lívia no STF certamente contribuirá para combater com consistência o racismo estrutural que permeia nossa sociedade.

Mulher negra, usando roupa branca rendada e turbante dourado. Ela está com feição séria e olha para a câmera
Lívia Sant'Anna Vaz, promotora de Justiça do MP-BA e doutoranda em ciências jurídico-políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - Arquivo pessoal

Em seu primeiro mandato, o presidente da República indicou um homem negro para integrar o STF, sinalizando seu apoio aos segmentos discriminados no Brasil. E agora está em suas mãos reafirmar esses princípios e ir além: indicar uma mulher preta, parcela que compõe 28% da sociedade, e que ainda são cruelmente discriminadas e excluídas.

São essas as ponderações que faço para que nosso presidente considere a nomeação de Livia Sant´Anna Vaz para o Supremo Tribunal Federal, mulher preta que, além de ilibada reputação e notável saber jurídico, também preenche dois requisitos indispensáveis para o exercício da função: compromisso inabalável com a defesa dos direitos humanos e amor pela democracia.

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