O ataque do Hamas contra Israel neste sábado (7), o pior registrado em 50 anos, precisa ser condenado e não se justifica, mas não pode ser visto como fato isolado e reflete a decisão de governos israelenses de deixarem de lado o processo de paz nos últimos anos, afirma o ex-chanceler Celso Amorim.
Assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Amorim reitera diversas vezes que o ataque a civis sempre tem que ser condenado, lastimado e não se justifica. "Mas não pode ser visto como um fato isolado", diz. "Vem depois de anos e anos de tratamento discriminatório, de violências, não só na própria Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia."
Ele cita como exemplo ofensiva de Israel em julho no campo de refugiados de Jenin, em ação que deixou ao menos oito palestinos mortos e 50 feridos na maior incursão do país contra o território da Cisjordânia ocupada em quase duas décadas.
"Isso não justifica, volto a dizer, mas o que eu vejo é que o resultado dessa atitude, do aumento dos assentamentos israelenses, é a dificuldade de avançar no plano de paz", afirma.
Na avaliação do ex-chanceler, a falta de compreensão de Israel de que era necessário fazer concessões e reconhecer o legítimo direito do povo palestino acabou criando a atual situação.
"Porque depois de uma importante conferência, que foi a de Anápolis, havia perspectiva de paz. Não seria fácil, nós todos sabíamos, mas havia perspectiva de paz", afirma. "Infelizmente, os governos que vieram depois, em Israel, deixaram de lado o processo de paz, fizeram vários ataques a Gaza, aumentaram os assentamentos, e tudo isso acabou gerando essa situação."
Amorim afirma que o conflito atual acaba deixando cada vez mais distante a linha defendida pelo governo, de dois Estados vivendo pacificamente lado a lado. "O que acabou de acontecer é apenas uma demonstração, grave, com consequências, do que acontece pela perda da esperança na paz", diz.
O ex-chanceler também argumenta que a mera repressão não resolve. "Compreendo a dor das famílias no momento que há um ataque como esse, mas, se a gente quer resolver, não adianta querer ver isso como um fato isolado."
O assessor especial da Presidência diz ainda acreditar que os brasileiros que estão no local conseguirão ser retirados pelo governo. "Quando eu era ministro, na época do governo Lula, nós tiramos 3.000 brasileiros do Líbano. Claro que cada caso é um caso, terá dificuldades específicas, mas eu acho que os brasileiros serão atendidos."
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