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João Campos se une a ex-líder de Bolsonaro e incomoda alas do PT em Pernambuco

Aliança do prefeito do Recife com clã Coelho provoca reações no partido de Lula

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Recife

Uma nova articulação do prefeito do Recife, João Campos (PSB), uniu na mesma gestão da capital pernambucana o PT e o grupo político do ex-senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), ex-líder do governo Bolsonaro.

Um dos filhos de Fernando Bezerra, o deputado estadual Antonio Coelho (União Brasil) assumiu a Secretaria de Turismo da cidade, por indicação do irmão, o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), derrotado na disputa para o Governo de Pernambuco em 2022.

O movimento gerou incômodo em alas do PT, como no entorno dos senadores Humberto Costa e Teresa Leitão. Entretanto o partido não ensaia rompimento e seguirá ocupando cargos na prefeitura.

Novo secretário de Turismo do Recife ao lado do prefeito João Campos
Novo secretário de Turismo do Recife, Antonio Coelho, ao lado do prefeito João Campos - - Marlon Diego - 22.set.23/Divulgação Prefeitura do Recife

No governo Bolsonaro, Bezerra Coelho indicou um aliado para o comando da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) na superintendência de Petrolina. A estatal é alvo de investigações por licitações afrouxadas, superfaturamentos e corrupção. A companhia escoa verbas de emendas parlamentares em obras de pavimentação e maquinários.

O governo Lula (PT) manteve a fórmula de Bolsonaro de usar as indicações para a estatal em troca de apoio político no Congresso Nacional. No caso de Petrolina, a chefia passou para as mãos do PT.

Em 2022, Miguel, Fernando e Antonio Coelho apoiaram a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o ex-senador foi líder por três anos no Senado.

O ex-parlamentar integrou a tropa de choque na defesa do governo Bolsonaro na CPI que apurou, em 2021, ações e omissões durante a pandemia de Covid-19. Já o prefeito é apoiador de Lula.

Apesar da divergência em 2022, o fator político que une os dois grupos é a oposição à governadora Raquel Lyra (PSDB), que teve o apoio de Miguel no segundo turno da eleição estadual de 2022, enquanto o PSB de João Campos apoiou Marília Arraes (Solidariedade).

Após ser vitoriosa, Raquel Lyra chegou a convidar Miguel Coelho para fazer parte do governo, mas o ex-prefeito de Petrolina entendeu que o espaço oferecido não estava à altura do grupo. Aliados de Miguel acreditam que foi proposital a proposta de Raquel, para que Coelho fosse praticamente forçado a recusar.

João Campos, inclusive, disse que "não tem medo de sombra", ao citar a aliança com os Coelhos, no discurso de posse do novo secretário. A fala foi vista como recado à governadora Raquel Lyra.

Desde então, Raquel Lyra não fez novos acenos ao clã Coelho. Antonio Coelho, novo secretário municipal, fez críticas a projetos do governo na Assembleia Legislativa.

A aliança deverá ter implicações nas eleições de 2024 no Recife e no pleito estadual de 2026. Com a reaproximação dos Coelhos com o PSB após sete anos, João Campos praticamente sela o apoio da União Brasil à sua candidatura à reeleição.

O prefeito também é aliado de Luciano Bivar, presidente nacional do partido. Com isso, tenta isolar na União Brasil o deputado federal Mendonça Filho, rival do PSB. Além disso, João Campos conta com apoios de PDT e Republicanos e tenta consolidar o do PT, que tem duas secretarias no município.

Em 2026, o clã Coelho deverá ter uma vaga na chapa majoritária a ser apoiada por João Campos.

Se o prefeito for candidato a governador, Miguel Coelho pode ocupar uma das vagas para a disputa do Senado. Outro cotado para a majoritária é o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que quer ser candidato a senador.

Essa movimentação gerou incômodos no PT pernambucano. O senador Humberto Costa reclamou da aliança de João Campos com o clã Coelho e disse que o partido não foi ouvido pelo prefeito.

"Estranhei bastante. Tenho uma boa relação com Fernando Bezerra, mas temos divergências muito grandes com o grupo político que ele lidera. Foi uma aproximação que se deu sem que atores que estão com o PSB na prefeitura tenham sido ouvidos. O PT não foi chamado para essa discussão, para dizer o que acha, se é bom ou não", diz o petista.

Interlocutores da senadora Teresa Leitão, outra liderança do PT no estado, também dizem que ela ficou insatisfeita. A parlamentar não se manifestou publicamente sobre o assunto.

Questionado sobre a reação da base aliada, o prefeito João Campos lembrou as alianças de Lula com segmentos que não apoiaram a sua candidatura em 2022 para assegurar a governabilidade no Congresso.

"A gente fez uma aliança seguindo os ensinamentos do presidente Lula. Eu aprendi a fazer política juntando forças para poder ter um projeto que entregue mais qualidade de vida às pessoas. Então, é assim que a gente vai seguir fazendo", afirmou.

Grupos do PT avaliam que há uma tentativa do prefeito de se fortalecer e isolar a legenda de Lula. Por outro lado, o presidente do PT no Recife, Cirilo Mota, compareceu à posse de Antonio Coelho e discursou. Afirmou que é hora de pensar nos projetos para o Recife. Ele não faz parte dos grupos internos dos dois senadores no PT.

O presidente estadual do PT, Doriel Barros, disse dias atrás que o partido tem Humberto Costa como pré-candidato a governador em 2026. O senador, porém, disse que será candidato, mas ainda não sabe se a governador ou à reeleição ao Senado.

O acordo com João Campos também prevê que o PSB apoiará a reeleição do prefeito de Petrolina, Simão Durando (União Brasil), ex-vice de Miguel Coelho.

Em 2022, Miguel Coelho fez críticas ao PSB durante a campanha para o governo estadual. Afirmou que o partido "é bom de desculpa e mimimi". Questionado sobre a mudança de posição, ele disse que "o que atrasava o PSB já deixou o partido", em referência ao ex-governador Paulo Câmara, atual presidente do Banco do Nordeste.

A vaga que Antonio Coelho ocupou na Secretaria de Turismo foi aberta após o rompimento do PSD com João Campos. O partido, comandado no estado pelo ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, deixou a pasta e optou por aderir ao governo de Raquel Lyra, em revés para o prefeito da capital, que reagiu com a aliança com o clã Coelho.

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