Lula assume falha por derrota no Senado e culpa partidos por redução de mulheres no governo

Presidente fala em pedir voto no Congresso e afirma que PP e Republicanos têm direito de reivindicar comando da Caixa

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Brasília

O presidente Lula (PT) assumiu nesta sexta-feira (27) parte da culpa pela rejeição no Senado ao seu indicado para assumir a DPU (Defensoria Pública da União), por não ter atuado na articulação política para garantir a aprovação do nome, em uma derrota emblemática sofrida pelo governo no Congresso Nacional.

O mandatário também reconheceu que fez um acordo com PP e Republicanos, para a entrada dessas siglas no governo, argumentando que "precisava desses votos" no Legislativo.

Lula, por outro lado, buscou se esquivar da cobrança por estar reduzindo a quantidade de mulheres no primeiro escalão do governo. O presidente culpou os partidos por não indicarem mulheres para os postos e acrescentou: "não posso fazer nada".

Após o governo ter identificado desgaste com viagens dele ao exterior em 2023, o petista também disse que 2024, ano de eleições municipais, será "o ano inteiro de viagem por estados brasileiros".

Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira, na cerimônia de posse do novo presidente do STF, ministro Luis Roberto Barroso - Pedro Ladeira-28.set.23/Folhapress

O mandatário, que completou 78 anos de idade nesta sexta, participou de café da manhã com os jornalistas que trabalham na cobertura da Presidência da República.

Ele foi questionado sobre a postura do Congresso, em particular sobre a força atual do Legislativo, a relação com outros Poderes e seu vínculo com o bloco político conhecido como centrão.

O presidente então citou o caso da derrota de seu indicado para a DPU, Igor Roque, afirmando que ele deveria ter participado da articulação, mas ainda se recuperava das cirurgias no quadril e nas pálpebras.

"Eu não fiz negociação com o centrão, eu não converso com o centrão, vocês nunca me viram fazer reunião com o centrão. Eu só converso com partidos políticos que estão aí legalizados, que elegeram bancadas. Portanto com eles é que eu tenho que conversar, para estabelecer um acordo", disse Lula.

Na última quarta (25), com 38 votos contrários e 35 favoráveis, Igor Roque não conseguiu ter sua indicação aprovada no Senado para o cargo de defensor público-geral federal.

Em outro momento do encontro com jornalistas, Lula reconheceu que a entrada no primeiro escalão do governo do PP e do Republicanos, ligados ao centrão, envolveu um acordo e afirmou que é direito dos partidos reivindicar o comando da Caixa Econômica Federal.

A declaração ocorre na semana da demissão de Rita Serrano do comando da Caixa para abrigar Carlos Antônio Vieira Fernandes, um nome sugerido pelo presidente da Câmara e líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL).

"Eu fiz um acordo com o PP, com Republicanos, acho que é direito deles, que gostariam de ter espaço com governo, indicar uma pessoa que esteve na Caixa, já foi da Caixa, já teve no governo da Dilma, já foi do Ministério das Cidades, uma pessoa que tem currículo para isso. E eles [os partidos] juntos têm mais de 100 votos, eu precisava desses votos para continuar o governo", disse Lula.

O presidente, que tem uma base frágil no Congresso e durante a campanha eleitoral fez fortes críticas ao centrão, tem adotado a chamada relação do toma lá dá cá com o Legislativo —com entrega de cargos e verbas aos partidos em troca de votos em projetos de interesse do governo.

Nas horas seguintes à demissão de Rita Serrano, a Câmara destravou a votação da proposta de taxação de offshores e de fundos de super-ricos com amplo apoio do centrão. O texto, que se arrastou nas últimas semanas em meio à pressão do grupo para conseguir mais espaço no governo, foi aprovado por 323 votos a 119.

Em entrevista à Folha, em setembro, Lira afirmou que o comando da Caixa fazia parte do acordo para a entrada do centrão no governo. Após a entrevista, integrantes do governo, como o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), negaram que o banco estivesse incluído.

Lula também foi questionado sobre a representatividade de mulheres no seu governo. Além da demissão de Rita Serrano, já haviam sido demitidas do governo as ministras do Esporte, Ana Moser, e do Turismo, Daniela Carneiro. Todas foram substituídas por homens.

O governo teve início com um recorde de mulheres nos cargos de primeiro escalão, com 11 vagas ocupadas, para um total de 37 pastas. Agora há um total de 38 ministérios, mas apenas 9 ministras.

Apesar de ser responsável pela nomeação dos ministros, o presidente culpou os partidos por não manterem mais mulheres entre seus quadros e por não as indicarem para comporem o governo.

"Acontece que, quando você estabelece uma aliança com um partido político, nem sempre esse partido tem uma mulher para indicar. Mas isso não quer dizer que eu não posso, no governo, tirar o homem e colocar mulher. Eu ainda posso trocar muita gente", disse.

"Eu lamento, porque o que eu quero fortalecer no governo é passar a ideia de que a mulher veio para a política para ficar", prosseguiu. "Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não tem mulher, eu não posso fazer nada."

A saída de Rita Serrano ocorreu no dia que o governo federal lançou a iniciativa Brasil sem Misoginia, em evento com a presença de ministros e ministras e também de Janja. A primeira-dama e ministras que estavam no evento foram questionadas sobre a queda no número de mulheres do governo, mas silenciaram.

Lula também afirmou que pretende viajar no próximo ano para inaugurações de obras do governo federal em diferentes estados brasileiros. A série de agendas pelo Brasil vai acontecer no ano em que ocorrerão eleições municipais.

Lula disse que vai cumprir o protocolo para a recuperação das cirurgias no quadril e nas pálpebras e por isso não vai viajar antes do fim de novembro. Sua primeira agenda fora de Brasília será a participação na COP28, que será realizada nos Emirados Árabes Unidos.

Lula acrescentou que pretende parar na volta para uma visita à Alemanha. Além disso, deve também realizar uma viagem, no caminho de ida para a COP, na Arábia Saudita, para realizar uma apresentação do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e assim tentar atrair investimentos.

"A minha primeira viagem vai ser a viagem para a COP28, nos Emirados Árabes. Depois passo na Alemanha, tem debate entre empresários brasileiros e alemães. Antes de chegar nos Emirados, dia 30, Estou pensando em passar na Arábia Saudita, para fazer uma apresentação do PAC a empresários e investidores", afirmou.

"Depois, quando retornar ao Brasil, vou começar a viajar o Brasil. Ano que vem vai ser ano inteiro de viagem por estados brasileiros, lançamento de obras do PAC. Inauguração de obras do PAC, do Minha Casa, Minha Vida, escolas técnicas, institutos federais, lançar novas universidades neste país", completou.

O presidente retomou na segunda-feira (23) os despachos presenciais no Palácio do Planalto, após um período de recuperação das cirurgias a que foi submetido no dia 29 de setembro. Ele passou duas semanas sem receber visitas presenciais, mas seguiu despachando virtualmente com ministros e assessores.

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