Descrição de chapéu Governo Tarcísio chuva

Bolsonaristas constrangem Tarcísio no pós-apagão, mas Governo de SP minimiza

Fabio Wajngarten desponta com questionamento a privatizações, enquanto governador quer vender a Sabesp

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São Paulo

Os questionamentos a privatizações por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) abriram uma nova frente de constrangimento para o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem como principal bandeira a privatização da Sabesp. Integrantes do Governo de São Paulo, no entanto, dizem que a venda da estatal não está ameaçada.

As ressalvas à privatização da Sabesp têm como pano de fundo a crise da Enel, empresa privada que fornece energia elétrica em São Paulo desde 2018. Nesta terça-feira (7), 200 mil imóveis seguiam no escuro depois do temporal de sexta-feira (3).

Os bolsonaristas Fabio Wajngarten e Tarcísio de Freitas durante compromisso de campanha, em 2022, em São Paulo - Zanone Fraissat - 21.out.22/Folhapress

Principal voz bolsonarista que passou a contestar privatizações, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, afirmou à coluna Mônica Bergamo, da Folha, que "a Sabesp é um ativo estratégico do país" e que "existe uma direita preocupada com a soberania do Brasil".

Como mostrou a coluna, um grupo de economistas e advogados bolsonaristas quer barrar a privatização da Sabesp por meio do STF (Supremo Tribunal Federal).

Wajngarten, que é cotado para ser candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), criticou duramente a privatização da energia "a qualquer custo" e disse estar ao lado do povo.

"Em teoria a privatização é maravilhosa. Bairros de São Paulo estão no escuro há mais de 30 horas. Se com energia elétrica o transtorno é enorme, imaginem se a companhia de água cair nas mãos de grupos tão incompetentes quanto os de energia…", publicou.

O discurso que coloca privatizações em xeque ganhou adeptos entre os bolsonaristas, como o vereador da capital Fernando Holiday (PL) e o deputado federal Filipe Barros (PL-PR). O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) também defendeu regras rígidas para as privatizações. O movimento, porém, é minimizado por auxiliares de Tarcísio.

Outros políticos bolsonaristas ouvidos pela reportagem negam haver um novo racha entre o governador e o campo da direita conservadora, como aconteceu na discussão da Reforma Tributária.

Aliados de Tarcísio afirmam que os tuítes de Wajngarten não causam preocupação e que se trata mais de um movimento de rede social do que de uma oposição política à venda da Sabesp, já que a base de governo na Assembleia é favorável à privatização.

Para eles, não há divergências —tanto o ex-secretário como o governador têm a mesma preocupação de que as privatizações não penalizem os mais pobres. E lembram que, no caso da Sabesp, o governo ainda terá 30% de participação e assento no conselho administrativo.

Mas, nos bastidores, interlocutores do governador dizem ver incoerência nos bolsonaristas antiprivatização, já que o ex-presidente implementou uma agenda privatista no governo federal.

Há ainda quem veja na postura de Wajngarten uma jogada política isolada, uma tentativa de fustigar Tarcísio, uma vez que o ex-secretário não obteve do governador o espaço pretendido no Palácio dos Bandeirantes, algo que ele nega.

Nesse sentido, a ala bolsonarista ligada a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, não endossa o discurso de Wajngarten e, pelo contrário, defende as privatizações. Políticos próximos do ex-presidente ouvidos pela Folha dizem duvidar que o ex-secretário tenha o aval de Bolsonaro ao se opor a Tarcísio.

Procurado pela reportagem, Wajngarten diz que não fala em nome de Bolsonaro e reforça que não criticou especificamente Tarcísio ou a privatização da Sabesp. Ele afirma que sua bandeira é a proteção de idosos, crianças com necessidades especiais e pequenos comerciantes que não podem ficar sem energia elétrica.

Em rede social, Salles, que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou nesta terça que "tem que privatizar tudo", porém com "regras claras, monitoramento e fiscalização rígidas". "Coisa na mão do poder público é sinônimo de ineficiência, aparelhamento e roubalheira", completa.

O deputado afirmou à reportagem que sempre foi a favor de privatizações, inclusive a da Sabesp. "Privatização é coisa séria e tem que ser feito da maneira correta", diz. Para ele, a falha da Enel não se deve à privatização, mas à falta de fiscalização por parte da prefeitura.

Já Holiday publicou que "privatização em si mesma não é necessariamente boa, principalmente em setores estratégicos". "Se for para fazer o que fizeram com a energia elétrica em SP, melhor manter o serviço público", completou.

O vereador disse à Folha que "o bolsonarismo se coloca contrário à perda do controle do Estado sobre serviços essenciais". Na sua opinião, contudo, essa postura não fustiga Tarcísio junto à sua base.

Holiday nega haver qualquer racha ou oposição da direita em relação ao governador, mas pondera que a discussão sobre modelos de privatização é natural e existia também no governo Bolsonaro.

"O próprio governador tem essa preocupação, porque ele declarou que o modelo de privatização da Sabesp vai ser diferente. Eu não sou necessariamente contra [a privatização da Sabesp], mas o modelo do sistema energético não deve ser seguido", diz.

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