Descrição de chapéu STF

Atos bolsonaristas contra indicação de Dino ao STF têm faixas contra Moraes e vaias a Janja

Em São Paulo, ato ocupou um quarteirão na avenida Paulista; houve manifestação também em Brasília

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Brasília

Manifestantes bolsonaristas voltaram a se reunir, neste domingo (10), desta vez para protestar contra a indicação do ministro Flávio Dino (PSB) para o STF (Supremo Tribunal Federal). Em São Paulo e em Brasília, os atos tiveram adesão distante da registrada em manifestações promovidas após a eleição de 2022 —a Polícia Militar não divulgou estimativa de público nas duas cidades.

Os protestos foram marcados pela ausência de alguns parlamentares bolsonaristas, que acompanhavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no evento da posse de Javier Milei, presidente eleito da Argentina. Já um grupo de senadores da direita chegou a participar dos dois atos, na capital federal pela manhã e na avenida Paulista, à tarde.

Manifestantes na av. Paulista contra indicação do ministro Flávio Dino ao STF - Eduardo Knapp/Folhapress

Num vídeo gravado para convocar os protestos, bolsonaristas como Carla Zambelli (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG), além do pastor Silas Malafaia, pediam que o Senado vetasse a indicação de Lula (PT) para o Supremo.

Dino e o procurador Paulo Gonet, indicado por Lula à PGR (Procuradoria-Geral da República), serão sabatinados simultaneamente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado na próxima quarta (13). A expectativa é que a análise em plenário ocorra em seguida, no próprio dia 13 ou no dia seguinte, 14.

Os atos deste domingo também tiveram como mote a memória de Cleriston Pereira da Cunha, réu pelos ataques de 8 de janeiro que morreu no Complexo Penitenciário da Papuda. No domingo passado (26), os bolsonaristas já fizeram uma manifestação na avenida Paulista para homenagear Cleriston.

Terceira convocação consecutiva de grupos conservadores, depois de 26 e 15 de novembro, as manifestações deste domingo fazem parte de um movimento de retomada das ruas pela direita desde os ataques golpistas de 8 de janeiro.

Por enquanto, porém, o resultado tem sido tímido. O próprio Bolsonaro já admitiu que o medo tem inibido parte da militância —punições aos participantes do 8 de janeiro e decisões do STF são apontadas como causas do temor de voltar às ruas.

Nas redes sociais, políticos de esquerda debocharam dos atos. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) disse ter sido "um vexame" que reuniu apenas "meia dúzia de gado pingado" em Brasília.

Movimentos de direita marcaram manifestações em capitais e cidades de 15 estados e no Distrito Federal, segundo o UOL. Em São Paulo, o ato aconteceu de 14h às 17h, na avenida Paulista, que fica aberta para os pedestres aos domingos, e ocupou um quarteirão, entre a rua Peixoto Gomide e o Masp.

No carro de som, revezavam-se ativistas, bolsonaristas de menor expressão e alguns artistas como o cantor Eduardo Araújo. Os discursos giravam em torno do argumento de que Dino, por ser comunista, não teria condições de assumir uma vaga no Supremo. Outro assunto recorrente foi a defesa dos presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro —parentes e advogados estavam entre os oradores.

Embalado por um jingle que repetia "Dino não, Dino não", o ato teve as já tradicionais faixas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e a favor do voto impresso.

O deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL-SP) discursou contra o centrão e pediu mais protestos. Segundo ele, o Executivo e o Judiciário estão formando "um plano ditatorial para o Brasil".

O senador Magno Malta (PL-ES) fez um discurso com críticas a Dino pelo comunismo e mencionou Cleriston, comparando-o a Vladmir Herzog, morto na ditadura militar, ao citar que ambos morreram na tutela do Estado. No discurso, Malta referiu-se a Herzog como um advogado que desapareceu —ele era jornalista e foi assassinado pela ditadura nas instalações do DOI-Codi.

Malta disse ainda que a imprensa trataria os protestos deste domingo como um fiasco, mas que eles valeriam mesmo que reunissem apenas duas pessoas.

Já o senador Eduardo Girão (Novo-CE) citou uma "guerra espiritual" e criticou Dino por supostamente usar a magistratura para o sindicalismo. "Não podemos ter um comunista a mais dentro do STF".

O senador Jorge Seif (PL-SC) aproveitou o protesto para fazer campanha do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) para a Prefeitura de São Paulo. "O atual prefeito de São Paulo não quer votos dos patriotas para se reeleger? Cadê ele?, disse. "São Paulo vai votar em Ricardo, mas Ricardo Salles", disse.

Salles, por sua vez, não foi visto pela reportagem no protesto. A pré-candidata do Novo à prefeitura, Marina Helena, publicou uma foto dela no caminhão de som.

Seif também se referiu a Rosângela Silva, a Janja, com ofensas, depois que a primeira-dama insinuou que Bolsonaro seria preso.

Em Brasília, o ato na Esplanada dos Ministérios aconteceu pela manhã. Pessoas de diferentes idades com roupas em verde e amarelo ficaram sob sol forte e temperatura ao redor de 30 graus para participar do evento. A quantidade de manifestantes foi visivelmente menor que em convocações do ano passado.

No caminhão de som, diferentes parlamentares discursaram tendo como mote principal o voto contrário a Dino —mas também foram alvos Lula, Janja e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A primeira-dama chegou a ser vaiada.

Fizeram uso da palavra os senadores Seif e Malta, além de Izalci Lucas (PSDB-DF) e Márcio Bittar (União-AC) —sendo que este último defendeu anistia para Bolsonaro. Também discursaram os deputados Gustavo Gayer (PL-GO), Delegado Caveira (PL-PA) e Nikolas Ferreira (PL-MG) —este leu uma lista de senadores pró-Dino e pediu vaias para cada nome citado.

Ao menos 50 policiais militares trabalharam na segurança da manifestação. Eles formaram uma linha de contenção preventiva entre os militantes e o Congresso Nacional, com auxílio de uma barreira de grades de metal. Não houve tentativas de passagem pelo bloqueio.

Em alguns momentos, os organizadores ressaltavam que aquele era um protesto ordeiro —após as manifestações bolsonaristas terem ficado marcadas por violência e vandalismo, como em episódios registrados em dezembro de 2022 e no 8 de janeiro.

No alto do veículo, havia uma bandeira de Israel e uma faixa em prol da liberação do coronel Jorge Eduardo Naime, policial preso há mais tempo pelo 8 de janeiro sob acusação de omissão. Os organizadores, inclusive, pediram uma caixinha para bancar o Natal dos que continuam presos pelo episódio.

Como mostrou a Folha, as principais pautas usadas por bolsonaristas para levar as pessoas às ruas neste domingo expõem contradições desse campo político em relação a direitos humanos e democracia, além de uma visão controversa sobre os limites da liberdade de expressão.

Bolsonaro, que já tratou temas relacionados a direitos humanos como "direitos de bandidos" e "esterco da vagabundagem", apoiou a convocação de ato em homenagem a Cleriston há duas semanas.

Ao longo deste ano, bolsonaristas promoveram em 7 de setembro e 12 de outubro atos com bandeiras do conservadorismo. Em ambas as datas, concentrações em diferentes cidades tiveram público reduzido, baixa adesão da classe política e repercussão tímida.

Eles voltaram às ruas no feriado da Proclamação da República, em 15 de novembro, em protestos também esvaziados —em São Paulo, apenas um sentido da avenida Paulista foi bloqueado para o trânsito. Nesse dia, os atos foram afetados pela onda de calor.

No domingo passado, os manifestantes ocuparam as duas pistas da avenida Paulista na extensão de um quarteirão e meio.

Já em 2022, essas manifestações tiveram adesão superior, impulsionadas pela contestação do resultado das urnas, no golpismo incitado por Bolsonaro.

Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro já foi condenado duas vezes pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Primeiro pelos ataques e pelas mentiras relacionados ao sistema eleitoral. Depois pelo uso eleitoral dos festejos do 7 de Setembro do ano passado.

Bolsonaro está inelegível, proibido de disputar eleições por oito anos e ainda sob investigação pelo STF sob suspeita de ter sido autor intelectual dos ataques golpistas de 8 de janeiro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.