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Dino diz no Senado saber distinguir juiz de político e se esquiva sobre Bolsonaro

Indicado por Lula ao STF diz que adversários políticos terão o tratamento previsto em lei

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Brasília

Indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo presidente Lula (PT), o ministro Flávio Dino (Justiça), 55, afirmou nesta quarta-feira (13) em sabatina no Senado que não iria participar de "debate político" e que está confortável em sua "dupla condição".

"Claro que, quando o presidente da República me honra com a indicação para aqui estar, não vim aqui para fazer debate político, não me cabe no momento. Vim aqui apenas responder ao atendimento dos dois requisitos constitucionais: notável saber jurídico e reputação ilibada", disse Dino.

Dino foi sabatinado pelos senadores na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ao mesmo tempo que o procurador Paulo Gonet, indicado por Lula para a PGR (Procuradoria-Geral da República) —em formato inédito e superficial para os cargos. Ele foi aprovado na comi

Flávio Dino durante sabatina na CCJ do Senado - Gabriela Biló/Folhapress

Durante a sabatina, Dino reforçou que sabia distinguir o papel de juiz —ocupado por ele durante 12 anos— do de político —como deputado federal, presidente da Embratur, governador do Maranhão e, por fim, ministro.

"Não se pode imaginar o que um juiz foi ou o que um juiz será a partir da leitura da sua atitude como político. Seria como examinar um goleiro à luz da sua atitude como centroavante. É claro que são papéis diferentes", afirmou.

Logo no início da sessão, buscou enfrentar as principais polêmicas levantadas pelo núcleo bolsonarista, como as imagens do Ministério da Justiça em 8 de janeiro e a ida dele ao Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em março.

O ministro, no entanto, se esquivou de falar sobre o inquérito das fake news, relatado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Dino também não respondeu como pretende se posicionar em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em um primeiro momento, o ministro defendeu o princípio da presunção de inocência de forma genérica. Diante da insistência de senadores em relação a Bolsonaro, Dino respondeu que seus adversários políticos terão o tratamento previsto em lei.

"Vários aqui têm mencionado uma confusão entre adversário político e inimigo pessoal. Eu não sou inimigo pessoal de rigorosamente ninguém. Falam 'Ah, o Bolsonaro', etc. Eu almocei com o presidente Bolsonaro no Palácio do Planalto", disse.

"Se amanhã qualquer adversário político que eventualmente eu tenha tido, em algum momento, chegar lá, por alguma razão —e eu espero que não chegue—, evidentemente terá o tratamento que a lei prevê", completou ao responder Magno Malta (PL-ES).

Sobre o ataque aos Poderes, o ministro afirmou que todas as gravações externas do Palácio da Justiça foram entregues à CPI e que a maioria das câmeras internas era inútil porque o prédio não havia sido invadido.

O ministro se defendeu das críticas por faltar a comissões da Câmara dos Deputados mesmo tendo sido convocado: "Estive durante 29 horas e 30 minutos [na Câmara e no Senado]. Isso, claro, é uma prova de respeito às Casas parlamentares".

Em meio ao embate entre Congresso e Supremo, Dino ainda recorreu às credenciais de ex-governador para afirmar que sabe da importância da "legalidade dos atos administrativos". Segundo ele, a revisão pelo Judiciário deve ser excepcional.

O ministro mencionou a carta escrita por ele aos senadores em que prometeu atuar de "modo técnico e imparcial", se for aprovado para o STF, zelando pela Constituição e "pelas leis da nossa pátria".

Na tarde desta quarta, o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), abriu o sistema de votação para que os senadores votem a favor ou contra as indicações de Dino e Gonet.

O indicado de Lula ao STF disse ainda que "será muito bom" se tiver saúde aos 75 anos para ser candidato e voltar à política. A idade é o limite para a aposentadoria de magistrados. Atualmente, ele tem 55.

"O senhor [senador] prognostica que um dia eu vou voltar à política. Eu gostaria de compartilhar desse otimismo, porque a minha família precisa de mim, e se eu tiver essa saúde toda aos 75 para ainda ser candidato, será muito bom. Mas não é isso que está planejado, eu espero que Deus me dê vida até lá", afirmou Dino.

O indicado também recorreu a elogios do ex-presidente Michel Temer (MDB) e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), para lidar com o rótulo de comunista --foi filiado ao PC do B por 15 anos.

Durante o périplo pelo Senado em busca de votos, o ministro destacou sua experiência como juiz federal e chegou a dizer que nunca havia se afastado do mundo do direito, mesmo tendo passado 17 anos como político.

Desde que foi indicado, o ex-governador tentou conversar com o maior número de senadores possível —seguindo um conselho dado pelo próprio presidente e pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Mesmo com a pressão de setores da esquerda, Lula optou por indicar um homem —deixando Cármen Lúcia como única mulher na corte.

Sergio Moro cumprimenta Flávio Dino durante sabatina no Senado - Gabriela Biló/Folhapress

Colega de Dino como juiz federal, Sergio Moro (União Brasil-PR) disse que tinha problema apenas "com quem o indicou" —sem citar Lula. O senador poupou o ministro da Justiça de críticas, mas lembrou que o presidente deixou de indicar uma mulher para a vaga de Rosa.

"Teremos apenas a ministra Cármen Lúcia, e o presidente não conseguiu indicar uma mulher para o Supremo. O que é mais espantoso é que, dos nomes que eram ventilados, nenhum deles era de mulher", disse Moro.

O senador brincou com as críticas que recebeu nas redes sociais por ter sido fotografado em meio a risadas com o indicado: "Vossa excelência perguntou algo e eu achei graça e dei uma risada. Tiraram várias fotos e já viralizaram, como se isso representasse minha posição".

"Já deixei muito claro que tenho profundas diferenças com o atual governo, e vossa excelência faz parte do atual governo, mas não perderei a civilidade e acho que esse país precisa disso para diminuir a polarização", completou, sem revelar seu voto.

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